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Jorge Alberto Gazel Yared

Chefe Geral da Embrapa Amazônia Oriental

Op-CP-07

Uso comercial de espécies nativas: a experiência com o Paricá

Até poucas décadas atrás era impossível imaginar o desenvolvimento de uma atividade como a de reflorestamento na região Amazônica, considerando-se a imensa cobertura florestal que recobre o seu território. Hoje, a realidade mudou, pois, segundo as estatísticas, cerca de 70 milhões de hectares de áreas ocupadas por florestas naturais deram lugar à implantação de projetos, com a finalidade de outro tipo de uso da terra, e uma porção significativa (25% a 30%) dessas áreas alteradas tornou-se improdutiva, sendo subutilizadas ou abandonadas.

A oferta de áreas abertas, entre outros fatores, atua fortemente em favor da atividade de reflorestamento. A questão ambiental, envolvendo a discussão com o problema do aquecimento global, abre novas oportunidades para o estabelecimento de plantações, a partir do acesso ao protocolo de Kyoto, agregando valor aos empreendimentos, pelo pagamento de serviços, em decorrência do seqüestro de carbono.

A demanda para produção de biomassa, como fonte alternativa de energia, integra-se ao novo modelo da matriz energética, definida nas políticas públicas para o país, criando espaços para o reflorestamento na Amazônia. Por outro lado, a elevação do preço da madeira, em função da escassez da matéria-prima, em regiões onde estão estabelecidas as indústrias de base florestal, viabiliza economicamente a atividade de reflorestamento.

Sem dúvida, o Brasil notabilizou-se como referência no domínio de tecnologias para o reflorestamento, principalmente com espécies exóticas, incluindo-se as espécies de eucaliptos e Pinus spp, mas o mesmo não pode ser afirmado com relação às espécies nativas. Parece que esse paradigma começa a mudar e o exemplo com o paricá (Schizolobium amazonicum Huber ex. Ducke) vem demonstrar essa assertiva. Pertencente à família Caesalpinacea, o paricá é uma espécie leguminosa que apresenta rápido crescimento.

A madeira é utilizada pelas indústrias de lâminas e compensados, em razão de suas características e propriedades adequadas para essa finalidade. Em menos de uma década, foram estabelecidos cerca de 50 mil hectares de florestas plantadas com paricá, especialmente no nordeste do estado do Pará, com retorno esperado a uma taxa que ultrapassa os 20% ao ano.

Três fatores foram fundamentais para que o paricá atingisse esse performance: os resultados da pesquisa em silvicultura, a inovação no uso de equipamentos para o desdobro das toras e o pioneirismo empreendedor das empresas. A pesquisa silvicultural com o paricá remonta da década de 70, quando diversos ensaios foram realizados em várias partes da Amazônia.

Os resultados preliminares já demonstravam que a espécie era de fácil propagação por sementes, apresentava rápido crescimento e a árvore era de fuste linheiro, desprovido de galhos, o que reflete favoravelmente na qualidade da madeira. Somente na década de 90, foi que os reflorestamentos começaram a ganhar escala. Para tanto, houve importante contribuição das instituições de pesquisas que atuam na região, divulgando os seus resultados e demonstrando as tecnologias desenvolvidas por meio do plantio do paricá, em sistema agrossilvipastoril, especialmente na região de Paragominas.

Atualmente, os povoamentos homogêneos das empresas, adotando espaçamentos de 4m x 4m, alcançam a produtividade entre 25 a 30 m³/ha/ano, entre o sétimo e décimo ano, momento em que atingem a sua rotação para colheita. Vale ressaltar que para essa produtividade ainda não há material propagativo que tenha passado por processo de seleção, e esta poderia ser substancialmente elevada com o melhoramento genético.

A maioria das indústrias de lâminas e compensados na Amazônia ainda utilizam equipamentos desenvolvidos para o desdobro de toras de grandes dimensões, o que leva a baixo rendimento, deixando bastante resíduos. As indústrias que utilizam o paricá inovaram e, ao promoverem a adaptação dos tornos de modelos tradicionais para o desdobro de toras de menores diâmetros, alcançaram um aproveitamento quase integral das mesmas, deixando “rolos restos” em até 4 cm.

A região de Paragominas, foi um dos maiores centros de produção de madeira de florestas naturais, na Amazônia, e com a implantação dos projetos agropecuários em áreas de florestas, rapidamente chegou à escassez da oferta de madeira, proveniente dessa fonte. Enquanto diversas indústrias de serrarias migraram para outras localidades com abundância de florestas, outras empresas permaneceram naquela região e apostaram no reflorestamento com o paricá.

O pioneirismo dessas empresas, que acreditaram no potencial do paricá, foi importante e tem, hoje, o seu abastecimento garantido, com base nesta espécie. Além disso, uma outra característica importante na silvicultura do paricá é a possibilidade de sua utilização de forma mais ampla em sistemas de produção. As suas árvores podem ser associadas em plantios mistos com outras espécies florestais ou em sistemas agroflorestais, seja com cultivos agrícolas anuais (arroz, milho, feijão e mandioca) ou perenes (cupuaçu, cacau, pimenta-do-reino, café), e ainda em associação com pastagem.

A adoção dessas práticas torna-se desejável, pois, além de minimizar os custos dos povoamentos, os plantios homogêneos estão sujeitos à maior incidência de doenças ou pragas, especialmente em uma região de clima quente e úmido, como é o caso na Amazônia. Nos talhões de paricá, em certa medida, já vem ocorrendo esse tipo de problema. O exemplo com o paricá pode servir para diversas espécies nativas. Os resultados de pesquisas mostram possibilidades promissoras para a silvicultura de várias outras espécies.