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Maria Emilia Antunes de Rezende

Diretora da Biocarbo

Op-CP-12

Carvão vegetal: potencialidades por realizar

O Brasil é líder na produção de carvão vegetal, com cerca de 9 milhões de toneladas, no ano de 2006. A produção de metálicos - ferro-gusa, aço e ferro-ligas - absorve mais de 90% deste montante. Para fazer frente à crescente demanda mundial por metais, as perspectivas são de duplicação da produção de carvão vegetal, nos próximos 10 anos.

Em meus 30 anos de atuação no setor, nunca percebi cenário tão favorável. Entretanto, cabe perguntar: O que está sendo feito neste período de bonança, para garantir a sustentabilidade e o crescimento dos ganhos futuros? Nos anos 80, o que mais se escutava era que, no Brasil, o uso do carvão vegetal iria ser inviável e substituído pelo coque, como tinha acontecido nos países desenvolvidos.

Na esteira deste preconceito, conjugado a um cenário de valorização cambial e de depreciação das commodities, vivemos o pior no início dos anos 90. Empresas líderes trocaram carvão vegetal pelo coque, cortaram projetos e investimentos e equipes técnicas foram esfaceladas. Reuniões entre empresários e autoridades discutiam outros usos para as florestas de Eucalipto do estado de Minas Gerais, pois a produção de carvão vegetal iria ser drasticamente reduzida, na visão dos estrategistas daquela época.

Aconteceu o contrário, a produção de carvão vegetal vem crescendo continuamente e não aconteceu sobra de florestas plantadas; elas continuam insuficientes. Tanto que a participação de origem nativa saltou de 1,45 milhão de toneladas em 1987, para 4,2 milhões de toneladas em 2006. Condições para o plantio de florestas passaram a ser o principal pleito dos empresários.

As autoridades vêm fazendo movimentos nesta direção, seja ao disponibilizar linhas de crédito em bancos oficiais, seja ao reprimir e denunciar o uso de madeira de origem nativa não legalizada. Isto é uma significativa diferença de postura; há anos não escuto ninguém falando no fim do carvão vegetal no Brasil. Mas, para um futuro sustentável, isto é pouco.

A mesma ignorância dos estrategistas dos anos 90 ainda se faz presente. Não percebo ações conjugadas com abordagens sistêmicas, que avaliem e atuem em toda a cadeia produtiva. Plantamos e melhoramos a floresta, mas pouco tem sido feito para melhorar e para modernizar o processo de produção do carvão vegetal.

Com base em trabalhos que estou coordenando, está demonstrado que é possível aumentar a oferta de carvão vegetal em 2,5 milhões de toneladas ao ano, sem enfornar uma única tonelada de madeira a mais. A atual eficiência na conversão da madeira em carvão é vergonhosamente baixa. Para cada tonelada de madeira isenta de umidade, são obtidos cerca de 220 kg de carvão.

Uma meta de 300 kg de carvão é bastante razoável, com a substituição dos fornos tipo rabo-quente, por fornos de alvenaria melhorados, e um programa de difusão de conhecimento e treinamento da mão-de-obra operacional e gerencial. Para os operários, seria uma oportunidade de acoplar programas de alfabetização e inserção social.

É muito resultado para pouco investimento, basta disseminar e aplicar conhecimentos técnicos e gerenciais. O meu sonho é ver acontecer a modernização, via processos de carbonização, que aperfeiçoem as atividades de colheita florestal e transporte da madeira e permitam a recuperação de subprodutos, com investimentos moderados.

A realidade, com suas inovações, parece ir tomando o lugar do sonho. A tecnologia DPC de carbonização, já apresenta custo de produção similar ao dos ineficientes fornos rabo-quente. O trunfo é a eficiência, ao produzir 360 kg de carvão por tonelada de madeira, obtidos com relativa facilidade, em um processo instrumentado e controlado.

Ao carbonizar toras de 6 metros, que são levadas da floresta ao forno, de forma mecanizada, o processo DPC também reduz custos operacionais e racionaliza a logística da indústria. Por sua vez, a Biocarbo, empresa piloto, com quase 15 anos de vida, sem investidores e verbas públicas, vem fazendo o P&D possível, com receitas da venda de derivados do beneficiamento de fumaças condensadas. Em termos potencias, os números são grandiosos. Cada tonelada de carvão vegetal pode gerar um barril equivalente de petróleo, na forma do biocombustível alcatrão vegetal.

Aos preços atuais do petróleo e tomando o todo da produção brasileira, é um potencial de negócio para mais de um bilhão de dólares. Mas, não é tudo, outros derivados, como o extrato pirolenhoso, atuam sobre as plantas, como bioestimulante: acelerando o crescimento, auxiliando na absorção de fertilizantes e na maior eficiência de defensivos agrícolas.

Para o Grupo Plantar e outros, a insistência em transformar poluição em produto já dá bons resultados, com a comercialização de créditos de carbono. Na floresta, a maior eficiência na carbonização e a substituição do coque de origem fóssil ajudam a combater o efeito estufa. Grupos com presença mundial percebem que as suas operações com carvão vegetal no Brasil permitem melhorar a face ambiental do negócio siderúrgico, contribuindo para o melhor posicionamento do seu marketing global.

O tempo passou e o carvão vegetal calou preconceitos, mostrou sua competitividade econômica e ambiental e continua a nos convidar para um baile de potencialidades. Pessoalmente, tenho participado, com grande prazer, apesar de quase sempre “dançar conforme à música”.

Em tempos tão favoráveis, como o atual, a minha expectativa é que a turma de convidados cresça e que possamos, atuando de forma coordenada, desenvolver um belo exemplo de entrelaçamento entre siderurgia e floresta, assemelhando este processo industrial a uma cadeia alimentar dos processos naturais. Ali, plantas e animais interagem-se, para criar um conjunto harmonioso e sem poluição; o resíduo de um é o alimento para outro. Não tenho dúvidas que o uso industrial do carvão vegetal e subprodutos seja uma ótima plataforma para esta grande aventura.