A história do setor florestal em Mato Grosso do Sul pode ser dividida em etapas bem definidas. Os primeiros plantios de eucalipto surgiram na década de 1970, impulsionados por incentivos fiscais e destinados principalmente à produção de carvão vegetal. Na década de 1980, o setor ganhou força com a chegada de empresas como a Chamflora. A partir de 2003, políticas estruturais e industriais trouxeram novo impulso à atividade.
Entre 2010 e 2025, a área plantada cresceu em média 11% ao ano, acompanhada da instalação de indústrias de base florestal, como fábricas de celulose e de painéis de madeira. Esse movimento trouxe inúmeros benefícios a uma região específica do Estado, formada por nove municípios: Três Lagoas, Selvíria, Inocência, Paranaíba, Água Clara, Ribas do Rio Pardo, Bataguassu, Brasilândia e Santa Rita do Pardo. Juntos, eles compõem a chamada Costa Leste, também conhecida hoje como Vale da Celulose.
Essa área foi definida pelo governo estadual como prioritária para o cultivo de florestas, com base em um zoneamento de aptidão que levou em conta dados edafoclimáticos, econômicos e sociais. O Vale da Celulose abrange aproximadamente 7,5 milhões de hectares, dos quais 1,7 milhão já está ocupado por florestas de eucalipto.
A região é caracterizada por pecuária de corte predominante, solos profundos e de baixa fertilidade, relevo plano, baixo teor de argila e uma precipitação média anual de 1.250 mm — condições ideais para o desenvolvimento da silvicultura.
Atualmente, a produção anual chega a 42 milhões de m³ de madeira, destinada principalmente às fábricas de celulose. Com os novos investimentos anunciados, estima-se que a área plantada aumente em 45%, alcançando 2,5 milhões de hectares e garantindo uma produção sustentada de até 81 milhões de m³ de madeira.
Desde a instalação do setor, os municípios da região apresentaram avanços expressivos em indicadores sociais e econômicos. A arrecadação de impostos e a geração de empregos de qualidade impulsionaram o PIB de Três Lagoas, que cresceu 230% entre 2010 e 2024. Nesse mesmo período, a taxa de desemprego no Estado caiu de 7,6% para 2,9%, enquanto a renda média do trabalhador aumentou 139% em valores nominais e 17% em termos reais (descontada a inflação).
O setor também teve papel decisivo nas exportações. Em 2024, os produtos florestais representaram 27% de toda a pauta de exportações do Estado do Mato Grosso do Sul, com um crescimento de 508% em relação a 2010.
Apesar disso, o uso do solo destinado à silvicultura ocupa apenas 4,3% da área total do Estado, permitindo a manutenção da produção de grãos, carne, cana-de-açúcar e outras culturas, além de respeitar integralmente o Pantanal Sul-Mato-Grossense.
Entretanto, o crescimento acelerado traz desafios sociais. A chegada de uma fábrica de celulose com capacidade para 2,5 milhões de toneladas/ano demanda cerca de 300 mil hectares adicionais de florestas plantadas e gera mais de 6 mil empregos diretos. Hoje, a região abriga aproximadamente 300 mil habitantes, mas os investimentos já previstos devem exigir:
• 49 mil novos trabalhadores;
• 18 mil novas moradias;
• 612 leitos hospitalares adicionais;
• 11 mil novas vagas escolares.
Além disso, estima-se que o fluxo migratório atraído pelo setor possa somar mais 140 mil pessoas, praticamente metade da população atual.
A grande questão que se coloca é: estão o Estado e os municípios preparados para atender a essa demanda e enfrentar os impactos que ela trará à vida das comunidades locais?

(1) Indústrias de Celulose
(2) Cidades
(3) Rodovia Pavimentada
(4) Rodovia Não Pavimentada
(5) Eucalipto
(6) Região do Pantanal