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Marcelo de Freitas Sacco

Diretor do ASSIM

Op-CP-10

O pólo de desenvolvimento de Capão Bonito

Em Outubro de 2004, fui chamado, juntamente com uma série de lideranças locais, para participar do processo de licenciamento FSC, que a VCP estava pleiteando em suas extensas propriedades, no município de Capão Bonito. A empresa tinha a leitura que o seu ponto mais frágil no tripé de responsabilidades legal, ambiental e social era exatamente essa última.

Para fazer frente, de forma proporcional ao seu porte, seria necessário promover a criação de um pólo de desenvolvimento da cadeia produtiva da madeira, além da sua finalidade principal, que é a de produção de celulose. Era necessário criar ações, que pudessem acelerar o desenvolvimento da cidade, gerando emprego e renda, de forma sustentável e crescente, no tempo.

Em menos de dois meses, uma pequena comissão organizou duas reuniões com as lideranças locais (incluindo dois prefeitos de correntes políticas antagônicas, um eleito e o outro em final de mandato), nas quais foi desenhado um esboço de como os vários atores da sociedade civil organizada deveriam interagir, para atingir determinados objetivos.

Muitos dos atores deste empreendimento existiam de fato. Outros precisariam ser criados. O mais importante deles, que naquele momento foi chamado de “Núcleo Tecnológico”, deveria ser uma entidade de ensino superior, com foco em silvicultura. Rapidamente, se fez um projeto, que foi apresentado para o então Secretário de Ciência e Tecnologia, que com a aprovação do Governador do Estado, resultou num processo de criação do curso inédito de Tecnólogo de Silvicultura.

Muitas horas de trabalho depois (dois anos e meio), com o envolvimento de muitos especialistas no assunto, o primeiro vestibular para o curso está sendo feito este ano, para a nova FATEC de Capão Bonito, cujos laboratórios (em construção) são realizados com tecnologia construtiva tipo woodframe, com toda sua estrutura feita de madeira de reflorestamento (pínus e eucalipto), tratada. Esse é apenas um dos resultados palpáveis desse processo.

Outros atores criados desde então foram a ASSIM - Associação da Indústria Madeireira de Capão Bonito, uma OSCIP - uma organização da sociedade civil de interesse público, que congrega as indústrias madeireiras regularmente estabelecidas no Município, e o COMDEF - Conselho de Desenvolvimento Florestal.

A ASSIM, formalizou, em 2005, um Convênio com a VCP, que funciona da seguinte forma: A VCP destinou 2% da sua floresta (cerca de 700 ha) para o fornecimento de toras, de forma a suprir até 30% da capacidade produtiva das empresas associadas, por um preço médio abaixo daquele de mercado. As empresas, por sua vez, para cada real pago pela madeira da VCP, recolhem cinqüenta centavos de real para um fundo da própria ASSIM.

Esse fundo, só pode ser utilizado para o fortalecimento da cadeira produtiva, a critério da própria Associação. As ações feitas até agora resultaram no plantio de mais de cem hectares de florestas de eucalipto, e em algumas ações que consideramos chave para o desenvolvimento florestal na nossa região, como a compra de uma máquina universal de ensaios, com capacidade de 20 toneladas, para o curso de Engenharia Industrial Madeireira do Campus da UNESP de Itapeva. Esse convênio com a Universidade Paulista tem o objetivo de gerar ensaios físico-mecânicos, para qualificar as espécies e cultivares existentes na nossa região, para uso múltiplo.

Essa ação em conjunto com outras ações que estão sendo estabelecidas com a Embrapa Floresta e a ONG ECOAR irão nos permitir desenvolver em médio/longo prazo, seleções genéticas e clones específicos para o uso múltiplo, com baixos índices de retratibilidade, fissuramento, boa relação densidade/resistência mecânica, etc.

O COMDEF, por sua vez, tem a missão de estabelecer a ligação do setor produtivo da madeira com as outras forças atuantes no Município, como os produtores rurais, a Associação Comercial, Ibama, APTA Regional, Conselho de Defesa do Meio Ambiente, etc., de forma que as ações para ampliação das florestas plantadas no Município possam ser feitas de forma sustentável.

Aos poucos, estamos vendo o esboço inicial do projeto ir tomando forma e os resultados começam a aparecer. Vale destacar que desde o início deste processo, o conceito de conduta ética dos participantes foi sempre frisado. Em todos os documentos produzidos, há cláusulas com penalidades muito sérias para aqueles que agirem de forma imprópria, colocando em risco o sucesso das ações coletivas.

Esse tipo de postura gera mais transparência ao processo e legitima as ações como um todo. Aquele coro de ignorantes, falando mal do eucalipto como se fosse uma praga, já não tem tanto eco na sociedade, que está começando a perceber a floresta plantada como uma riqueza do município. Graças a ela, a cidade agora conta com uma Faculdade Pública.

O Convênio estabelecido com a VCP tem prazo de dez anos e expira em 2015, mas eu acredito que a empresa não irá deixar de renová-lo. Renovando-o, tenho certeza que não será meramente para cumprir uma “obrigação” de compromisso com o órgão certificador FSC ou qualquer outro, mas porque os resultados obtidos irão superar em muito as suas mais ousadas projeções, no aspecto do desenvolvimento socioeconômico de uma região.