O termo bioinsumos foi utilizado formalmente pela primeira vez no Brasil no âmbito do Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo II), em seu ciclo de 2016-19. É utilizado como sinônimo de outros termos como: produto biológico, bioproduto, produto de base biológica. Como exemplos de produtos desta natureza, podem ser citados: os bioinseticidas, biofertilizantes, bioinoculantes, entre outros. Os bioinsumos podem ser classificados como macrobiológicos, microbiológicos, promotores de crescimento, fotoquímicos, substâncias químicas de plantas, semioquímicos e feromônios.
Embora o conceito de usar produtos de origem biológica na agricultura exista há milênios, de forma empírica, as pesquisas ganharam força, no Brasil, a partir da década de 1970, diante da necessidade de padronização conceitual e criação de políticas públicas específicas que levaram à formalização do termo no contexto governamental brasileiro, a seguir:
a) Programa Nacional de Bioinsumos (PNB): Instituído pelo Decreto nº 10.375, de maio de 2020. Este decreto foi crucial para definir o termo bioinsumos para fins de aplicação de políticas públicas no País. Trazendo a seguinte definição: Os bioinsumos são produtos, processos ou tecnologias de origem vegetal, animal ou microbiana, utilizados na produção, armazenamento e processamento de produtos agropecuários, sistemas aquáticos ou florestas plantadas. Eles ajudam no crescimento, desenvolvimento e resposta de plantas, animais e microrganismos, além de interagirem com processos físico-químicos e biológicos;
b) Lei de Bioinsumos: sancionada pela Lei 15.070 em dezembro de 2024, que regulamenta a produção, uso e comercialização dos bioinsumos no Brasil, consolidando ainda mais o termo no cenário legal e dos setores agrícolas e florestais brasileiros.
Os bioinsumos podem ser desdobrados nos seguintes tipos de aplicações:
Biofertilizantes: melhoram a fertilidade do solo e promovem o crescimento das plantas;
Bioinseticidas e Bioacaricidas: controlam insetos e ácaros que prejudicam as plantações;
Biofungicidas: tratam e previnem doenças causadas por fungos;
Inoculantes: Introduzem microrganismos benéficos para a saúde e nutrição das plantas;
Bioestimulantes: estimulam processos fisiológicos nas plantas, como o crescimento e a resistência a estresses.
O setor florestal, por sua vez, apesar de ter atingido 10,5 milhões de hectares de árvores plantadas, em 2024, ainda utiliza pouco os bioinsumos e tem muito o que crescer nesta área. O primeiro registro de controle biológico data do século III A.C. quando chineses utilizaram as formigas predadoras Oecophylla smaragdina no controle de desfolhadores e coleobrocas em citros. Outros inimigos naturais começaram a ser estudados, e, entre 1602 a 1706, surgiram os primeiros relatos sobre parasitismo de insetos.
Em 1835, a infecção pelo fungo Beauveria bassiana em lagartas de bicho-da-seda, Bombyx mori L., foi o primeiro registro experimental de microrganismo patogênico a insetos. O primeiro caso de sucesso de controle biológico ocorreu em 1888, quando a joaninha Rodolia cardinalis foi importada da Austrália para o controle da cochonilha Icerya purchasi em citros, na Califórnia. Desde então, muitos exemplos de sucesso de controle biológico em diferentes partes do mundo têm sido documentados.
No Brasil, Adolph Hempel, um eminente entomólogo e pesquisador do Instituto Biológico de São Paulo, em 1928 introduziu a vespa-de-uganda, Prorops nasuta, no Brasil com o objetivo de realizar o controle biológico da broca-do-café (Hypothenemus hampei).
O primeiro exemplo documentado de controle biológico em florestas, ou pelo menos um dos primeiros e mais notáveis, envolveu o uso do nematoide Deladenus siricidicola para controlar a vespa-da-madeira (Sirex noctilio). As culturas de D. siricidicola foram importadas da Austrália e introduzidas no Brasil em 1989/90 e 1994. Este nematoide é o organismo mais eficiente no controle da vespa-da-madeira esterilizando as fêmeas do inseto.
Ele apresenta dois ciclos de vida: um micetófago ou de vida livre, quando se alimenta do fungo simbionte de S. noctilio, e outro de vida parasitária, dentro de larvas, pupas e adultos da vespa-da-madeira. Por apresentar o ciclo de vida livre, pode ser multiplicado em laboratório, em meio de cultura de ágar com dextrose de batata e em meio de trigo. Ao ser liberado no campo, pode atingir níveis de parasitismo próximos a 100%. Nas florestas plantadas, a crescente uniformidade genética em escala global do domínio generalizado de um reduzido número de espécies de crescimento rápido, em grande parte pinus, eucaliptos, acácias e álamo, é um agravante no contexto florestal. A utilização de agentes de controle biológico é a medida mais eficaz para o controle de pragas e doenças.
Na cultura de eucalipto, as pragas se destacam em importância e uso de bioinsumos, sobre as demais espécies. Os fungos micorrízicos como as endomicorrizas, arbúsculo-vesicular (FVA) e os ectomicorrizícos (FEM) fazem associações simbióticas com muitas espécies florestais nativas e cultivadas, exercendo vários efeitos benéficos para as espécies envolvidas, como:
1. Nutricionais: aumento na absorção de nutrientes e água; maior volume de solo explorado; maior longevidade das raízes; contato mais intenso com as partículas do solo; sítios específicos e de afinidade elevada para o fósforo; e na armazenagem de nutrientes ou acúmulo de nutrientes nas raízes e parte aérea da planta.
2. Não nutricionais: proteção contra patógenos: barreira física do manto (FEM), antibiose, indução de resistência, competição e antagonismo na rizosfera. Redução dos estresses abióticos: maior tolerância à seca, temperaturas elevadas, acidez e toxidez de metais.
Espécies mais frequentes:
a) Endomicorrizas: Glomus clarum; Glomus etunicatum; Gigaspora margarita; Entrophospora colombiana e Glomus sp.
b) Ectomicorrizas: Suillus granulatus, Scleroderma fuscum e Rhizopogon roseolus. Algumas espécies de fungos, como os do gênero Suillus, são particularmente eficazes em ajudar o pinus a se estabelecer, especialmente em áreas de pioneirismo e em plantações.
As ectomicorrizas e pinus têm uma associação simbiótica benéfica: os fungos formam um manto de hifas em torno das raízes, o que aumenta a absorção de água e nutrientes (especialmente fósforo) e protege contra patógenos. Essa relação é particularmente importante para os pinus, que dependem fortemente das ectomicorrizas em ambientes com poucos nutrientes. A inoculação de FEM no solo poderia favorecer a remediação de agrotóxicos de uso florestal, e simultaneamente, favorecer o desenvolvimento das plantas, reduzindo custos de replantio na implantação destes povoamentos.
O uso de inóculo micorrízico específico, através de técnicas que envolvem culturas puras dos simbiontes, apresenta boa potencialidade para empregos práticos dos fungos P. tinctorius e T. terrestris nas condições brasileiras.
Por outro lado, os fungos endomicorrízicos (FVA) são multiplicados em rizosfera de plantas hospedeiras, depois peneirados e reaplicados.
Existem pesquisas diversas com bioinsumos aplicados ao setor florestal, que ainda carecem de estímulos do setor, tanto para validação em campo como no envase, para registro e utilização em campo, a citar: Sacharomyces como indutor de resistência a ferrugem e outras doenças foliares; voláteis de fungos sabróbios como estimuladores de crescimento em mudas de eucalipto, biodegradação de tocos por fungos nativos para a silvicultura regenerativa; endomicorrizas como estimuladores de crescimento, microrganismos endofíticos como indutores de resistência, entre outros.
Um alerta para o setor é que novas pragas exóticas estão chegando, a exemplo: uma nova espécie de vespa-da-madeira, Sirex obesus Bradley, foi identificada no Brasil por meio de métodos moleculares e análise morfológica, provavelmente introduzida pelo comércio de madeira entre países. Nativa do México e dos EUA e considerada de pouca importância econômica nesses países, essa vespa causou aproximadamente 40% de mortalidade em plantio afetados de Pinus spp. na região SE do Brasil.
No entanto, devido aos estudos limitados sobre S. obesus, ainda não se sabe qual espécie de Amylostereum pode estabelecer relações simbióticas com essa vespa. Essa informação impacta diretamente a eficiência do seu manejo com o nematoide D. siricidicola, amplamente utilizado no Brasil para o controle de S. noctilio, uma vez que esse nematoide é incapaz de se desenvolver em outras espécies de Amylostereum além de A. areolatum durante sua fase micófaga.
PRINCIPAIS CULTURAS FLORESTAIS NO BRASIL E RESPECTIVAS PRAGAS, BIOINSUMO (INIMIGOS NATURAIS) E TIPO DE PRODUÇÃO (CULTURAS, PRAGAS, INIMIGO NATURAL/BIOINSUMOS E PRODUÇÃO)
PRODUÇÃO:
On-farm: Produzido em laboratórios de multiplicação ou criação, mantidos nas propriedades rurais ou empresas florestais.
Laboratório: Laboratórios de multiplicação e treinamento de equipes, manutenção de cepas, órgãos públicos ou privados.
Industrial: Produção e envase em escala comercial, com estirpes próprias registradas.