Comum a todas as operações, a geolocalização torna possível espacializar os dados coletados diretamente dos equipamentos ou registrados por aplicações móveis, mais fáceis de entender, e, consequentemente, permite análises mais assertivas através de insights que não seriam possíveis apenas avaliando os dados tabulares.
Há bem pouco tempo, a transformação digital proporcionou um avanço de hardware e software que permitiu a substituição do mapa impresso pelo mapa digital, através de aplicações rodando em tablets e smartphones, ampliando o acesso à informação diretamente no campo.
A transformação digital geotecnológica vem para trazer liberdade e facilidade às operações de campo. Com aplicativos standard, é possível construir aplicações para solução dos problemas, desde os mais simples até os mais complexos, presentes no cotidiano dos gestores. Do cadastro florestal ao controle integrado das operações, o rastreamento e a comunicação em tempo real, ou quase real, das máquinas e equipamentos permitem uma gestão florestal muito próxima do conceito de Indústria 4.0. Essa evolução vem acompanhando a onda de desenvolvimento tecnológico atrelado à localização geográfica, sendo a geotecnologia um importante contribuinte na formação do Big Data Florestal.
Na prática, a geotecnologia tem transformado a gestão dos ativos florestais, permitindo maior precisão na execução das operações e trazendo confiança para o gestor. Umas das primeiras transformações proporcionadas foi a disponibilização do Cadastro Florestal na palma da mão dos gestores. Esse recurso permitiu levar para o campo um raio x do talhão, com informações do ativo plantado, de avaliações de sobrevivência, de inventário florestal e das operações realizadas durante todo o ciclo da floresta. O volume de informações é ilimitado, limitado apenas por regras de segurança da informação de cada empresa.
Essa aplicação geotecnológica já evoluiu e se adaptou, novos recursos foram incorporados e outros, retirados. A adaptabilidade é uma das características mais importantes da geotecnologia no setor florestal. Ainda assim, é bastante comum a impressão de mapas para estudo de situação e tomada de decisão, porém esse novo formato de visualização se vem popularizando juntamente com a evolução dos aplicativos e dos equipamentos e sua disponibilidade para os gestores. Um outro impacto positivo permitido pela geotecnologia está relacionado ao microplanejamento operacional, tanto de formação de florestas quanto de suprimento de madeira.
Esse impacto se inicia na construção do micro, onde o mapeamento de uso solo, atrelado ao MDT (modelo digital terreno) e a algumas variáveis, como estrutura física do solo e pluviosidade regional, além de características inerentes aos equipamentos utilizados, permite ao gestor criar o layout ideal de talhões adaptado ao manejo florestal que será conduzido na área, minimizando a ocorrência de erosões, aumentando a retenção da água dentro talhão e reduzindo possíveis dificuldades no transporte da madeira ao final do ciclo.
A evolução desse microplanejamento é constante. Já é possível planejar a linha de subsolagem para orientação dos operadores em campo. Nesse sentido, outro pilar da transformação digital vem à tona, o de Internet das Coisas (IoT), onde o equipamento é conduzido quase totalmente por recursos computacionais e de geolocalização, com a mínima interação do operador.
O planejamento das linhas de subsolagem permite também planejar a posição das mudas no campo, onde cada uma teria uma coordenada geográfica definida, e, com isso, as operações posteriores ao plantio podem ser realizadas conforme essas posições.
Nesse sentido, o desafio ainda está em integrar os sistemas, pessoas e equipamentos, para que seja possível a execução em escala operacional. Nesse momento, a silvicultura de precisão já é uma realidade e ganha força à medida que as empresas implementam, a seus ritmos, suas transformações internas.
Do mesmo modo que o micro de formação está sofrendo evolução, outro micro, o de manutenção de estradas, é um exemplo interessante. Pouco tempo atrás, o gestor de estradas percorria as rotas definidas para transporte com seu veículo e, através do odômetro do carro ou com um GPS de navegação, definia a distância e o tamanho do trecho a sofrer manutenção.
Retornava para o escritório e, de alguma forma, passava a Ordem de Serviço (OS) para execução, seja em formato de ficha, ou até mesmo por um mapa impresso. Atualmente, o mesmo gestor percorre o trecho com uma aplicação em seu smartphone, mensura a área e indica o serviço ou conjuntos de serviços que devem ser feitos em cada trecho, além de mapear possíveis interferências ou necessidades de manutenção em obras de arte.
Ao retornar para o escritório, visualiza seu trabalho de campo em outra aplicação que permite pequenos ajustes e, ao final, emite um Mapa OS para a execução do serviço, contendo, além do mapa de localização com todas as informações visuais, um resumo de áreas por atividade e o volume de materiais necessário. Ao retornar para verificar a execução e a qualidade do serviço, utiliza os mesmos recursos de mobilidade e interação, podendo registrar com fotos o resultado que servirá como evidência para a aprovação da execução.
Todos os recursos empregados na mudança desse processo são resultado da transformação digital geotecnológica por que o setor florestal vem passando. Num futuro próximo, na gestão florestal 4.0, a árvore será a menor unidade de produção e não mais o talhão. As máquinas não apenas transmitirão informações para a central, mas conversarão entre si, permitindo uma maior integração entre os processos.
O rastreamento de equipamentos não será apenas para geolocalizá-los, mas para garantir a qualidade e a eficiência com a correção de desvios em tempo real. Nesse futuro, o sincronismo tecnológico é a palavra-chave, e só será possível tê-lo através da evolução geotecnológica.
O grande desafio não é a tecnologia, pois já está disponível e avança rapidamente, mas sim o convencimento das pessoas em implementar as soluções, devido à insegurança de que estas podem trazer resultados que impactem positivamente o negócio florestal. Profissionais qualificados e que entendam de ponta a ponta dos processos ainda são raros, e formá-los é um grande desafio, pois não existe formação específica para o transformador digital florestal, uma vez que a multidisciplinaridade é a principal característica desses profissionais.
Contudo é possível obter ganhos de eficiência operacional, aumentar a segurança dentro e fora da operação ou reduzir custos, com os investimentos corretos e necessários à escala e complexidade de cada problema. Pequenas ou grandes, as empresas do setor florestal devem apostar na utilização da geotecnologia e na transformação digital, respeitando suas escalas, para que não percam a competitividade que o Brasil possui na produção de florestas.
Não é apenas o solo, o clima, o material genético bem adaptado e o profissional qualificado que nos manterão na vanguarda em relação aos outros países, deverá ser acrescida também a geotecnologia no suporte aos processos produtivos e como base para a transformação digital florestal.