A palavra inovação significa “ato ou efeito de inovar”. A própria etimologia da palavra aponta que inovação deriva do latim innovare, que significa incorporar, inserir o novo. Mas será que a inovação de uma década atrás é a mesma de hoje ou já se tornou obsoleta devido às novas tecnologias? O que motiva a busca pelo novo são as necessidades? Como podemos saber ou até mesmo antecipar essas necessidades quando falamos em manejo de florestas plantadas? Estes são questionamentos que desafiam qualquer entidade ou empresa de pesquisa na busca por soluções cada vez mais tecnológicas e que convirjam para as necessidades do silvicultor.
Como histórico mais recente das inovações da silvicultura, principalmente a do eucalipto no Brasil, analisamos que até o final da década de 1970 o manejo era baseado nos padrões agrícolas com atividades intensivas de preparo de solo e a queimada também era usual na redução de resíduos e no combate de plantas daninhas, sendo estas práticas consideradas grandes inovações à época.
Já na década de 1990, a partir de estudos acadêmicos e apoio de institutos de pesquisas e empresas florestais, o cultivo mínimo passou a ser incorporado no manejo silvicultural ao garantir mais conservação de solo em comparação à modalidade intensiva. Isso se deve à proteção edáfica, à ajuda na fertilização do solo a partir da ciclagem de nutrientes dos resíduos e ao auxílio do controle das plantas daninhas devido ao sombreamento do solo.
Essas novidades no manejo só foram possíveis com adaptações de maquinários e implementos agrícolas, garantindo maior eficiência nas atividades de silvicultura, culminando hoje em linhas exclusivas para uso florestal. À medida que apareciam necessidades em tornar o manejo mais eficiente e sustentável, as inovações surgiam, permitindo a evolução do setor.
Da mesma forma, houve a introdução dos defensivos florestais como ferramentas para substituírem as capinas manuais pouco eficientes, e reformas de talhões inteiros causados por pragas e doenças que devastavam os plantios. No período compreendido entre os anos 1980 e 2000, o glifosato foi, basicamente, a grande inovação que permitiu a realização da capina química, tornando mais eficientes os tratos que minimizavam a matocompetição. Dos anos 2000 em diante, ocorreram novos registros de produtos herbicidas indicados tanto para eucalipto quanto para pínus, com destaque aos pré-emergentes.
Ambos tão inovadores que possibilitaram a antecipação do controle da matocompetição, aplicando-os sobre o solo e evitando o desenvolvimento das plantas daninhas. Dentre os produtos, destacam-se os seletivos ao eucalipto, que permitem aplicação mesmo sobre as mudas, o que apresentou ainda mais melhoria ao rendimento operacional. A partir de 2010, o registro de produtos com combinações de ingredientes ativos aumentou o dinamismo do manejo; além disso, vale destacar também a chegada de herbicidas pré-emergentes com maior espectro de controle e com garantia de maior tempo sem a incidência da matocompetição, apresentando revolução na forma de manejo, garantia de maior segurança e redução da carga de operações no trato com plantas daninhas.
Os inseticidas que já participam do manejo florestal há algumas décadas permitem grande defesa aos ataques de pragas florestais, pois quando, foram registrados para o setor, representaram grande novidade ao garantirem segurança às florestas. Contudo, a disseminação de insetos, principalmente devido à globalização, aumentou o desafio de reduzir a incidência de insetos, haja vista que, além dos plantios em mosaicos com diferentes idades de floresta, clones e a manutenção de florestas nativas em áreas adjacentes aos plantios foram práticas aderidas para permitir tal redução.
Em paralelo, grandes esforços em pesquisa permitiram ainda a introdução de inimigos naturais também provocando redução da presença desses insetos. Portanto, o manejo integrado de pragas com todas essas alternativas foi e ainda continua sendo uma grande inovação.
Os produtos fungicidas, apesar de mais recentes, permitiram que florestas inteiras evitassem ser consumidas pela ferrugem do eucalipto e também nos viveiros contra as diversas doenças fúngicas. Outra grande solução para esses problemas foi a criação de híbridos mais resistentes e que garantissem produtividade e segurança por não serem susceptíveis. Tanto os inseticidas quanto fungicidas possuem alternativas biológicas, que, ao longo dos anos, vêm sendo desenvolvidas e ganhando seu espaço como parte integrante do manejo.
Outras inovações surgiram com a ascensão do uso de imagens aéreas, feita por veículos aéreos não tripulados ou satélites, o que possibilita nova forma de monitoramento, auxilia na tomada de decisões e antecipa ações no manejo florestal, além de possibilitar o uso racional de insumos e produtos dando abertura à silvicultura de precisão.
O uso de máquinas conjugadas com diferentes funcionalidades também é um avanço, pois promove a realização simultânea de diversos tratos culturais e inova à medida que os autopropelidos com aplicações em faixas muito maiores que as barras convencionais aumentam o rendimento de operações no campo. Há, também, implementos com tanques duplos ou sistemas de aplicação que não permitem a mistura de caldas, já que não existe um posicionamento legal claro quanto a esse tema.
Quando se fala de defensivos agrícolas e florestais, nem sempre se sabe da complexidade e lentidão do processo para criação de um produto. No início há uma extensa triagem dentre milhares de moléculas que identificam ingredientes ativos potenciais. Em seguida à identificação, são iniciados estudos toxicológicos e de resíduos, testes de formulação, e outros rigorosos crivos de aprovações, garantindo que essas moléculas sejam seguras ao meio ambiente e ao homem.
Estudos de tecnologia de aplicação e de campo vêm logo em sequência para garantir que a eficácia e seletividade para as culturas sejam aprovadas e submetidas às autoridades para registro, o que pode levar mais de cinco anos. Ou seja, ao longo de todo o processo, é necessário por volta de 15 anos para que um produto realmente inovador faça parte do manejo silvicultural.
Mas, afinal, como podemos garantir que, mesmo com todo este tempo de pesquisa e desenvolvimento, o produto ainda seja inovador ao chegar ao mercado? Para isso, é necessária estreita proximidade com o silvicultor para entender seu cotidiano, afinal, toda inovação na silvicultura surgiu da necessidade do profissional. Entender os gargalos no manejo, os riscos de introdução de novas pragas e buscar antecipar as tendências é imprescindível para buscar e desenvolver soluções inovadoras e sustentáveis.
A partir desse embasamento, devem-se buscar alternativas que sejam convergentes para as necessidades atuais e futuras para garantir produtos eficazes, sustentáveis e inovadores. No caso de defensivos, muito tempo é necessário para que esse processo de criação até o registro ocorra demandando recursos e entendimento de diversas frentes. Por isso, o conceito de rede se faz presente, pois engajar simultaneamente academia, institutos, empresas florestais e silvicultores é essencial para trazer tecnologia e garantir inovações no momento mais pertinente.