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Carlos Henrique Garcia

Diretor de Operações Florestais da Vale Florestar

Op-CP-33

Alternativas de modelos de gestão
O plantio de florestas industriais como atividade econômica no Brasil é bastante recente, remontando à década de 1900 os primeiros plantios de eucalipto visando à utilização de madeira para a fabricação de dormentes. Já a implantação de florestas para a produção de celulose e papel teve início em meados de 1950, e sua grande expansão ocorreu na década de 1960, com o programa de incentivos fiscais promovido pelo IBDF – Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal.
 
Vale destacar que a primeira produção de papel, em 1942, pela Leon Feffer & Cia, ocorreu com utilização de matéria-prima (celulose) importada. Em dezembro de 1987, apenas 45 anos depois, o País contava com mais de 6 milhões de hectares plantados para esse fim. Atualmente, existem mais de 7 milhões de hectares plantados.
 
Observa-se, assim, que uma importante característica do setor de florestas plantadas é passar por constantes transformações que visam tornar a atividade cada vez mais competitiva e desenvolvida.
 
Tais mudanças ocorrem não somente do ponto de vista de reestruturação do arcabouço da legislação, como se observa com a recente aprovação do novo Código Florestal brasileiro, mas também em relação ao desenvolvimento de diferentes processos operacionais, resultado de anos de pesquisa conduzidos por universidades e institutos de pesquisa. Em consequência, as empresas do ramo florestal também passam, obrigatoriamente, a adotar novos e mais complexos modelos de gestão.
 
Na década de 1980, as empresas verticalizadas, que detinham a tecnologia para produção de papel e promoviam a forte expansão dos reflorestamentos, mantinham o foco de gestão no ganho de produtividade através do aprimoramento de técnicas de manejo e do forte investimento na pesquisa e no melhoramento genético do eucalipto.
 
Na década de 1990, as atenções se voltaram para a utilização racional dos recursos naturais, procurando preservar, conservar e interligar as áreas naturais, manter a produtividade florestal, promover o uso múltiplo das florestas e desenvolver sistemas e equipamentos, visando à minimização do esforço físico dos trabalhadores.
 
É nesse período que as empresas adotaram novos modelos de gestão, passando por processos de reengenharia e terceirização de atividades operacionais. A produção de madeira de eucalipto para outras finalidades passou a ser considerada também com maior ênfase pelas empresas florestais.
 
No final dos anos 1990, as empresas que atuavam principalmente nas regiões mais próximas aos grandes polos de desenvolvimento, notadamente as regiões Sudeste e Sul do Brasil, passaram a pesquisar novas fronteiras para implantação de florestas. A recente expansão de projetos florestais para os estados do Mato Grosso do Sul, Maranhão, Pará e Tocantins são os principais exemplos, apesar de estarem pautados por diferentes modelos de gestão. 
 
Os empreendimentos em implantação no Mato Grosso do Sul (Fibria e Eldorado) se pautam pela construção de fábricas para produção de celulose e papel, ao mesmo passo em que as florestas vão sendo implantadas. Trata-se de um modelo ousado, com intensivo investimento na aquisição de terras e na formação de florestas para o fim específico de produção de celulose e papel.
 
No estado do Maranhão, foi a preexistência de florestas plantadas, anteriormente utilizadas para a produção de carvão vegetal, que possibilitou a implantação de uma fábrica de celulose no município de Imperatriz, investimento que está sendo realizado pela Suzano Papel e Celulose.
 
Dessa forma, uma das preocupações da empresa é promover a certificação das florestas já plantadas, além da expansão do parque florestal, a fim de garantir a comercialização da celulose no mercado internacional.  A expansão do reflorestamento ocorre, nesse caso, tanto através da aquisição de novas terras como de atividades de fomento florestal e arrendamento de terras para plantio.
 
Já nos estados do Pará e do Tocantins, as atividades de reflorestamento vêm ocorrendo de forma bastante diferenciada das demais. Os grandes formadores de florestas são os fundos de investimentos formados por associação de duas ou mais empresas de gestão pública, notadamente Bndes e Caixa Econômica Federal, com empresas privadas. Em casos como esses, o plantio de florestas não tem a finalidade definida quando da formação dos fundos, assim como há maior liberdade para estabelecer a localização das florestas.
 
O objetivo principal é atrair indústrias de base florestal visando firmar contrato com novos investidores, como produtores de papel e celulose, chapas e compensados, usos múltiplos e outros.  A compra de terras passa a ser uma opção de investimento e é realizada com a finalidade de obter maior retorno com a venda tanto da madeira como das terras. 
 
Alternativamente, como adotado pela empresa Vale Florestar, os plantios podem ser realizados em terras arrendadas, com contratos de 15 anos. Nesse caso específico, a madeira será produzida com a finalidade de abastecer uma fábrica de celulose instalada em Imperatriz, no Maranhão.
 
Nesses últimos modelos de gestão de florestas, a venda de madeira não integra a cadeia de custódia do empreendimento. A madeira é comercializada como ativo biológico (floresta em pé), e não como mercadoria (madeira cortada). 
 
O processo de colheita é de responsabilidade do comprador (cliente), e, por essa razão, é importante que haja um estreitamento nas relações entre comprador e vendedor, para otimização das operações, ou seja, as equipes operacionais e de planejamento das duas empresas devem estar intimamente relacionadas, visando à redução de custos operacionais e à renovação das florestas da forma mais econômica possível.
 
Não obstante, o modelo de gestão baseado no arrendamento de terras pode trazer alguns inconvenientes que exigem grande preparo e acompanhamento por parte de seus profissionais, a fim de garantir o sucesso do empreendimento.
 
É essencial a parceria com empresas de porte, afinal de contas, o retorno do investimento é de longo prazo. Há ainda grande competição por terras com as áreas agrícolas, o que dificulta o alcance de metas de implantação de novas áreas.
 
O valor de arrendamento pago para atividades agrícolas, principalmente plantio de soja, é fator que dificulta o arrendamento de terras para produção de florestas, principalmente pelo fato de que os agricultores geralmente utilizam a quase totalidade da área das fazendas. 
 
A dificuldade é aumentada em função da necessidade de regularização de áreas de Reserva Legal e de Preservação Permanente das propriedades arrendadas e, principalmente, no levantamento da documentação das terras, normalmente incompletas, caracterizando-as apenas como áreas de posse. Nesse sentido, os processos de licenciamento são mais complexos e morosos e podem contribuir negativamente para o atendimento dos cronogramas de implantação. 
 
Comum a todos os modelos de gestão atuais é o fato de que a sustentabilidade deve ser a base de todo e qualquer empreendimento, constituindo-se como importante fator para a promoção do desenvolvimento social e econômico da região onde o empreendimento está inserido. A produção de madeira, a conservação da água e da vida selvagem são objetivos que devem ser alcançados, independentemente do modelo de gestão. 
 
Não obstante, as metas e as formas de aferição dos resultados se baseiam, principalmente, em indicadores relacionados à produtividade (área plantada), produtividade da floresta (incremento médio anual), retorno do investimento (taxa de retorno), acompanhamento de condicionantes ambientais e valor à vida (saúde e segurança).  
 
Por fim, não se faz gestão de florestas sem as principais ferramentas para tomada de decisão, tais como elaboração de inventário florestal contínuo, simulação de modelos e análise de cenários, estudo de projetos, acompanhamento econômico permanente, pesquisas de mercado, utilização de softwares adequados para gestão de florestas, capacitação e treinamento de profissionais, elaboração e revisão de planos de manejo, além de discussão das estratégias da empresa com os sócios.
 
E como o setor florestal brasileiro passa constantemente por transformações, o atual gestor florestal deve estar atento a mais uma forte tendência: a primarização das atividades operacionais.
 
As empresas verticalizadas podem facilmente terceirizar atividades como silvicultura, construção e manutenção de estradas, colheita de madeira, etc. Já para as pequenas empresas florestais, suportadas por fundos de investimento, a pressão para primarização é maior em função de sua atividade-fim. Cabe ao gestor assumir ou não o risco, de acordo com a estratégia do empreendimento.