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Túlio Jardim Raad

Gerente de P&D em Carbonização da V&M Florestal

Op-CP-12

Produtos derivados da produção de carvão vegetal: uma nova visão

O Brasil é o único país no mundo que produz, em larga escala, produtos metalúrgicos, utilizando como termorredutor o carvão vegetal. Do ponto de vista ambiental, não se pode contestar a enorme diferença entre o uso de um insumo totalmente renovável e o uso de recursos de natureza fóssil (coque). A boa notícia é que, desde a última década, esta participação vem aumentando: em 1998, a produção de ferro-gusa foi de 25 Mton, sendo 26% a carvão vegetal e, em 2006, a produção de gusa aumentou para 32,5 Mton, sendo 35% a carvão vegetal, segundo a AMS, Anuário 2007.

Mas, isto não é suficiente. Para cada tonelada de madeira utilizada no processo de produção de carvão, é lançada na atmosfera 0,65 tonelada de gases. Há algumas décadas, poderíamos afirmar que, do ponto de vista técnico-econômico, não tínhamos como agregar valor a estes gases, mas, hoje, com as tecnologias atuais disponíveis de menor custo e totalmente nacionalizadas, não temos como fugir da urgente necessidade de avançar nesta questão. Gases que ontem eram resíduos, hoje são produtos derivados.

Vamos a alguns números básicos: ao utilizarmos uma tonelada de madeira (base seca), em processos convencionais de produção de carvão (fornos de alvenaria), temos, atualmente, com uma carbonização eficiente, cerca de 350 kg de carvão vegetal, 300 kg de água (pirolenhoso), 130 kg de óleo (alcatrão vegetal) e 220 kg de gases (CO2, CO, CH4).

Quando falamos em produto derivado, temos que falar da tecnologia que o faz como tal e seu respectivo uso comercial. Começamos pela água destilada, denominada pirolenhoso: esta fração é obtida por equipamentos que recuperam, dos gases da carbonização, o líquido condensado, via lavadores de fumaça (mais simples) ou condensadores em série (mais sofisticados).

Considerado como biofertilizante natural de alta performance, o pirolenhoso pode ser empregado na adubação foliar e/ou radicular, no preparo do solo e na aplicação de defensivos agrícolas. Resultados positivos já foram publicados na literatura para culturas de arroz, cana-de-açúcar, feijão e café. O segundo produto, o óleo destilado (alcatrão vegetal), é recuperado pelas mesmas tecnologias usadas para o pirolenhoso.

Quanto à sua aplicação, podemos citar, em primeiro lugar, seu uso como combustível, em substituição aos de origem fóssil (petróleo, gás natural e carvão mineral) e para geração de energia (uso em fornos de produção de cimento ou termogeração, para produção de eletricidade). Deste óleo, utilizando-se de destiladores apropriados, podemos ainda produzir plásticos e resinas, ligantes e aglomerantes, medicamentos para a saúde animal, aromatizantes para uso alimentício e outros em desenvolvimento.

O terceiro produto são os gases não condensáveis. Através de queimadores, já disponíveis no mercado, é possível queimar os gases combustíveis não condensáveis (monóxido de carbono, CO, e metano, CH4), para, em conjunto com geradores de vapor e turbina, produzir eletricidade. Não podemos esquecer aqui a importante contribuição deste processo para a redução do efeito estufa.

O Brasil consome, anualmente, cerca de 9 milhões de toneladas de carvão vegetal. Assim, o potencial anual de produção dos derivados é de: 7,7 Mton de pirolenhoso, 3,3 Mton de óleo destilado e 5,7 Mton de gases GNC. A tabela em destaque estima os termos de faturamento, por mercado potencial. Com o preço do carvão, em média, a R$ 500/ton (base 2007), tem-se, anualmente, R$ 4,5 bilhões para este produto, versus o potencial de faturamento dos derivados, com cerca de R$ 2,5 bilhões, uma expressiva fatia de 56%, em relação à base do mercado de carvão vegetal. Falamos de bilhões de reais, mas não podemos esquecer dos milhares de empregos.

Segundo a AMS, somando-se empregos diretos, indiretos e fator renda, temos quase 700 mil trabalhadores beneficiados pelo setor de produção de carvão vegetal. Com os investimentos necessários e mobilização dos setores da sociedade para assimilar os produtos “verdes” não será exagero estimar que este número passe da casa do milhão de trabalhadores.

É bom lembrar dos resultados deste empreendimento no aumento da fixação do homem no campo e da melhoria correspondente do IDH - Índice de Desenvolvimento Humano, nas regiões distantes dos grandes centros urbanos. Dados da Fundação João Pinheiro e IPEA mostram que, de 1990 a 2001, o crescimento percentual médio do IDH de diversas cidades do Vale do Jequitinhonha (grande pólo de produção de carvão vegetal) foi de 17%, contra 11% do estado de Minas Gerais e 6% de Belo Horizonte.

Neste cenário promissor, temos que destacar que grandes empresas produtoras de carvão vegetal, principalmente em MG, onde 60% dos insumos são produzidos, já vêm se mobilizando para recuperar o tempo perdido e partir para uma nova era de aproveitamento da biomassa. A solução para o sucesso deste empreendimento já está escrita: repetir o modelo adotado por estas empresas, que se uniram já, há algumas décadas, para desenvolver, em conjunto, o parque florestal de alta produtividade e de invejável processo tecnológico, totalmente nacional, que temos hoje.