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Edson Seizo Mori

Professor de Melhoramento de Plantas na UNESP

Op-CP-03

Melhoramento genético florestal: ousadia e sucesso

A população brasileira tem cobrado da sociedade científica florestal um posicionamento intelectual mais firme sobre a nossa silvicultura, especialmente em se tratando do setor de celulose e papel. Grande é a expressão nacional no assunto, a ponto da produtividade de madeira incomodar uma parcela de nossa sociedade. Os plantios de eucalipto são considerados florestas?

Eis uma questão que tenho levado aos meus alunos. Se considerarmos de modo simplório, floresta é conceituada como sendo um conjunto de árvores. Então, sob esta ótica, a eucalipticultura é uma floresta. No entanto, convenhamos, os plantios clonais de eucalipto, que o setor produtivo tem a ousadia de plantar, não podem ser considerados florestas em sua conceituação mais ampla, que seriam ecossistemas complexos, com grande exuberância de biodiversidade de espécies vegetais, animais e microorganismos, e suas inter-relações ecológicas e evolutivas.

Costumo dizer que os plantios clonais de eucalipto são plantios de madeira. Como outras culturas agrícolas, como a soja, a cana-de-açúcar, o trigo, o milho e outras. Os plantios clonais de eucalipto também têm incomodado os competidores internacionais de produtos florestais. A eucaliptocultura, no Brasil, produz uma barbaridade de madeira, cujo setor mostra tamanha competência que, em reuniões científicas internacionais, qualquer trabalho brasileiro é apreciado, com interesse, pelos estrangeiros.

O eucalipto foi introduzido como ornamental no início do século passado, em menos de cinco décadas. Graças ao nosso competente e pioneiro silvicultor, Navarro de Andrade, o eucalipto, no Brasil, saiu do estágio de plantas de jardins botânicos para um cultivo de sucesso, extremamente produtivo, fazendo com que o setor contribua com mais 4% do PIB nacional.

Nos anos 60, o eucalipto produzia uma média nacional de 12 a 15 m3 de madeira, por hectare ao ano, e os plantios mais recentes, dos grandes produtores, têm atingido produtividades médias em torno de 55 m3 de madeira, por hectare ao ano. Destas, podendo atingir patamares de produtividade de até 75 m3 de madeira, por hectare ao ano, nos ambientes mais favoráveis ao seu desenvolvimento.

Sob o ponto de vista biológico, representa uma performance de crescimento excepcional. Para compreendermos esta grandeza, nas regiões temperadas, onde se localizam as nações do primeiro mundo, as produtividades das plantações comerciais florestais são de aproximadamente 5 a 8 m3 de madeira, por hectare ao ano. O eucalipto, no Brasil, tem produzido de cinco a dez vezes mais madeira que a maioria dos países tradicionalmente florestais.

O crescimento da árvore é resultado da influência de inúmeros fatores ambientais e genéticos. A adequação do manejo silvicultural do eucalipto e a ousadia do melhoramento, oferecendo clones geneticamente superiores aos plantios em larga escala, possibilitaram esse avanço, na última década. Esta situação somente foi possível com seleção intensa de clones melhorados, em programas bem estruturados. Plantações clonais podem ser empreendimentos biologicamente arriscados se não estiverem alicerçadas por um bom programa de melhoramento genético.

Esses programas têm possibilitado até a inserção de genes de outros organismos em clones, para melhorar a adaptação e a qualidade da matéria-prima para fabricação de papel e celulose. Os projetos genômicos, como o Forests, financiado pela Fapesp e pelo consórcio de 4 empresas florestais, o Genolyptus, parcerias entre a Finep, Universidades, Embrapa e 14 empresas florestais, têm impulsionado os programas de melhoramento genético do eucalipto.

As possibilidades de obtenção de árvores geneticamente modificadas têm levantado grandes discussões no setor. Acreditamos que a transformação de plantas, quando usada com ética e responsabilidade biológica e social, pode oferecer grandes vantagens científicas. A silvicultura clonal intensiva, sem a base de um programa de melhoramento genético é, no mínimo, uma irresponsabilidade. Portanto, as grandes empresas florestais têm garantido este bom desempenho silvicultural, com uma base genética ampla, possibilitando acréscimos em ganhos e qualidades.

Os programas mais avançados utilizam a estratégia de melhoramento em nucleus breeding, facilitando o desenvolvimento de clones elites, em curtos períodos de tempo. Com a facilidade das técnicas de polinização controlada, da clonagem e do uso de seleções precoces, os programas de melhoramento genético de eucaliptos podem avançar uma geração, de 6 a 8 anos, praticamente o mesmo tempo consumido para se incorporar genes de qualidade, em culturas agrícolas anuais.

Os cruzamentos controlados possibilitam explorar melhor os cruzamentos híbridos dentro da espécie e, especialmente, entre espécies e selecionar os melhores clones e multiplicá-los milhões de vezes nas plantações comerciais, apresentando produtividades, qualidades e uniformidades excepcionais à indústria florestal, internacionalmente competitiva.

Naturalmente, temos problemas. Mas, permitam-me questionar. Ainda são claras, em minha memória, a citação de um grande mestre e amigo, que tive a oportunidade de conviver. Ele dizia que problema nada mais é que a oportunidade para vivenciar uma grande verdade e que, para você, ainda está em construção. O melhoramento genético está construindo as bases para que a silvicultura nacional possa ousar com a competência de nossos cientistas e continuar a ver o sucesso, que já é realidade, do empreendimento florestal.