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Luiz Carlos Goulart

Gerente de Projetos de Carbono da Plantar

Op-CP-11

O sistema florestal brasileiro e as mudanças climáticas

A indústria de base florestal brasileira, composta, principalmente, pela produção de papel e celulose, ferro e aço e de painéis de madeira, está efetivamente contribuindo de maneira mensurável e atribuível para a mitigação dos gases do efeito estufa.

Apesar disso, parte de seus serviços ambientais e climáticos prestados não são remunerados, em função das atuais regras do MDL - Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, do Protocolo de Kyoto, em especial dos conceitos de elegibilidade das áreas florestais - reforma de florestas exauridas não são elegíveis - e as regras de comprovação da adicionalidade - projetos que seriam executados independentemente do MDL não são considerados adicionais.

Para se ter uma idéia da magnitude dos números, com a possível expansão da base florestal da ordem de 6 milhões para 10 milhões de hectares, liderada, principalmente, pelo aumento na demanda de papel e celulose, este incremento de 4 milhões de hectares será o responsável direto pela remoção adicional de aproximadamente 800 milhões de toneladas de dióxido de carbono da atmosfera.

Estes potenciais 800 milhões de toneladas de dióxido de carbono que serão removidos da atmosfera tornam-se muito mais significativos se adicionarmos os 500 milhões de toneladas previstos no programa de redução de queimadas do Ministério do Meio Ambiente. Isto é maior do que todas as emissões de dióxido de carbono do inventário brasileiro do ano de 1994.

Diante das regras estabelecidas para projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, principalmente as regras de elegibilidade e adicionalidade, há ainda uma grande possibilidade de desenvolvimento de projetos para o setor de produção de ferro e aço, englobando todo o sistema produtivo, desde a implantação das florestas, passando pelo processo de carbonização da madeira, até a etapa final de produção, uma vez que a adicionalidade para este setor estará garantida, em virtude do seu conhecido déficit de estoque de florestas plantadas, o chamado apagão florestal.

A economia mundial tem experimentado um espetacular crescimento nos últimos anos, notadamente as economias emergentes (China, Índia, etc.) que lideram este crescimento, refletindo diretamente na demanda por ferro e aço. O Brasil está entre os dez mais importantes players neste concorrido mercado. A produção brasileira de ferro primário ou ferro de primeira fusão cresceu, consistentemente, na ordem de 4,36% ao ano, no período de 1983 a 2006, tendo saltado de uma produção de 12 milhões, para 32 milhões de toneladas anuais.

Um dos componentes da produção do ferro primário é o carbono, que é utilizado como agente termo redutor, cujas fontes principais na natureza são o carvão mineral, fonte de emissões, o carvão vegetal de florestas nativas não renováveis, também fonte de emissões e o carvão vegetal renovável, originado de florestas plantadas, portanto, carbono neutro.

Sem a pretensão de advogar o uso exclusivo de uma ou de outra fonte dessa importante matéria-prima que é o carbono, e mesmo reconhecendo o carvão vegetal de origem renovável como muito superior em termos de sustentabilidade socioambiental e também especificamente em termos do aquecimento global, comparativamente às duas outras opções, existe uma composição de modelo de produção extremamente interessante, que pretendemos destacar a seguir.

O carvão vegetal já era utilizado por parte das empresas produtoras de ferro primário no Brasil, como agente termo redutor. Entretanto, com o fim dos incentivos fiscais do Governo Federal em 1986, o estoque de florestas plantadas dedicadas a este nicho de produção foi reduzido substancialmente e quase chegou à fase final de exaustão, por volta do ano 2000.

Em especial, fazia parte deste setor, um grupo de pequenos produtores, os quais não geravam recursos suficientes para investir na reforma das florestas exauridas e nem tampouco o mercado financeiro oferecia linhas de crédito suficientes e compatíveis com a atividade: volume, carência e taxa de juros. A partir do Protocolo de Kyoto, estabelecido em 1997, por meio do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, surgiu a oportunidade de resgatar esta atividade, com benefícios adicionais e mensuráveis na mitigação dos gases provocadores do efeito estufa.

Desse modo, considerando as três rotações das florestas de eucalipto, que totalizam um ciclo de 21 anos, somadas à redução de emissão pelo não uso do agente termo redutor de origem fóssil, é possível tornar carbono neutralizado toda produção de ferro e aço do Brasil, com apenas um terço dessa produção modulada para o uso de carvão vegetal de florestas renováveis. Esses cálculos devem ser considerados somente para o período de 21 anos, devido à característica de temporalidade das remoções promovidas pelo plantio das florestas.

É possível fazer com que toda produção seja carbono neutralizado, de modo permanente. Para que isso ocorra, a produção de ferro e aço deverá ser modificada para que 50% dela utilize carvão vegetal de origem renovável e ainda fazer com que sejam eliminadas as emissões de metano no processo de carbonização da madeira. Carvão vegetal - biocombustível sólido e renovável - pode vir a ser o ponto de partida de uma série de produtos neutralizados, em termos de emissões dos gases de efeito estufa: ferro gusa verde, aço verde e, por fim, o carro flex fuel, produzido cem por cento com ferro e aço carbono neutralizados.