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Gabriela Procópio Burian

Diretora Global de Ecossistemas Agrícolas Sustentáveis da Monsanto

As-CP-17

O desenvolvimento sustentável
Apesar de não atuar diretamente na área florestal há algum tempo, a floresta plantada no Brasil, para mim, tem um valor especial: foi o setor que, por volta dos anos 1990 (e mesmo antes), no Brasil, acolhia dezenas de jovens sonhadores, recém-saídos da faculdade, prontos para reduzir o uso de recursos naturais e otimizar a produção florestal brasileira. Eu era uma dessas jovens! Impossível ser mais motivada ao vencer a barreira das entrevistas e superar perguntas de todos os tipos, incluindo como viabilizar uma mulher no campo (alguns, provavelmente, ainda se lembram dessa época).
 
Em 1995, após três anos de atuação no Brasil, trabalhei no Canadá com um grupo de diversos países otimizando sistemas para o setor florestal. Convivia diariamente com o espanto do setor florestal internacional diante da produtividade do setor florestal brasileiro. Mal sabiam dos desafios enfrentados internamente pelas empresas atuantes no Brasil.
 
Fato é que, apesar de todos os obstáculos, o setor organizou-se, desenvolveu-se e ainda liderou uma nova forma de atuação: com colaboração entre empresas concorrentes de maneira pré-competitiva para avanços mais significativos. 
 
O entendimento da oportunidade que o setor tem com relação ao País incluiu, em 2014, a histórica criação da “Coalizão Brasil, Clima, Florestas e Agricultura”, oferecendo uma contribuição factível para que a meta do Brasil encaminhada à Conferência de Clima de Paris (COP21), fosse ambiciosa e permitisse ao País assumir uma posição de liderança no esforço global de mitigação e adaptação às mudanças climáticas.

Hoje, essa Coalizão trabalha por uma economia de baixo carbono, dando início à implementação do compromisso do País através da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) de restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares, até 2030. A oportunidade de sinergia entre o setor florestal e as NDC, de acordo com o CEBDS – Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável, no estudo Oportunidades e Desafios da NDC brasileira para o Setor Empresarial, é significativa.

Segundo esse trabalho, outras atividades associadas a essas áreas podem aumentar ainda mais a lucratividade do reflorestamento. O retorno financeiro dos sistemas iLPF – Integração Lavoura, Pecuária e Florestas, associado à RPD – Recuperação de Pastagens Degradadas, pode ser de R$ 13 mil por hectare. A RPD é capaz de quadruplicar a produtividade de atividades pecuaristas e, em alguns casos, gerar um retorno sobre o investimento de 170%.

Partes dessas áreas, por exemplo, podem ser utilizadas para o atendimento da meta de aumento da participação de bioenergia sustentável na matriz energética brasileira. Finalmente, os investimentos em ações de mitigação, que reduzem as emissões de gases de efeito estufa – GEE, podem ter efeito positivo sobre as receitas futuras das atividades produtivas. Ou seja, a mitigação, nesses casos, tem um custo negativo, aumentando o lucro esperado quanto menor for a emissão.
 
Cabe, agora, fortalecer o trabalho conjunto do setor em direção a instrumentos financeiros, como incentivos à inovação tecnológica, financiamento de eficiência energética e emissão de títulos verdes (green bonds) que possam ser aproveitados por toda a cadeia produtiva (incluindo produtores ou prestadores de serviço). 
 
Vale lembrar que a contribuição do setor florestal vai além da área ambiental, contribuindo também, positivamente, com impactos sociais: globalmente 1,6 bilhão de pessoas, desde aquelas que dependem das florestas para sobreviver até consumidores de produtos florestais, estão ligadas ao setor florestal. 
 
E, mais uma vez, à frente, com o objetivo de ajudar empresas a entenderem, medirem, reportarem e tomarem decisões que beneficiem empresa e sociedade, o primeiro setor a lançar o Guia ao Protocolo de Capital Social (Social Capital Protocol), do World Business Council for Sustainable Development – WBCSD, foi o setor florestal. Com significativos exemplos de empresas brasileiras, o Guia demonstra o impacto social e apresenta boas práticas e desafios, inspirando outras empresas a seguirem a mesma jornada, integrando a medição dos impactos sociais (positivos e negativos) nos processos das empresas.    
 
Assim, o setor avança, contribuindo ambiental e socialmente para melhor resultado para empresas e sociedade, a despeito das limitações e da instabilidade da economia. A área florestal brasileira segue consolidando sua liderança no cenário global, avançando práticas e resultados que contribuem, de fato, para a sociedade como um todo. 
 
O desenvolvimento sustentável agradece.