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Sebastião Renato Valverde

Professor de Política e Legislação Florestal da Universidade Federal de Viçosa

OpCP76

Evolução da sinergia floresta & industria
Coautor: Gleison Augusto dos Santos, Professor de Inovação Florestal da Universidade Federal de Viçosa

Em que pese o fracasso do crescimento econômico brasileiro pós-1970, diferentemente do asiático, que ainda surfa na onda do crescimento mundial daquela década, resta-nos o orgulho da evolução da silvicultura e da indústria florestal brasileira, fruto das políticas dessa época que criaram o Programa Nacional do Desenvolvimento (PND) e a Lei de Incentivos Fiscais ao Florestamento e Reflorestamento (Fiset-FR).
 
É provável que os legisladores do Fiset-FR e do PND já vislumbrassem possível crescimento da indústria florestal, mas não a ponto de imaginar que o setor florestal brasileiro se tornaria o mais competitivo e sustentável do mundo. Menos ainda que a silvicultura viria a ser o modelo florestal seguido por todos os países e ter a Engenharia Florestal e os seus centros de pesquisa como referenciais.
 
Relatar sobre esta perfeita sinergia entre Floresta e Indústria é descrever a evolução do setor, tendo como marcos o Fiset-FR e o PND. Sem estes, o setor florestal seria insignificante; provavelmente o máximo que se poderia esperar dele seria um crescimento vegetativo, um fiasco de “evolucionismo florestal”. Com eles, mesmo que fruto de uma canetada do Estado, de um “criacionismo florestal”, o setor decola a velocidade de foguete, superando todas as expectativas.

Se a cadeia produtiva florestal do Brasil dependesse da evolução natural da economia por meio do crescimento natural da demanda e oferta da madeira, ela seria pífia. Ainda teríamos as pequenas e poluidoras fábricas de celulose e papel, sem contar a necessidade de importação. As siderúrgicas consumindo carvão de mata nativa, e as serrarias e laminadoras processando toras da Mata Atlântica de forma extrativista e insustentável. 

Com o Fiset-FR e o PND, houve uma transformação significativa nesta cadeia produtiva. De extrativista da mata nativa para produtivista via reflorestamento, de pequenas para as grandes indústrias, vide as de celulose que tornou o Brasil o líder neste mercado. Embora, como reflexo destas políticas, elas sejam concentradas e verticalizadas, isto não é diferente, guardada as devidas proporções, das antigas fabriquetas que também obtinham sua matéria-prima de áreas próprias.

Pode-se afirmar que o Fiset-FR e o PND estão para o setor florestal brasileiro como a máquina a vapor esteve para a revolução industrial, a globalização para o comércio internacional e a internet para a democratização e velocidade da comunicação global. Embora louváveis, políticas sozinhas não revolucionariam o setor. Elas tiveram a contribuição das universidades no crescimento sustentável deste setor. Foram a ciência, os PD&I e a formação de profissionais nas escolas de Engenharia Florestal, via seus centros de apoio a pesquisa florestal como a Sociedade de Investigação Florestal (SIF) e o Instituto de Pesquisa e Estudo Florestais (IPEF), que alavancaram este desenvolvimento. 

Estes centros foram e têm sido fundamentais para a aproximação das indústrias e das florestas com as universidades para favorecer a interação de professores/pesquisadores com as empresas, com o desenvolvimento dos programas de pós-graduação em ciências florestais e agrárias, para a empregabilidade dos egressos, para o investimento em infraestruturas de laboratórios, viveiros, áreas de demonstração etc., para o aparelhamento das universidades, para a formação dos grupos de apoio às pesquisas florestais como os Grupos Temáticos (GTs) da SIF Colheita e Transporte Florestal, Carbonização, Genética e Melhoramento, Restauração, Sociedade e Ferroligas.

Se dependesse do “evolucionismo”, a indústria florestal seria capenga. Talvez nem a Engenharia Florestal existisse, quiçá a SIF e o IPEF. Foram o Fiset-FR e o PND que impulsionaram o setor, a Engenharia Florestal e os centros de apoio à pesquisa. O avanço das pesquisas e da ciência florestal tornaram a silvicultura mais produtiva, mais sustentável e mais competitiva.

Isso fez com que o Brasil se consagrasse no maior player da indústria de celulose e no único produtor de aço e ligas com biorredutor sustentável a ter como matriz energética a biomassa mais limpa do mundo. Isso tudo reflorestando sem supressão da nativa, sem concorrer com a produção de alimentos e cumprindo mais que a legislação ambiental em proteger as áreas de preservação permanente (APP) e de reserva legal (RL) e mantendo corredores ecológicos na mesma proporção da área reflorestada comercialmente.

Neste ritmo de desenvolvimento florestal, nada e ninguém superará o Brasil. Ainda há espaço para crescer, pois o PIB florestal é pouco representativo em relação ao Nacional diante de seu potencial, que, em vez de 2%, poderia ser de mais de 10% como os finlandeses e suecos. Há, para isso, terras ociosas e abundantes sem aptidão agrícola, muitas delas degradadas pelas pastagens. 

Tal qual cresceu o segmento de celulose – em que o Brasil é o maior exportador e tem espaço para o crescimento das indústrias de painéis MDF, MDP, OSB, laminados e compensados. Enfim, a busca pela perfeição desta sinergia é o motor do crescimento florestal. Isso passa pelas universidades e centros de pesquisas. Neste contexto, a SIF se orgulha de ser a líder em Pesquisa, Tecnologia e Inovação numa perfeita interface Floresta e Indústria.
 
Em conjunto com as empresas do setor florestal brasileiro e na parceria Universidade & Empresa, novos produtos de madeira estão em desenvolvimento, como bioquímicos, biofármacos, biocosméticos, biodiesel e novos têxteis a partir das fibras florestais. Em um futuro próximo, a fibra das árvores e a interface aperfeiçoada da Floresta & Indústria, visando alto valor agregado dos produtos, serão o grande substituto da maioria dos produtos substitutos do petróleo.