Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa
Op-CP-10
O Brasil é reconhecidamente uma potência mundial, quando se trata de cadeias produtivas diretamente associadas aos recursos naturais, notada-mente de recursos renováveis, como as florestas. Com apenas 10 milhões de hectares de florestas, entre plantações e florestas nativas, o Brasil acumulou exportações de US$ 8,2 bilhões, no ano de 2006. A título de comparação, o setor de pecuária exportou o mesmo valor, ocupando uma área de quase 200 milhões de hectares com pastagens.
Um cluster, no mundo dos negócios, é uma concentração de empresasrelacionadas entre si, em uma zona geográfica relativamente definida, que conformam um pólo produtivo especializado, com vantagens competitivas. Os clusters são sinérgicos, diluem custos, somam esforços, otimizam investimentos e potencializam resultados.
Os casos de sucesso mais recentes indicam que as janelas de oportunidades podem ser encontradas tanto na força de trabalho qualificada, quanto na gestão dos recursos naturais. O bem-sucedido caso de certas nações, como Finlândia, Canadá e Índia, ilustra bem um exemplo em que as vantagens competitivas dinâmicas encontraram importante apoio em recursos humanos qualificados para a produção de inovações, a partir de bem articuladas interações com seus usuários - existentes e/ou potenciais.
A origem do também bem-sucedido caso de competitividade da Finlândia e Suécia, em inovações (tecnológicas, de processos, de produtos) ao longo da cadeia produtiva florestal, pode ser encontrada na disponibilidade dos recursos naturais. Mas, há alguns anos, as empresas do cluster florestal desses países não têm no manejo e na exploração de suas florestas os principais ingredientes de suas competitividades nesse setor.
Ao contrário, eles são destaques no cenário mundial pelos avanços permanentes que fazem na área de máquinas e equipamentos, tanto para a silvicultura, quanto para o processa-mento de madeira e celulose, e, no design de móveis e de papéis, de alto valor agregado. O que se afigura para o Brasil, em um futuro próximo, é a constituição de uma articulação de governos federal, estaduais e municipais, empresas, universidades, centros de pesquisa e sociedade civil, que certamente resultará em uma vantagem competitiva para o país, na geração de produtos madeireiros e não-madeireiros.
Mais importante, essa vantagem competitiva, ainda que inicialmente tenha como ingrediente a disponibilidade de recursos naturais, cada vez mais se firmará no conhecimento que estará sendo gerado através de interações entre usuários e produtores de inovações. A inovação e a comercialização das novas tecnologias são geradas de um modo desproporcionalmente elevado em clusters e não em empresas isoladas, porque estes envolvem instituições interrelacionadas, com importantes externalidades da inovação.
A contribuição dos clusters para a inovação depende da presença de fornecedores de inputs, especializados de alta qualidade; da intensidade da competição entre as empresas, estimuladora do investimento; da existência de uma procura exigente, dirigida às empresas e instituições; e da presença local de atividades associadas e complementares.
Nos tempos modernos, a inovação é fundamental, para assegurar o sucesso de qualquer empresa; as instituições, incapazes de inovar, desaparecerão. A aplicação deste conceito pelas empresas consiste, essencialmente, na procura de oportunidades, que podem ser encontradas nas seguintes áreas:
Reengenhariados processos: redução do consumo de recursos e da poluição, para evitar riscos, enquanto se poupam custos;
Revalorização dos sub-produtos: aproveitamento dos desperdícios dos seus processos, para troca com outras empresas que os valorizam;
Reformulação dos produtos: repensar os produtos para torná-los mais eficientes, e
Novos funcionamentos do mercado: procura de novas formas de satisfazer as necessidades dos clientes, reduzindo o consumo intensivo de material e energia e remodelando a procura e a oferta.
A idéia de APL - Arranjo Produtivo Local, é herdeira do conceito de cluster, nascido na década de 1970, quando economistas investigavam como aglomerados de pequenas empresas na Itália conseguiam sobreviver, com competitividade, frente às mudanças no modo de produção industrial. O objetivo principal de um APL é fortalecer as empresas e organizações que integram a cadeia produtiva, através do desenvolvimento de ações, que melhorem continuamente seus resultados.
O sistema de APL atua em agrupamentos de pequenos, médios e grandes empreendimentos, proporcionando o conhecimento das inovações, tendências, oportunidades e ameaças identificadas no ambiente. O principal Pólo Moveleiro de Minas Gerais está localizado na Zona da Mata Mineira, formado pela cidade de Ubá e mais oito municípios (Guiricema, Guidoval, Piraúba, Rio Pomba, Rodeiro, São Geraldo, Tocantins e Visconde do Rio Branco), englobando mais de quatrocentas micro, pequenas e médias empresas, gerando mais de vinte mil empregos.
O setor é a principal atividade econômica da região. O Fórum de Desenvolvimento do APL de móveis de Ubá é formado por lideranças de entidades empresariais, representantes de várias escalas de governo, agentes da cadeia produtiva, universidades, centros de pesquisa e entidades de fomento. A UFV é uma das parceiras mais importantes e participa ativamente do conjunto das transformações ocorridas naquele pólo moveleiro, com projetos de pesquisa, consultorias e amplos programas de promoção e desenvolvimento dos vários segmentos da cadeia produtiva.