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Angelo Márcio Pinto Leite

Professor do Depto. de Engenharia Florestal da UF dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri

Op-CP-77

Colheita em florestas equiâneas
Coautor: Gilciano Saraiva Nogueira, Professor do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa

As florestas equiâneas no Brasil, também conhecidas como florestas plantadas ou florestas cultivadas, são majoritariamente representadas pelos gêneros Pinus e Eucalyptus. Elas são fornecedoras de matéria-prima para setores importantes da economia brasileira, como a indústria de celulose e papel, a indústria moveleira, a siderurgia, a construção civil e as indústrias de compensados, aglomerados, lâminas de madeira e chapas de fibra, entre outras.
 
Para garantir o suprimento/abastecimento de madeira de uma empresa florestal, é de suma importância a elaboração de um plano de manejo, estabelecendo as prescrições de colheita, isto é, as definições de onde, quando, como e quanto colher madeira ou outro produto florestal nas unidades de manejo, de forma sustentável. Estas prescrições consistem no ponto crucial do manejo florestal, visto que a colheita das árvores é o principal objetivo dos empreendimentos que envolvem produção madeireira.

A tomada de decisão para prescrição da colheita pode ser complexa e desafiadora, pois envolve a combinação de diversas variáveis e restrições, tais como:
• Exigência de regulação florestal – estrutura regulada com estabelecimento de áreas de corte anual equiprodutivas;
• Imposição de fluxo produtivo – cotas anuais de produção;
• Exigência de minimização de impacto ambiental e social;
• Garantia de sustentabilidade ambiental, social e econômica;
• Existência de diferentes espaçamentos entre plantas;
• Existência de povoamentos florestais com idades diferentes;
• Existência de diferentes materiais genéticos;
• Existência de talhões com diferentes formatos e tamanhos, com e sem a presença de estradas e/ou aceiros de acesso;
• Existência de locais com condições climáticas, topográficas, edáficas e capacidades produtivas diferentes.

O povoamento florestal é formado por um conjunto de talhões separados por estradas e aceiros, cada um contendo uma única espécie, clone, grupo de clones sob determinado espaçamento de plantio. O período entre o estabelecimento do povoamento e o corte de todas as árvores (corte raso) é a rotação florestal; e decidir sobre esta rotação para cada talhão é um dos principais problemas do manejo florestal.

Assim, o estabelecimento de um plano de manejo requer a definição da unidade de manejo, ou seja, do compartimento da floresta que será submetido a uma mesma prescrição. O talhão (ou quadra) é a menor unidade de manejo, porém, dependendo do nível de planejamento (operacional, tático ou estratégico), um povoamento ou uma classe de idade pode ser considerado como uma unidade de manejo.
 
Uma característica das florestas equiâneas destinadas para fins madeireiros é que suas unidades de manejo têm sempre um início (estabelecimento) e um final (corte raso ou corte de todas as árvores de um determinado compartimento), ou seja, a rotação. 

A definição dessa rotação depende das características de cada unidade de manejo e de diversas restrições: econômicas, ambientais, sociais, de demanda, de área e de regulação da produção florestal, dentre muitas outras. Além disso, sempre se busca empregar as melhores práticas silviculturais, minimizar os impactos ambientais, manter a produtividade do sítio e maximizar a rentabilidade econômica.

Possíveis impactos da colheita sobre o funcionamento harmônico da microbacia (compactação do solo, erosão, perda de nutrientes pela retirada de biomassa florestal, perda de nutrientes pela água do deflúvio, ruptura da ciclagem de nutrientes etc.) podem ser minimizados por meio de práticas de manejo como, por exemplo: determinação da densidade ótima, construção e manutenção de estradas florestais e aceiros ambientalmente corretos; manutenção da serapilheira; permanência de folhas e ramos (biomassa não utilizada) no local da colheita; seleção de material genético com maior eficiência na utilização de nutrientes; colheita em mosaico, variando sua localização e intensidade; aumento do período de rotação florestal; proteção de zonas ripárias; métodos e técnicas de colheita adequada e com operações menos impactantes na movimentação do solo, respeitando as condições climáticas, topográficas, edáficas e as áreas mais sensíveis da microbacia.
 
Para produção de árvores de pequeno porte, usadas como matéria-prima em empresas dos setores de celulose, painéis de madeira reconstituída, carvão e energia, são empregados os regimes de corte alto fuste e talhadia, onde a finalidade é maximizar a produção de madeira por unidade de área. Em um povoamento florestal sob regime de alto fuste, as árvores são originárias do plantio de mudas ou via semeadura direta, enquanto na talhadia o povoamento é formado a partir da brotação das cepas remanescentes do corte das árvores. O ciclo de corte é o período entre a implantação do povoamento até a sua reforma completa, isto é, novo plantio de mudas, podendo envolver uma ou mais rotações.
 
Para produção de árvores de grande porte, de maior valor individual e com características tecnológicas adequadas para serraria, laminação, postes e indústria moveleira, recomenda-se a realização de cortes parciais (desbastes), procurando manter as árvores remanescentes livres de competição pelos recursos de crescimento. Nesse caso, a rotação florestal é maior, em relação ao povoamento conduzido sem aplicação de desbastes.
 
O grande número de variáveis presentes nas tomadas de decisão relacionadas à colheita florestal exige experiência e muito conhecimento sobre os elementos do manejo, os métodos existentes e sobre as técnicas analíticas. Exige também o emprego de modelos de otimização implementados em sistemas de suporte a decisão. Métodos estatísticos, matemática financeira, pesquisa operacional, inteligência artificial e geotecnologias, além de métodos usuais de mensuração florestal e de levantamento de dados de campo do povoamento/talhão florestal são fundamentais para subsidiar decisões sobre colheita de madeira em cada compartimento da floresta.

Estas decisões são importantes para garantir o suprimento/abastecimento de madeira de uma empresa florestal, envolvendo as operações de corte/derrubada das árvores e seu processamento; o baldeio/arraste dos fustes/toras; e o transporte principal da madeira ao seu local de utilização. 

Visam também garantir maior produtividade e menor custo da colheita florestal, que podem ser afetados por diversos fatores entre os quais: planejamento da atividade, condições locais (clima, topografia e solo), tipo de floresta (natural ou plantada), diâmetro ou volume individual das árvores (VMI), tipo de intervenção adotada (corte raso ou seletivo), máquinas e equipamentos utilizados, distância média de transporte da madeira, treinamento dos trabalhadores, entre outros aspectos.

Neste sentido, por a colheita constituir a etapa de maior custo de um processo produtivo florestal comercial, esta deve se apoiar num planejamento adequado das atividades; na seleção de métodos e técnicas eficientes; na utilização de máquinas e equipamentos de alta tecnologia embarcada; num adequado programa de treinamento, de saúde e segurança no trabalho da mão de obra; num eficiente programa de manutenção das máquinas e equipamentos; numa gestão competente com apoio das ferramentas da tecnologia da informação (controle operacional e de custos), entre outras coisas, a fim de se alcançar uma colheita de alta performance.

Portanto, o corte raso de árvores é uma colheita planejada e fundamentada no uso de métodos técnico-científicos de manejo florestal, com base no monitoramento do crescimento de um povoamento florestal e busca da sustentabilidade da produção dos pontos de vista ambiental, social e econômico.