Diretor de Projetos da Holtz Consultoria
Op-CP-09
A despeito do tamanho do setor florestal e de seus números, frente à economia nacional, ainda há muita história para ser escrita. Entretanto, essa história deverá ser emoldurada em um caminho marcado por visões claras e estratégias sólidas. Atualmente, com uma área de aproximadamente 5,5 milhões de hectares de florestas plantadas, para a finalidade de produção, o Brasil não é destaque mundial, ocupa o 7° lugar como plantador e está atrás de países como a China, Índia, EUA e outros.
O setor florestal está inserido no agronegócio nacional, cujo desempenho sustentou a balança comercial brasileira, respondendo pela quase totalidade (99,1%) do superávit observado no primeiro quadrimestre de 2007. Dentre os produtos do agronegócio estão os florestais exportados, representados por:
1. papel e celulose e
2. madeiras sólidas e seus derivados, que participaram com US$ 4,24 bilhões.
Este valor corresponde a 5,8% do total das exportações brasileiras no período e a 15,8% das exportações do agronegócio. Em 2006, a receita bruta do setor de florestas plantadas foi de, aproximadamente, R$ 6,4 bilhões, e para a cadeia produtiva da madeira, oriunda de florestas plantadas, esse montante chega à casa de R$ 56 bilhões. Estes números possuem tendência de expansão, pois já estão anunciados investimentos, em 2007, da ordem de US$ 3 bilhões no setor de celulose e papel, e no período de 2008 a 2012, US$ 8 bilhões.
Até 2012, também os setores de produtos de madeira sólida, painéis de madeira e siderurgia, investirão outros US$ 8 bilhões. Diante do vulto e representação crescente dos setores de base florestal e da capacidade de resposta econômica, há necessidade de uma visão integrada e estratégica, pois, é fato, que o setor florestal per si tem enfrentado problemas há, pelo menos, duas décadas, uma vez que não é suportado por políticas que assegurem o desenvolvimento e crescimento, o que tem sido promovido pela postura empresarial dos setores relacionados e interdependentes, com riscos alarmantes.
Em meio às tremulações de bandeiras políticas e sociais de toda ordem, o setor florestal e a cadeia produtiva da madeira estão estigmatizados pelo efeito similar ao descrito na década de 60, pelo então cronista, Stanislaw Ponte Preta, a obra denominada Febeapa, ou seja, o festival de besteira que assola o país. Assim, permeiam pela sociedade brasileira as mais estapafúrdias crendices e folclores de incomensurável irracionalidade em relação ao plantio de espécies florestais e às práticas da silvicultura como processo produtivo, mas com tamanha eloqüência, que colocam o setor florestal à deriva frente às instituições e, até mesmo, ao estado de direito, sobre o domínio da terra.
Não bastando as barreiras externas na economia global e o nível de competitividade, ainda há o esforço nacional para a perturbação do setor. As restrições de uso do solo aumentam, a cada dia, e são institucionalizadas e legalizadas como feitos de benesse colossal à sociedade e às futuras gerações. O estranho é não ser levado em conta a razão e os fatos, a experiência e o modelo de excelência, como a forma de uso do solo e o padrão de manejo florestal no hemisfério norte, o primeiro mundo, notada-mente nos países nórdicos e suas montanhas, com florestas produtivas.
Isto configura uma posição de fragilidade do setor, que deve ser contornada e neutralizada, por estratégias agressivas e amplas. A coalisão global pela busca da sustentabilidade de processos, esta nova ordem global, que através de agenda estabeleceu uma nova ordem, também nacional, deve ser considerada como a “bússola” orientadora, a indicação de caminho a ser seguido.
Os seguidores do movimento Neomalthusiano sabem que o setor florestal, como setor de base, pode transformar o país e dar respostas às falácias econômicas construídas ao final século XX, no Brasil. Atividade florestal é, essencialmente, sustentável e modificadora de status in loco, em qualquer dimensão em que se instale, e em prazos razoáveis, pois é a base para os processos industriais e o crescimento e desenvolvimento econômico, portanto não há necessidade de versar sobre tal fato, haja vista as regiões onde os plantios florestais instalaram-se nas décadas de 60, 70 e 80.
O que há, neste momento precioso, é a necessidade de reflexão do setor para uma convergência estratégica, alinhada com os segmentos agregados, visando compor ações consistidas, especialmente em três posicionamentos:
1. Construir uma efetiva representatividade política, pela capacidade de transformação histórica e promoção do realinhamento institucional e legal, ajustando às realidades do país e às necessidades do setor.
2. Vincular o setor florestal aos preceitos de atividade limpa, com ganhos ambientais, sociais, atividade sustentável, e negócio inserido no conceito chave de “Eco-Eficiência” e Life Cycle Assessment, configurando o modelo de GRI - Global Reporting Initiative, que promoverá a atividade florestal, com suas múltiplas finalidades e vantagens.
3. Implementar a atividade, em amplo aspecto, com políticas de expansão, para melhor ocupação de áreas, com metas auspiciosas para esta década e a próxima, considerando desenvolvimento técnico e tecnológico e alinhamento com a economia global, o Brasil como player.
O desafio da atividade florestal no Brasil e a conciliação da competitividade com a sustentabilidade, porém mais contundente, é o desafio imposto pelo ambiente externo e pela necessidade da sociedade e do governo compreenderem o tamanho e a importância do setor para o país. A evidência, neste momento, é da necessidade de coesão e esforço orientado para o setor compor nova visão e novas posturas estratégicas, ou pelo menos um ensaio em torno das possibilidades de mudar a realidade da política setorial atual, para não haver o estrangulamento pré-anunciado pela conjuntura, desenhada por princípios equivocados, para a construção do futuro do país.