O Brasil é referência mundial em produção florestal, com destaque para as florestas plantadas de eucalipto, que ocupam milhões de hectares e abastecem cadeias produtivas essenciais, como as de celulose, papel, painéis, pisos, entre outras. No entanto, a expansão e intensificação dessas áreas têm evidenciado um desafio constante, o impacto crescente das pragas florestais sobre a produtividade.
Entre as principais espécies responsáveis por prejuízos significativos aos plantios de eucalipto, destacam-se o percevejo-bronzeado (Thaumastocoris peregrinus), o gorgulho-do-eucalipto (Gonipterus platensis), a vespa-da-galha (Leptocybe invasa), o psilídeo-de-concha (Glycaspis brimblecombei), as lagartas desfolhadoras (Thyrinteina arnobia), as formigas cortadeiras (Acromyrmex spp. e Atta spp.) e os cupins (Coptotermes testaceus e Cornitermes bequaerti).
A presença e disseminação desses insetos estão relacionadas a fatores como a homogeneidade dos talhões, as mudanças climáticas e ausência de inimigos naturais, especialmente nos casos de pragas exóticas. Esse cenário é agravado pela escassez de áreas nativas no entorno dos plantios, que poderiam servir de abrigo e suporte para populações de inimigos naturais, favorecendo desequilíbrios ecológicos nos sistemas florestais.
Nos últimos anos, tem-se observado um aumento na ocorrência de diversas pragas florestais, impulsionado por fatores como a maior suscetibilidade dos plantios e o agravamento de estresses ambientais, como estiagens prolongadas e elevação das temperaturas médias.
Essas condições reduzem a resiliência das árvores e favorecem o crescimento populacional de insetos-praga. Além disso, práticas silviculturais inadequadas, como o uso de clones menos resistentes, podem contribuir para o agravamento dos surtos.
Dentre essas pragas, o psilídeo-de-concha tem-se destacado não apenas pela frequência de ocorrência, mas também pela severidade dos danos causados aos plantios de eucalipto no Brasil. Esse inseto se alimenta da seiva das folhas, com preferência por brotações e ponteiros, provocando desfolha intensa, redução no crescimento das árvores e favorecendo o surgimento de fumagina, um fungo escuro estimulado pela liberação de uma substância açucarada (honeydew) durante a alimentação das ninfas.
Essas ninfas constroem estruturas brancas em forma de concha, que servem de abrigo até a fase adulta, dificultando o manejo e interferindo na fotossíntese da planta. A ocorrência do psilídeo-de-concha costuma ser mais intensa em períodos quentes e secos, com variações que dependem da localidade, condições climáticas e histórico de manejo da área.
Nesse contexto, o manejo de pragas florestais deve ser considerado parte estratégica da produção. A adoção de práticas preventivas e o uso de métodos de controle bem planejados são fundamentais para evitar que surtos se alastrem rapidamente e comprometam a produtividade.
Estratégias integradas de monitoramento, como armadilhas adesivas amarelas, inspeções regulares em campo e o uso de indicadores populacionais são importantes para a detecção precoce e tomada de decisão. Essas ações permitem decisões mais rápidas e eficazes, reduzindo os impactos e, consequentemente, os custos operacionais.
Uma alternativa cada vez mais valorizada é o controle biológico, por ser eficiente e mais amigável ao meio ambiente. No caso do psilídeo-de-concha, destaca-se o uso de inimigos naturais como o parasitoide Psyllaephagus bliteus, eficaz no parasitismo de ninfas em estágios mais avançados, e os crisopídeos da espécie Chrysoperla externa, cujas larvas atuam como predadoras de ovos e dos primeiros instares (1º, 2º e 3º) da praga.
Esses dois agentes biológicos apresentam grande potencial para uso intercalado, uma vez que cada um atua em diferentes estágios da praga, proporcionando uma ação complementar no controle do psilídeo-de-concha. A ação predatória desse crisopídeo sobre as ninfas do psilídeo já foi registrada em condições de laboratório, demonstrando seu potencial como agente de controle.
No Brasil, já existem empresas que comercializam C. externa para o controle de pragas de corpo mole, sendo que uma delas possui registro ativo para a produção e venda de ovos voltados especificamente ao manejo do psilídeo-de-concha. Este crisopídeo apresenta potencial como agente de controle, e embora sua ação predatória já tenha sido comprovada em laboratório, ainda são necessários estudos em condições de campo que validem sua efetividade frente ao psilídeo.
Aspectos como predação natural, variações climáticas e a limitação de recursos alimentares para os adultos, como néctar, honeydew e pólen, podem influenciar os resultados. Vale destacar que esses fatores são uma realidade comum a qualquer agente biológico, inclusive os que já estão bem estabelecidos no campo. Ainda assim, sua adoção tem-se mostrado viável, alinhada às práticas sustentáveis, e vem ganhando cada vez mais espaço no setor florestal.
Para que essas abordagens funcionem, é indispensável planejamento, conhecimento técnico e acompanhamento contínuo. O sucesso do controle biológico depende do momento ideal para a liberação, a densidade adequada de inimigos naturais, além do nível de infestação da praga e da compatibilidade com demais práticas de manejo adotadas na área. A capacitação das equipes de campo e a integração entre pesquisa e produção são aspectos-chave para garantir o uso eficaz do controle biológico.
Além disso, observa-se um avanço significativo no uso de tecnologias digitais para o monitoramento de pragas, como sensores remotos, drones e aplicativos de georreferenciamento e mapa de calor. Tais ferramentas auxiliam na coleta e interpretação de dados, permitindo maior precisão na identificação de focos e na tomada de decisão. O investimento em inovação e ciência aplicada fortalece o combate às pragas e amplia a sustentabilidade do setor.
Casos como o do coccinelídeo Olla v-nigrum, que vem sendo utilizado por uma empresa do setor florestal com bons resultados no controle do psilídeo, reforçam essa tendência. A adoção crescente de macro e microbiológicos no mercado brasileiro mostra que o controle biológico tem deixado de ser uma alternativa experimental para se consolidar como parte do manejo integrado de pragas.
Por fim, diante de um cenário marcado por mudanças climáticas, recorrência de pragas, pressão crescente por reduzir o uso de defensivos químicos e a necessidade de manter a produtividade, apostar em práticas sustentáveis e integradas segue sendo, sem dúvida, o caminho mais promissor.
1: Larvas de Chrysoperla externa em laboratório tentando localizar algum orifício na concha para captura da ninfa de Glycaspis brimblecombei.
2: Larvas de Chrysoperla externa em laboratório predando a ninfa de Glycaspis brimblecombei.