A humanidade chegou a uma encruzilhada na qual as escolhas estão claras: ou insiste no mesmo caminho, de esgotamento da natureza, rumo ao ponto de inflexão que leva a futuro desastroso, ou faz da resiliência uma realidade e muda seu modo de viver e de fazer negócios, legando para as próximas gerações um planeta habitável.
O segundo caminho é mais árduo, mais trabalhoso e, acima de tudo, exige da sociedade a habilidade de trabalhar conjuntamente. Trata-se de modus operandi ao qual parecemos não estar acostumados, diante de invasões, guerras e demais atrocidades vivenciadas mundo afora. Mas, se não for assim, não venceremos a batalha do clima. Esse não é desafio a ser superado se apenas um ou alguns fizerem sua parte. Sem o engajamento e a contribuição de todos, o esforço será nulo, ou perto disso.
Esse é, sem dúvidas, o maior desafio enfrentado pelas atuais gerações. Mas, se tem algo que o tempo e os percalços por que a humanidade passou têm demonstrado é que as crises, por mais duras e dolorosas que sejam, abrem oportunidades e deixam aprendizados. E a emergência climática encaixa-se nesse roteiro.
Não seria exagero afirmar que as perspectivas e os riscos decorrentes das mudanças do clima hoje se equiparam, em grau de centralidade estratégica, com as preocupações durante a Guerra Fria, sobre desarmamento e não proliferação nuclear.
O meio ambiente, que já foi considerado tema a ser debatido apenas por diplomacia multilateral, em ambientes acadêmicos ou nas organizações não governamentais, hoje é pauta fundamental de governos, além de ponto de partida de planejamento estratégico de companhias e investidores ao redor do mundo.
Essa busca necessária por uma economia verde, ao mesmo tempo em que se mostra urgente, escancara enorme potencial de possibilidades e novos negócios. E, como sustentação a tudo isso, no efetivo centro decisório, temos Sua Excelência, o consumidor. Atentos, informados e ansiosos por soluções e inovações ambientalmente amigáveis. Não à toa a COP26, em Glasgow, reuniu mais de 30 mil pessoas em uma das mais emblemáticas Conferências das Partes de todos os tempos.
Jovens, ativistas, iniciativa privada, poder público e demais representantes da sociedade civil estiveram juntos, cada qual à sua maneira, estimulando a criação do mercado regulado e global de créditos de carbono. Agora, o próximo e decisivo passo é fazer daquele marco uma realidade e colocar para funcionar aquilo que foi consensuado na Escócia.
Esse movimento mostra-se vital para que o mercado de carbono deixe de ser objeto de desejo e torne-se ferramenta de negócios e mitigação das mudanças do clima. Isso porque a regulação global evita disparidades e/ou equívocos nas negociações globais. Isso é que dará a segurança e estimulará o avanço da negociação de créditos de carbono.
Nessa janela de oportunidade, portanto, dispor de marcos regulatórios é fundamental para que o potencial não fique somente no imaginário. Isso se aplica até mesmo em nível corporativo, associado a relatos sobre a performance climática de empresas e outros atores relevantes para o tema.
Esse é o primeiro nível de informação avaliada por investidores, clientes e outros stakeholders, que podem determinar padrões de transformação econômico-financeiros necessários para o combate à mudança do clima. Diversas iniciativas já têm sido estruturadas nesse sentido e vão além de requisitos oficiais ou governamentais, como o CDP, que avalia e ranqueia a performance climática de empresas; a TCFD (força-tarefa global para alinhar relatos financeiros a relatos sobre performance climática); a SBTi (Science Based Target Initiative), que determina padrões para o alinhamento entre a ciência do clima e as metas de mitigação; o GHG Protocol (iniciativa que determina padrões para relatos ou inventários de emissões de GEE para empresas e suas cadeias produtivas).
E, nesta era de uma economia descarbonizada, a indústria de árvores cultivadas se impõe como farol, que ilumina um dos caminhos a serem seguidos por outros setores.
Para as companhias de base florestal, não há falso dilema: produzir e conservar é premissa e realidade. Enquanto cultiva para fins industriais em 9,55 milhões de hectares, comumente em áreas antes degradadas, destina outros 6,05 milhões de hectares para conservação. Um setor que há mais de 20 anos é voluntariamente certificado por instituições internacionalmente reconhecidas, como FSC e PEFC/Cerflor.
Um modus operandi completamente conectado com a moderna agenda da descarbonização. Juntas, áreas de plantio e de conservação do setor estocam 4,5 bilhões de CO2 eq. Para efeito de comparação, isso é mais do que o Brasil emite em um ano. Nesse sentido, é vital deixar claro que o setor de árvores cultivadas vai além das emissões evitadas, como quando se deixa de desmatar. A indústria florestal remove e estoca carbono, um fator altamente relevante, quando o inimigo a ser vencido é a concentração da gases de efeito estufa na atmosfera, entre eles o CO2, que causam o aquecimento global. Trata-se de ponto estrutural para que a bioeconomia brasileira possa ser adequadamente considerada, avaliada e valorizada pelos diversos stakeholders responsáveis pela transformação econômica que o mundo requer.
Recentemente, o Governo Federal editou decreto para criar o mercado regulado brasileiro de carbono. Iniciativa relevante, pois o Brasil já estava atrasado nesses primeiros passos, embora o decreto ainda prescinda de legislação que fortaleça o sistema a ser criado e garanta sua indispensável segurança jurídica. Nosso mercado de carbono precisa dialogar com experiências congêneres já consolidadas em outros países, particularismo que o condena ao isolamento. Ao mesmo tempo, precisará compatibilizar-se com mercado global previsto no Artigo 6 do Acordo de Paris, para cuja aprovação o Brasil tanto contribuiu em Glasgow.
Mas tão importante quanto a energia colocada sobre essa temática é não deixar escapar do olhar para o futuro que o carbono tem sua importância nesse passo da humanidade rumo a uma nova era econômica, mas não é a única rota. Há pagamentos por serviços ambientais que complementam essa vasta gama de oportunidades, como água, solo e biodiversidade. Nessa seara, novos modelos podem e devem surgir, como a maior valorização de áreas com mais concentração de flora e fauna. E, mais uma vez, sem medo de errar, pode-se afirmar que o setor de árvores cultivadas já trabalha com os dois pés fincados no futuro, adaptado naquilo que há por vir.
O desafio é contaminar, no bom sentido, para que o Brasil siga o curso que lhe é natural, de ser protagonista desse debate ambiental. Durante o Congresso Florestal Mundial realizado na Coreia pela FAO/ONU, a IBÁ liderou discussões sobre biodiversidade, recursos hídricos, diversidade e inclusão, entre outras participações. Ficou claro que o mundo, apesar da imagem ambiental nacional arranhada, está de braços abertos e espera que o País ocupe sua posição ativa de contribuição para o planeta.