Pesquisador da Embrapa
Op-CP-10
Duas novas idéias na gestão dos negócios foram introduzidas, em anos recentes: os clusters, também chamados de Aglomerados ou Arranjos Produtivos Locais, APLs, e as cadeias produtivas. Os APLs foram preconizados como uma forma de aumentar a sinergia, oriunda da aglomeração de firmas de natureza similar, facilitando vínculos entre fornecedores de insumos e matérias-primas, produtores industriais e compradores.
Também, um maior compartilhamento de serviços de interesse comum, como a divulgação mercadológica, e a formação de redes para a transferência de tecnologia. Por seu turno, a visão da produção organizada em cadeias produtivas agropecuárias, com firmas especializadas, por funções de suprimento de insumos, produção primária de matéria-prima agrícola, agroindústrias processadoras ou transformadoras das matérias-primas, distribuição atacadista e varejista, e consumidor final, foi desenvolvida com a finalidade de melhorar a gestão dos complexos sistemas setoriais de negócios, pela compreensão dos atores, processos produtivos, fluxos de capital, informações materiais das transações entre os componentes.
O desenvolvimento de metodologias e de instrumentos de pesquisa permitiu uma ampla gama de aplicações desse enfoque, tais como a gestão da eficiência produtiva agrícola e agroindustrial, da qualidade dos produtos, da competitividade na gestão da tecnologia, de contratos formais e informais e na formulação de políticas públicas, para a melhoria da competitividade.
Examinemos o caso dos clusters florestais. Pode-se argüir se seria vantajosa (e viável), a aglomeração de pólos industriais nas proximidades de empreendimentos florestais. A questão, automaticamente, nos remete a investigar como seria a inserção desses clusters, como mecanismos de gestão de negócios, nas cadeias produtivas. Por facilidade de análise, somente será considerado o caso dos clusters moveleiros.
São referenciados como os mais importantes os clusters moveleiros de Ubá (MG), Linhares e Colatina (ES), Arapongas (PR), Votuporanga, Mirassol, Jaci, Bálsamo e Neves Paulista (SP). A produção é, principalmente, voltada para o mercado interno, mas já há registro de exportações (US$ 700 milhões em 2001). O principal produto são móveis residenciais, seguido de móveis de escritório e outros usos. O faturamento atingiu US$ 9,3 bilhões em 2001, segundo o MDIC.
Uma primeira constatação é que o complexo madeireiro-florestal apresenta uma tremenda importância dentro do panorama do agronegócio nacional. Se adicionados ao faturamento das cadeias produtivas de móveis, os demais complexos agroindustriais (celulose, biomassa, painéis etc.), certamente apresentariam faturamentos e movimentação de capitais semelhantes ou superiores aos apresentados pelo complexo agroindustrial dos grãos.
Examinando agora a clusterização de indústrias, próximas a pólos de produção florestal, a princípio a idéia é atrativa. Em um estudo realizado sobre a competitividade da cadeia produtiva de móveis do país, uma das vantagens competitivas nossa foi, justamente, a existência de grandes florestas e a produção de madeiras nobres, o que possivelmente influenciou a preferência da indústria pela produção de móveis de madeira no país.
Todavia, o mesmo trabalho assinalava limitações à competitividade das indústrias, entre as quais apareciam equipamentos desatualizados, desconhecimento quase generalizado das normas do INMETRO, da ABNT e PBQB, falhas na linha de pintura, a escassez de técnicos de manutenção industrial, e de empregados qualificados, de uma maneira geral.
As microempresas não possuíam espaço para abrigar novas máquinas e aumentar a escala de produção, enquanto médias empresas ressentiam-se de falta de mão-de-obra especializada e de design atualizado. No plano da comercialização, a pesquisa identificou uma carência de conhecimento sobre o mercado exportador, falta de apoio governamental para minimizar essa barreira, inclusive para reduzir o custo Brasil, e inexistência de estudos de mercado para móveis, indicando canais de comercialização, mecanismos e nichos de mercado para os clusters brasileiros.
Considerado como atual e extrapolável o diagnóstico anterior, pode-se afirmar que a clusterização de agroindústrias de produtos florestais, próximos aos pólos florestais, seria a solução para a competitividade das cadeias produtivas desses produtos? É provável que a resposta deva se pautar pela cautela, assinalando algo como, poderia ajudar, mas não assegura competitividade.
A realidade está indicando que ademais de fornecimento barato de matéria-prima de qualidade, estas cadeias produtivas necessitam avançar em outros fatores de competitividade, alguns dos quais estão relacionados com os próprios clusters industriais e outros mais afeitos a ambientes e atores, no âmbito das cadeias produtivas. Juntar empresas produtoras de matérias-primas agrícolas com agroindústrias, em uma mesma região, pode ser uma boa idéia para criar oportunidades de desenvolvimento regional e setorial.
Todavia, esta estratégia, por si só, não gera competitividade e desenvolvimento. Excelência tecnológica, inovação, qualidade de processos e produtos e gestão profissional, orientadas para a competitividade, são requisitos essenciais para o sucesso de clusters ou cadeias produtivas, de qualquer tipo de produto. Por fim, a questão central: clusters ou cadeias produtivas? Sob o ponto de vista da gestão da competitividade, o conhecimento de ambientes organizacional e institucional dos canais de comercialização e dos mercados, sugere a aplicação do enfoque de cadeias produtivas, como um elemento essencial da gestão desses negócios.