Gerente de Mercado Florestal da Tracbel
Op-CP-06
Desde que acompanho o processo de mecanização na área florestal, na década de 90, percebi mudanças significativas no setor. A política de redução das alíquotas de importação, introduzida no governo Collor, abriu oportunidade de acesso às tecnologias oriundas dos países escandinavos e norte-americanos, dos sistemas cut-to-lenght, tree-lenght e à combinação dos dois.
As empresas de papel e celulose largaram na frente, inovando o processo de mecanização, com máquinas de grande porte. Foi um grande avanço, isto porque várias empresas vinham com histórico de desenvolvimento de produto made in Brasil, devido à dificuldade de viabilizar a mecanização, por conta dos altos custos de nacionalização dos equipamentos importados.
Na ocasião, o desafio do trabalho era convencer que a mecanização com equipamento de alta tecnologia era importante para que as empresas se tornassem mais competitivas. Para muitas delas, existia o argumento de que o volume da floresta não comportaria a mecanização. Também existia a resistência de se submeterem aos desafios que a mudança da cultura (do corte manual para o mecanizado) iria trazer a empresa, tais como o impacto ambiental, formação de estrutura de manutenção, sinergia da área de compras com a operação, formação de operadores, entre outros.
Com o tempo, as empresas foram obtendo domínio da tecnologia e passaram a ser importante fonte supridora de informações para os fabricantes estrangeiros de equipamentos e acessórios. O primeiro desafio encontrado pelos fabricantes foi fornecer produtos robustos o suficiente para resistirem à alta intensidade de trabalho de nossa operação, aliada às condições de temperatura, nível de nossos operadores e mantenedores.
Inevitavelmente, surgiu a necessidade de “tropicalização” dos produtos. Exemplo genuinamente brasileiro e em crescente tendência é a necessidade de deixar a casca do eucaliptus na floresta. Outras exigências de importante peso têm sido atendidas nas configurações dos equipamentos, tais como motores com baixa emissão de poluentes (TIER II, TIER III), mais conforto para o operador (cabine mais espaçosa, sistema de suspensão automática), software de monitoramento do equipamento e da operação e sistemas de envio de informações do equipamento, via telemetria.
Sistemas de colheita: Nas apresentações realizadas em simpósios, seminários e painéis florestais, muito se fala na forte tendência da migração do sistema tree–lenght para o sistema cut-to-lenght. Isto porque o segundo sistema impacta menos a floresta, oferece mais conforto ao operador, envolve um menor número de equipamentos, etc. O fato é que ambos os sistemas oferecem vantagens e desvantagens, de acordo com o perfil de cada empresa. Mas, a tendência de se deixar a casca (eucaliptus) no campo está fazendo com que muitos optem pelo sistema cut-to-lenght, por dispor do recurso do cabeçote harvester descascador.
No setor dos produtores de carvão vegetal, apesar de ainda pouco mecanizado, vê-se uma tendência para o sistema tree-lenght, com algumas experiências já sinalizando para o sistema escandinavo. Este setor passa por um momento muito interessante. É a consolidação dos fornos retangulares, que possibilitam efetuar toda a operação de carga de toras e descarga do carvão mecanizada. A mecanização da carga possibilitou trabalhar com comprimento de toras maior, com isso, mudando toda a operação de corte, baldeio e transporte, viabilizando, assim, a mecanização no campo.
Esta mudança é recente e tem alcançado bons resultados. Vale destacar a presença dos tratores agrícolas, que ainda continua sendo uma alternativa muito segura para operação de florestas de baixo volume e empreiteiros com baixas cotas por contrato. Por conta deste nicho, empresas estrangeiras estão oferecendo interessantes alternativas de acessórios, para o trabalha com tratores agrícolas.
O crescente aumento de produtores independentes e a produção estimada de 40 milhões de metros cúbicos em 2010 oferecerão boas oportunidades para os equipamentos de médio porte. A tecnologia e o empreiteiro florestal: A decisão de terceirizar a manutenção e/ou a operação tem sido o caminho de boa parte das empresas que já passaram por vários ciclos de mecanização própria. O domínio dos sistemas e das variáveis relacionadas à tecnologia contribuiu para a opção da terceirização.
Para a indústria de equipamentos será um novo desafio, já que haverá a necessidade de se criar tecnologias que atendam às necessidades dos clientes. Historicamente, toda a tecnologia oriunda dos equipamentos escandinavos tiveram forte contribuição dos empreiteiros florestais. Várias empresas têm, em sua história, uma pessoa que foi empreiteiro ou operador de máquinas e que, não satisfeito, decidiu montar a própria solução.
Cabe agora às legislações brasileiras, trabalhista e fiscal, ajustarem-se para alavancar mais ainda a participação do empreiteiro na operação florestal. A contribuição dos fabricantes e distribuidores: Os grandes fabricantes de equipamentos pesados, através de seus distribuidores, tiveram importante parcela de contribuição, identificando as necessidades, introduzindo conceitos, produtos e desenvolvendo soluções nacionais.
Alguns distribuidores, por conta do comprometimento com o setor e da confiança criada no relacionamento com o cliente, foram mais à frente, suportando a operação, através de contratos de manutenção tipo full service. Neste contrato, o distribuidor responsabiliza-se por 100% da manutenção dos equipamentos, garantindo disponibilidade da frota para operação.
Nesta situação, o distribuidor teve que sentir na pele (e também no bolso), o quanto realmente a tecnologia embarcada nos equipamentos o ajudou ou não no cumprimento dos índices relacionados nos contratos. A proximidade com a operação e a fábrica deu um novo impulso no que está relacionado à melhoria de tecnologia para facilitar a manutenção e a operação.
Com a forte tendência do Brasil ser o carro chefe da América Latina, como um dos principais produtores florestais do mundo, muitas empresas estão se estabelecendo aqui para, com isso, entender de perto as necessidades locais. E, não por menos, estão desenvolvendo soluções nacionais, o que possibilitará aos clientes adquiri-las, com condições de preços e de financiamento. E aí sim, quem sabe, poderemos, num futuro próximo, chegar no estágio de exportador de produtos de tecnologia no setor florestal.