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João Antônio Pereira Prestes

Diretor de Recursos Naturais do Grupo Jari

Op-CP-37

Há espaço para ideias, inovações e bem-estar

Desde recém-formado, trabalho no Grupo Orsa. Passei por diversos cargos, por várias mudanças e ricas lições. Experiências que estruturaram a trajetória de minha vida profissional. Hoje, faço a gestão dos negócios florestais do atual Grupo Jari, implantados nos estados de São Paulo, Pará e Amapá. O grupo iniciou suas atividades florestais em 1992, no sudoeste do estado de São Paulo, com uma floresta de pinus, para o abastecimento de uma indústria de papéis kraftliner.

No ano 2000, expandiu suas atividades, incorporando o antigo projeto Jari, na Amazônia, representado por uma grande reserva de floresta plantada de eucalipto dedicada à produção de celulose, além de uma imensa reserva de floresta nativa com expressivo potencial para manejo florestal. Hoje, nossas atividades florestais geram mais de 5.000 empregos.

Trabalhando para conciliar a complexa tarefa de crescimento com sustentabilidade, administrando as dificuldades impostas pelo mercado de madeira, celulose e papel, envolvendo os interesses de custos, qualidade e escala, conseguimos identificar algumas
excelentes oportunidades, dentre as quais se destaca o Fomento Florestal.

Nossa preocupação foi buscar estruturar um programa de fomento que fosse capaz de atuar como um instrumento de expansão das atividades florestais do grupo e, ao mesmo tempo, ser um gerador de soluções sociais e ambientais para as comunidades do entorno das nossas operações, com ênfase na recuperação de áreas já alteradas pelos agricultores e no fortalecimento da economia familiar no campo, por meio da introdução de uma nova cultura e atividade econômica complementar às culturas agroflorestais tradicionais.

Além dos benefícios econômicos diretos oriundos do cultivo de pinus e eucalipto pelas famílias de pequenos e médios produtores – a quem chamamos de parceiros –, são também beneficiadas as comunidades locais, direta e indiretamente envolvidas num leque de ações, como o cascalhamento de estradas e ramais municipais, bem como a sua manutenção permanente, a construção de pontes e bueiros – ações de grande utilidade para o escoamento da produção agrícola regional –, além do acesso à assistência técnica, à tecnologia e ao crédito rural, contribuindo para a integração do agricultor às políticas públicas e ao mercado.

No sudoeste de São Paulo, por exemplo, o Programa de Fomento Florestal da Marquesa, subsidiária do Grupo Jari, iniciado em 2001, com apoio do Bndes, já no primeiro ano, alcançou o plantio de 473 hectares de florestas de pinus. Hoje, o projeto dispõe de cerca de 18.000 hectares plantados, envolvendo 700 produtores rurais.

Essa iniciativa não somente aumentou a oferta de madeira na região, sem a agregação de novas áreas ao patrimônio da empresa, como também contribuiu diretamente para a redução do êxodo rural, em uma região predominantemente constituída por pequenas propriedades, a maioria delas com lotes inferiores a 50 hectares.

Além das mudas, com material genético selecionado e de alto padrão, a empresa coloca à disposição dos fomentados uma equipe para o acompanhamento do plantio e a prestação de assistência técnica durante a formação da floresta, além dos insumos e dos equipamentos necessários à produção florestal, garantindo investimentos no solo e agregando conhecimento e tecnologia aos pequenos empreendimentos rurais, não somente ao foco da produção florestal de pinus e eucalipto, mas também aos demais sistemas de produção tradicionais das famílias participantes do programa.

Para as pequenas propriedades, principalmente as de menos de 10 hectares, essa visão da empresa, em parceria com a equipe da Fundação Jari, leva o produtor a planejar economicamente o conjunto das suas atividades produtivas, além do pinus ou eucalipto, trabalhando outras oportunidades de negócios agroflorestais em paralelo à atividade florestal, promovendo projetos complementares de geração de renda, principalmente, no período dos primeiros 8 anos – fase de crescimento da floresta –, como o incentivo à produção de mandioca, milho, arroz, feijão, melancia, etc., e a pecuária para fins de corte (mais comum nos projetos de fomento do Norte) e para a produção de leite (características dos projetos do Sudeste).

A introdução de uma visão econômica pluriativa de planejamento incentiva produtos que tenham viabilidade e potencial de mercado – sem substituir culturas tradicionais complementares, principalmente a produção de alimentos. Falamos de sistemas agroflorestais ou agrossilvipastoris, já configurados no quadro das políticas públicas do Governo Federal para a agricultura familiar, ainda questionados no meio acadêmico e socioambiental, mas pouco vivenciados na prática da agricultura familiar.

Acredito que os programas sociais e de fomento florestal são a solução para a migração da teoria para a prática, no discurso oficial do consórcio lavoura, pecuária e floresta. Além dos benefícios econômicos do projeto, ele atua também como um agente indutor de educação ambiental e conservação dos recursos naturais no contexto das propriedades rurais participantes.

O projeto também possibilita ao pequeno proprietário rural uma conscientização sobre a necessidade de preservação ambiental, o que é feito no “dia a dia” e através de palestras e da condição obrigatória estabelecida em contrato pela Jari com os agricultores, de que o reflorestamento seja feito mediante a preservação das reservas de floresta nativa da propriedade, como prevê o Código Florestal Brasileiro.

Outro princípio do programa é que o reflorestamento seja feito em áreas já alteradas e menos nobres da propriedade para se constituir, de fato, num modelo aditivo de renda e de recuperação de áreas degradadas, e não um modelo substitutivo de outras atividades agropecuárias tradicionais e não menos importantes para a economia familiar rural e para o desenvolvimento regional de seus municípios. Essa visão foi a motivação principal que norteou a construção do Projeto de Fomento Florestal do Grupo Jari.

Além de proporcionar a oferta e regular o mercado de madeiras de pinus e eucalipto no futuro, promove a geração de renda segura, gera empregos na região, valoriza a pequena propriedade, fixa o homem no campo e, principalmente, desconcentra a renda, já que essa atividade deixa de ser explorada exclusivamente por grandes proprietários ou grandes empresas reflorestadoras.

Hoje, é notório o impacto que o programa está proporcionando nas regiões em que atua.  Para a empresa e seus acionistas, fica um sentimento de satisfação de poder participar de uma parceria em que todos ganham; em que testemunhamos pequenos produtores melhorando sua renda e conquistando efetiva e progressivamente sua independência financeira. São inúmeros os casos de sucesso.

No Sudeste, onde o programa já existe há mais tempo, a principal renda auferida pelos fomentados no momento é a extração da goma resina das árvores de pinus. Para avaliarmos o valor desse “negócio social”, o total de árvores em resinagem é de mais de 5 milhões. Considerando que cada árvore produz, no mínimo, 2 kg (podendo chegar até 6 kg) de resinas por ano, o total de produção mínima está atingindo a ordem de 10.000 toneladas. Ao preço atual de R$ 2.700,00/quilo, a produção da resina gera cerca de R$ 27 milhões/ano na região, receita incorporada diretamente ao orçamento familiar dos produtores e trabalhadores envolvidos na atividade.

O volume de produção de resinas deverá chegar a 25.000 toneladas em 5 anos. Além disso, há que se considerar também a receita decorrente dos desbastes realizados (colheita parcial das árvores), que geram um volume significativo de madeira para a fábrica de papel. O corte raso é outra e a maior oportunidade de negócio com maior resultado econômico para as famílias, a partir da venda de toras para a indústria madeireira, abastecendo as serrarias instaladas na região.

Ou seja, além de gerar renda, empregos, impostos, esses produtores estarão contribuindo para colocar no mercado madeira oriunda de atividade florestal com responsabilidade social e ambiental, que ajuda a  reduzir a pressão sobre as florestas nativas do Brasil. Diante do sucesso dessa relação ganha-ganha no estado de São Paulo, é meta do Grupo Jari repor aquelas florestas que já começam a ter a programação de corte final do primeiro plantio, ampliar o fomento florestal a novas parcerias, bem como ampliar a experiência no Vale do Jari, na região Norte.

Lá, já implantamos 2.800 hectares, representados por 228 contratos, envolvendo os produtores daquela região de fronteira. Em pouco mais de cinco anos, o projeto já agregou um incremento na economia regional de mais de R$ 8 milhões, dos quais R$ 5 milhões diretamente injetados na economia familiar dos pequenos e médios produtores rurais.

Quando olho para frente, penso no desafio e na responsabilidade sobre o quanto ainda temos por fazer e aprender no exercício dessa missão de fazer negócio com inclusão social e conservação ambiental, mas, quando vejo os primeiros resultados desse programa, não tenho dúvidas de que é possível promover sustentabilidade na prática.