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Daniel Carvalho de Moura

Diretor Florestal do Grupo Plantar

OpCP78

Empreendendo para o futuro
Quem conheceu o Brasil Agrícola da década de 80 tem bons motivos para celebrar o desenvolvimento alcançado nos últimos 40 anos na maior parte das culturas. A agricultura no Brasil foi tomando o seu lugar até se tornar a principal fonte de crescimento econômico, distribuição de renda, geração de riqueza e desenvolvimento tecnológico. Sem dúvida, temos muitos motivos para agradecer aos técnicos que nos precederam, aos pioneiros que desenvolveram regiões que antes não tinham potencial produtivo, às instituições de pesquisa e extensão e, principalmente, a Deus, que nos deu um país tão privilegiado em sua vocação.
 
A história próspera da nossa agricultura traz consigo bons desafios a técnicos, empreendedores e instituições de pesquisa e extensão. Também precisamos muito dos fornecedores de insumos e equipamentos. A produção cresceu, os produtos se valorizaram, as portas do comércio internacional se abriram. As terras, que antes tinham pouco valor, se valorizaram, e as culturas hoje concorrem pelo ativo mais precioso ao exercício da nossa vocação. O solo é uma dádiva, nosso bem mais precioso, e precisamos aprender a tratá-lo de forma bem mais nobre do que vínhamos fazendo até agora.
 
Cada região do Brasil tem a sua própria vocação, determinada pelo solo, altitude, clima, tecnologia e logística. Além da especialização das macrorregiões, também observamos uma diversificação saudável em microrregiões. Assim, as diversas culturas vão se complementando, de acordo com a vocação, e o preço da terra segue compatível com a  remuneração dos produtos agrícolas gerados pelo seu cultivo. As florestas plantadas possuem um ciclo longo, quando comparado a outras culturas. A tendência é que as florestas plantadas ocupem as regiões mais áridas, mais fragmentadas, e de topografia mais desafiadora à mecanização.
 
Projetos greenfield ou expansão de plantas de produção que se utilizam de matéria-prima oriunda da floresta plantada precisam considerar esses desafios em seu planejamento. Assim como no passado superamos desafios de aumento de produtividade e manejo das florestas, creio também que temos os recursos necessários para vencer os desafios de hoje e do futuro próximo.
 
O avanço da mecanização em áreas inclinadas é uma realidade. Hoje podemos realizar operações de preparo de solo, plantio, tratos culturais e adubações com alto nível de mecanização, graças à introdução de escavadeiras adaptadas a essas atividades, bem como à utilização de drones e outros equipamentos que estão se especializando no avanço da mecanização para esse perfil. Na colheita, também temos máquinas que trabalham em alto grau de inclinação, além da possibilidade de ancoragem das máquinas com o uso de guinchos eficientes e seguros.
 
Com relação às regiões mais áridas, com maior possibilidade de secas extremas e altas temperaturas, podemos trabalhar na mitigação desses efeitos. Buscar clones mais resistentes a déficit hídrico, espaçamento de plantio menos adensado, com a finalidade de redução da demanda de água, são algumas práticas já conhecidas. A cobertura de solo com resíduos da própria floresta e a utilização de compostos orgânicos com alta capacidade de retenção de água no sistema são excelentes práticas. Além da formação de perfis de solo em camadas mais profundas, tanto no desimpedimento físico dos solos, quanto nas propriedades químicas e biológicas, associados ao manejo nutricional e ao preparo de solo que precede a implantação das florestas.
 
O desenvolvimento de tecnologias para garantir a sustentabilidade das florestas plantadas nas condições citadas é fundamental. Quando mencionamos sustentabilidade, estamos falando de solos produtivos por gerações, de um manejo que considera as diversas dimensões de um projeto florestal. Realizamos operações seguras, produtivas e de alta qualidade e alcançamos a excelência em produtos florestais de grande impacto para a sociedade. Não há como negar, temos um grande privilégio de manejarmos florestas em um país tão abençoado. 
 
Como em toda grande dádiva recebida, também carregamos a grande responsabilidade de deixarmos um legado às gerações futuras, sabendo que os desafios são crescentes, pois as condições se tornam cada vez mais desafiadoras em relação ao clima e ao solo. Mas também temos mais acesso a pesquisas, informações, novos equipamentos e materiais genéticos mais adaptados às mudanças. Precisamos reconhecer os desafios de hoje, encarar as mudanças e buscar os recursos, para que as nossas florestas prossigam em ser fonte de prosperidade para a nossa sociedade.
 
Os empreendedores florestais são os grandes responsáveis pelo protagonismo dessas mudanças, pois eles têm a capacidade de integrar os diversos agentes que compõem todo o negócio florestal. Pensar em parcerias de longo prazo e em contratos que fomentam o desenvolvimento de tecnologias, que acumulam e aplicam o conhecimento, é vital. A chave para o progresso das nossas florestas é calçar as sandálias da humildade e reconhecer que a parceria é o melhor caminho para a solução dos desafios. Por maior que seja um player do mercado, não acredito que a autossuficiência seja o caminho. 
 
Temos muito a aprender sempre, com todos os operadores florestais. Temos uma grande comunidade florestal: fornecedores de insumos, prestadores de serviço, fornecedores de máquinas e equipamentos, pesquisadores, consultores e instituições que têm muito a contribuir para os desafios do futuro. A união de forças, mesmo em meio a opiniões divergentes, é uma grande estrada para o nosso desenvolvimento, mas há uma passagem estreita a ser transposta pelos nossos empreendedores que têm o protagonismo dessa história em suas mãos. 
 
Desejo muito sucesso aos empreendedores grandes e pequenos e, principalmente, àqueles que buscam a excelência da floresta e seus produtos. Não devemos ter como principal ambição o número de hectares plantados, mas a qualidade de cada hectare plantado, pois assim teremos motivo de nos alegrar por fazermos cada porção do nosso trabalho com esmero e responsabilidade. A escala dos plantios é fundamental, mas não podemos suprir nossas plantas de produção por número de hectares e sim por m³ de madeira produzido. Agradeço a oportunidade de deixar uma mensagem simples aos nossos leitores, é a porção sobre a qual tenho refletido nos últimos dias.