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Gilson Geronasso

Presidente da APRE

Op-CP-30

O caminho da inovação

O estado do Paraná tem cerca de 850.000 ha de florestas plantadas (aproximadamente 4% da área total do estado), sendo mais de 80% do gênero pinus. Possuímos uma das mais altas taxas de produtividade em crescimento, particularmente devido aos programas de pesquisa e de desenvolvimento de empresas, universidades, institutos de pesquisa e parcerias entre essas entidades.

O grande fator de atratividade do setor florestal no Paraná está na produção de madeira advinda das florestas de alta produtividade e do parque industrial instalado que contempla toda a cadeia produtiva. Altas produções, aliadas a um eficiente controle de custos, tornam as empresas do estado competitivas.

No entanto, indiscutivelmente, o Paraná precisa de maiores investimentos em pesquisa e desenvolvimento, especialmente na área de logística, visando criar uma rede de transporte que possa garantir custo baixo e segurança na entrega, ou seja, regularidade no transporte.

O setor florestal transporta para consumo – diferente da agricultura, que transporta para estoque –, e isso faz com que a rede de estradas para o transporte de toras seja intensamente utilizada, inclusive em períodos de clima adverso, pois os estoques dessa matéria-prima nas unidades industriais são pequenos; isso porque, economicamente, estoque é custo.

Para se ter uma malha de vias de transporte para toras, é preciso investimentos e trabalhos que envolvam as empresas, a academia e os governos municipais e estadual. Nesse sentido, a APRE iniciou as tratativas com o governo estadual, dentro de um modelo de readequação e recuperação de estradas vicinais, que deverão envolver a participação desses três atores.

O uso da madeira de floresta plantada na construção civil é um grande gargalo para o setor de base florestal, que necessita criar formas de estímulo para a utilização mais adequada de seus produtos, saindo, por exemplo, do uso de tábuas largas na fabricação de caixaria para concreto na construção, para o uso racional e mais nobre da madeira nas estruturas e nos modelos construtivos – que usam mais madeira e de forma mais inteligente.

Para tanto, pesquisa e desenvolvimento de processos têm sido realizados, e é certo que muito esforço ainda precisa ser feito para levar a tecnologia existente na academia e institutos de pesquisa para dentro das construções.

A APRE tem atuado fortemente nesse segmento, visando atingir o “cliente do nosso cliente”, buscando abrir mercado para o setor de madeira serrada de florestas plantadas. Com esse objetivo, estão sendo realizados ciclos de palestras junto com o Sinduscon-PR, para debater com profissionais de engenharia civil, arquitetos e empresas construtoras as vantagens e dificuldades do maior uso de madeira nas construções.

Também irá promover, em outubro de 2013, com a Universidade Federal do Paraná, um simpósio e uma feira sobre o incentivo do uso da madeira de floresta plantada na construção civil.

No campo da utilização da madeira sólida, a academia, empresas e associações precisam destinar mais trabalhos na normatização da madeira serrada de pinus. Um dos grandes entraves na utilização da madeira de pinus na construção civil é a falta de normatização, o que leva a dificuldades nos projetos, nas construções e no financiamento.

As empresas florestais estão constantemente desenvolvendo pesquisas, buscando novas tecnologias. O histórico acréscimo nos incrementos médios anuais, a biotecnologia empregada na produção florestal, o manejo integrado de pragas, a tecnologia empregada na colheita florestal, o desenvolvimento de novos produtos são evidências desse caminho.

Diversos casos comprovam a necessidade e o sucesso do desenvolvimento de pesquisas em parceria entre a iniciativa privada e instituições de pesquisa. A criação do Funcema - Fundo Nacional de Combate a Pragas Florestais, nascido em 1989, gerido pelas associações de empresas de base florestal do Sul do Brasil, com a fundamental participação da Embrapa Florestas, teve o foco inicial no controle da vespa da madeira, praga que, na época, preocupou imensamente os silvicultores e, atualmente, está controlada.

Essa iniciativa de parceria público-privada é um exemplo de grande sucesso reconhecido mundialmente. Hoje, o Funcema, com a Embrapa Florestas, atendendo a uma demanda da área produtiva, desenvolve programas de pesquisas relacionados ao controle de formigas cortadeiras, manejo do macaco-prego, entre outros, além de prosseguir com os trabalhos de monitoramento e controle da vespa da madeira.

A existência de alguns mecanismos financiadores de pesquisa, mesmo em estágio inicial, são de extrema valia para o incentivo à pesquisa e à inovação. A “Lei do Bem” (lei nº 10.973, de 2004), de que algumas empresas associadas a APRE já estão usufruindo, é um incentivo indireto que desperta grande interesse entre as empresas, pois possibilita o enquadramento das pesquisas realizadas para inovação dos processos e produtos nesse incentivo, além de estimular a presença de pesquisadores nas empresas.

A inovação e a tecnologia se configuram atualmente como o principal diferencial competitivo, principalmente no setor florestal, onde os custos se elevaram drasticamente, e os preços ficaram totalmente reprimidos nesses últimos anos, restando às empresas o caminho da inovação para a manutenção de suas posições. De qualquer forma, muita pesquisa e desenvolvimento precisam ser ainda implementados.

Os programas de hibridação trazem grandes vantagens, pois permitem agrupar, em um mesmo indivíduo, características desejáveis para determinados fins. O estado da arte de hibridação de pinus no Brasil é ainda incipiente, e muito esforço precisa ser empreendido nessa área. Assim, o setor florestal procura, ainda, que trabalhos nesse campo sejam bem desenvolvidos, para que algumas características sejam agrupadas.

Temos bons programas de pesquisa em melhoramento florestal, onde o crescimento volumétrico tem sido expressivo. Outras características precisam ser trabalhadas, como a qualidade de madeira em árvores jovem e adulta, representada pela densidade, para trazer maior resistência e consequente melhor utilização nos diversos produtos que utilizam madeira, tanto na forma picada (celulose, papel, chapas reconstituídas e energia) quanto para madeira sólida; outra característica importante na madeira para o mercado é a cor.

Também resistência ou tolerância a pragas e a doenças, para garantir que as produções sejam alcançadas nos programas de desenvolvimento florestal; temos a vespa-da-madeira, o pulgão do pinus, formigas cortadeiras e o macaco-prego. O controle e o manejo dessas pragas têm sido estudados pela Embrapa, estimulados pelas empresas florestais do Paraná e de Santa Catarina.

As técnicas de clonagem permitem reproduzir indivíduos com as características selecionadas e desejáveis, proporcionando um grande avanço à silvicultura de pinus. Poucos trabalhos têm sido realizados nesse campo, o que faz com que não se obtenham os ganhos de produção, assim como se tem com eucaliptos, por exemplo.

A clonagem de indivíduos puros ou híbridos pode trazer um novo e significativo avanço na produção florestal, um novo ciclo de incremento da produção, semelhante àquele que foi obtido com o melhoramento florestal tradicional, tema pelo qual o setor tem grande expectativa por expressivos avanços, com auxilio da academia e das instituições de pesquisas.

Outra área carente em pesquisa e tecnologia é a fertilização e a nutrição em pinus. Por certo, bons resultados poderão ser conseguidos para o aumento e a manutenção da produtividade. E, finalmente, considerando a importância do setor, que contribui com mais de 7% para o PIB do estado e tem importância socioambiental incontestável, é imprescindível que o governo estadual reconheça essa realidade e defina e implante uma política florestal sólida e eficiente.