Diretor Geral da NRG Consultoria em Energia e Meio Ambiente
Op-CP-22
Para contribuir na discussão do caminho ideal para a silvicultura brasileira, vamos partir de uma escolha inicial e alguns números do setor. Inicialmente, a silvicultura pelo mundo afora significa a exploração racional de recursos florestais nativos e a economia das florestas plantadas.
As florestas nativas são, sem exceção, exploradas através de concessões dos estados nacionais, sob regras que visam perenizar a atividade. Nos países de clima temperado, é prática antiga, apesar do longo tempo necessário à recomposição florestal, e apoiada na aparente uniformidade dos ecossistemas, dado o número relativamente pequeno de espécies arbóreas que dominam a paisagem.
No Brasil, a exploração de florestas nacionais apenas se inicia com a recente concessão de lotes na Floresta Nacional do Jamari, através do Serviço Florestal Brasileiro. Serão necessários ainda um maior tempo de exploração – para acumular experiência – e uma maior diversidade de formações florestais em exploração comercial, para avançar na institucionalização da atividade.
De qualquer forma, é importante registrar que o caminho está correto: só se preserva aquilo que se conhece e – direta ou indiretamente – se usa. Em florestas plantadas, são 271 milhões de hectares registrados em todo o mundo, enquanto, no Brasil, somam cerca de 6,5 milhões de hectares entre eucaliptos e pinus, na quase totalidade dedicados às industrias de papel, celulose e de painéis para construção civil e mobiliário.
É muito pouco. Para termos uma ideia do que esse setor precisa crescer, basta ver que o recém-divulgado plano setorial para a siderurgia, de iniciativa do governo federal em sua definição de metas para a mitigação das mudanças climáticas globais, pela substituição do carvão vegetal com origem no desmatamento por aquele produzido a partir de madeira de reflorestamento, representa uma demanda reprimida da ordem de 2 milhões de hectares de novas florestas plantadas até 2020.
Além desse desafio, há que somar outro: o de produzir carvão vegetal com eficiência maior que a permitida pela tecnologia predominante em uso, da ordem de 20% nas mais primitivas e de 30% nos fornos cilíndricos conhecidos como “mineirinhos”. O consumo industrial de carvão vegetal foi de 8,2 milhões de toneladas em 2008 no setor siderúrgico e de ferro ligas.
Adotando-se esse volume como referência, teriam sido necessárias plantações com espécies produtivas de eucalipto somando 1,5 milhão de hectares com sete anos de plantio, totalmente dedicadas à produção de carvão vegetal, para que esse consumo pudesse ser considerado sustentável. Evidentemente, a realidade está longe desse número. O que precisa ser feito para se chegar lá? Dois movimentos institucionais ajudariam.
Primeiro, é preciso dar consistência às diferentes iniciativas em andamento, através de uma política pública de claro incentivo à atividade, uma vez que florestas de qualquer tipo representam investimentos de longo prazo. Um instrumento dessa política, já usado no passado com outras espécies agrícolas, seria um zoneamento agroecológico para o plantio de espécies voltadas à produção de carvão vegetal.
Áreas candidatas à atividade na região amazônica, por exemplo, não faltam: estimativas de diferentes fontes falam em 20 milhões de hectares de floresta nativa derrubada, queimada e abandonada, que podem ser recuperados através de plantações para a produção de carvão vegetal, combinados à restauração de matas nativas nas Áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal. Mas outro movimento institucional que pode também dar bons resultados, em combinação com o primeiro, é investir recursos na produção eficiente de carvão vegetal.
Isso compreenderia tanto a promoção de equipamentos pirolisadores de maior eficiência, quanto a implantação de polos de produção de carvão vegetal, para onde a produção dedicada de biomassa seria transportada, com o fim de aproveitar a energia com os voláteis gasosos e líquidos (alcatrão), hoje desperdiçados nos equipamentos de menor porte. Uma grande vantagem é que, para transformar essas substâncias gasosas e líquidas em eletricidade, são necessários equipamentos já disponíveis comercialmente no mercado nacional.
Para dar uma ideia de quanto se pode gerar com isso, basta ver que a parcela da energia não aproveitada na produção do carvão vegetal, em 2008, equivaleu a 13 GW médios. Os sistemas comercialmente disponíveis convertem um terço disso em eletricidade, energia suficiente para competir em tamanho com as grandes hidroelétricas em implantação na Amazônia.