Pesquisador Sênior do Imazon
Op-CP-12
A queima de combustíveis fósseis é o principal fator que contribui para as emissões de gases estufa para atmosfera e tem como conseqüência o aquecimento global do planeta. A corrida por fontes de energia renováveis e não-poluentes começou. Em 2007, no Brasil, segundo relatório preliminar da EPE - Empresa Brasileira de Energia, 46,4% da matriz energética brasileira foi de fontes renováveis: energia hidráulica e eletricidade respondem por 33,4%; lenha e carvão vegetal, por 12%; produtos da cana-de-açúcar, por 16%; e os 3% restantes provêm de outras fontes.
A princípio, a matriz energética brasileira seria motivo de orgulho e comemoração, não fosse o fato de que essas fontes de energia renováveis podem contribuir, direta ou indiretamente, para poluir a atmosfera. Ilustro abaixo um caso de produção não-sustentável de bioenergia e apresento uma reflexão sobre o potencial para reverter esse quadro.
É importante, inicialmente, entender alguns conceitos. Biomassa é a matéria orgânica que contém a energia solar armazenada, via fotossíntese, ou seja, é o combustível em forma bruta. Bionergia é a energia extraída da biomassa para diversos propósitos – produção de calor, eletricidade, por exemplo. Bioenergia e biocombustível são, de fato, sinônimos.
A produção de energia, a partir de lenha e carvão vegetal, segunda fonte renovável da matriz energética do Brasil em 2007, não é, em geral, ambientalmente sustentável. Na Amazônia Oriental, a indústria siderúrgica do pólo de Carajás é abastecida por carvão vegetal produzido, principalmente, a partir do desmatamento de florestas nativas.
Um estudo da Embrapa Amazônia Oriental, estimou que, somente em 2005, 100 mil hectares de florestas foram desmatados para produzir carvão vegetal, para geração de ferro-gusa na região. O exemplo do pólo siderúrgico de Carajás coloca em xeque a sustentabilidade ambiental e econômica da produção de energia a partir de florestas. Mas, essa situação pode ser revertida com reflorestamento, melhor aproveitamento dos resíduos de madeira e desenvolvimento de tecnologia para aumentar a eficiência e reduzir os custos de produção de bioenergia.
Em relação ao reflorestamento, o governo do Pará lançou, no final de maio, um programa ambicioso, com a meta de plantar um bilhão de árvores. A ONG Conservação Internacional também lançou um programa semelhante em abril, com a meta de plantar um bilhão de árvores na Mata Atlântica. Até o lançamento dessa edição, mais de 300 mil árvores foram plantadas na Mata Atlântica.
Essas iniciativas de reflorestamento fazem parte do PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, que tem a meta de plantar um bilhão de árvores no planeta. Só no Brasil, a meta proposta foi duplicada. O reflorestamento será dedicado à recomposição das florestas nativas. que foram desmatadas. Mas, essas iniciativas criam as condições favoráveis para propostas de reflorestamento de florestas energéticas sustentáveis.
O reflorestamento para produção de bioenergia deve ser entendido como uma iniciativa paralela à recomposição de florestas nativas e deve ser liderada pelo setor produtivo. Além do reflorestamento, a bioenergia também pode ser produzida a partir dos resíduos da exploração madeireira, oriunda de planos de manejo florestal. Na Amazônia, foram produzidos 24 milhões de m³ de madeira em tora, em 2004, dos quais 40-60%, virou lixo.
Esses resíduos não têm sido aproveitados na geração de energia – poucas serrarias da Amazônia utilizam as sobras de madeira nos fornos de estufas. As florestas plantadas para produção de celulose e de móveis também geram muito resíduo, que pode ser aproveitado para produção de bioenergia. Somando-se todas essas fontes potenciais de energia renovável, o cenário é bastante otimista para florestas energéticas.
Contudo, é preciso garantir, com políticas públicas, que esse tipo de energia renovável não seja produzido em áreas de produção de alimentos – o que ocorre nos Estados Unidos, com a produção do etanol a partir do milho, e em algumas áreas no Brasil, onde plantações de cana-de-açúcar substituem pastagens e áreas de produção de grãos, que, por sua vez, avançam sobre as florestas.
É preciso também garantir que a plantação de florestas energéticas não gere impactos na biodiversidade, nos solos e nos recursos hídricos locais. A grande vantagem do Brasil nesse cenário é a possibilidade de produzir bioenergia, a partir de florestas energéticas plantadas em áreas já degradadas, que geralmente possuem baixa produtividade ou estão abandonadas.
Essa iniciativa pode também ser incluída em projetos de seqüestro de carbono, gerando CERs - Certificados de Emissões Reduzidas, via Protocolo de Kyoto. As condições políticas e econômicas, e o histórico da matriz energética do Brasil, com forte ênfase em energia renovável, favorecem a produção de energia, a partir de florestas energéticas.
Cada um de nós pode plantar a sua árvore e ajudar na meta de dois bilhões de árvores no Brasil, criando uma sociedade que valoriza as florestas; o setor produtivo pode puxar a agenda para plantação de florestas energéticas; e o governo pode apoiar essas iniciativas e fomentar pesquisa e desenvolvimento de tecnologia, para produzir bioenergia, a partir de resíduos de madeira. Somente com florestas energéticas sustentáveis, poderemos ter orgulho de nossa matriz energética.