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Marcos Paulo Rossi Sacco

Gerente Sênior de Operações Florestais na Bracell

Op-CP-77

Manejo florestal frente às mudanças climáticas
Acredite ou não, mas é fato que as mudanças climáticas, ano após ano, têm-se tornado mais comuns, desencadeando chuvas torrenciais que provocam enchentes e alagamentos por todo país, vendavais, frio intenso e, por último e não menos importante, seca extrema, provocando incêndios incontroláveis e perda e/ou atrasos severos de crescimento das plantações não só florestais, mas agrícolas em geral. Tais eventos vêm sendo encarados como novos desafios para as empresas florestais, sobre como lidar com essas variáveis a fim de garantir a produtividade de seus povoamentos florestais e a sustentabilidade do abastecimento de madeira para seu negócio.
 
Num intervalo entre 5 e 10 anos, os efeitos de El Niño e La Niña têm sido cada vez mais severos ao longo do país, ora seca extrema no Norte e Nordeste, ora chuvas intensas no Sul e Sudeste e vice e versa. 

Exemplos disso foram, no final de 2023, nos meses de novembro e dezembro, as chuvas intensas, seguidas de vendavais que causaram tombamento de árvores na Bracell Florestal Bahia, afetando uma área de aproximadamente 2.000 hectares, no litoral norte do estado da Bahia. Neste mesmo período, na Bracell Florestal São Paulo, tivemos sucessivas ondas de calor atingindo as plantações, acarretando baixa sobrevivência dos plantios jovens (falhas), consequentemente diminuindo o ritmo das operações e aumentando o custo com irrigações. 
 
Mais recentemente, secas extremas consorciadas ao aumento da temperatura atingem todo estado de São Paulo, colocando em risco as plantações florestais quanto a queimadas e morte de plantas por déficit hídrico, ocasionando perda de madeira que seria utilizada no processo fabril de celulose e papel. 

Paralelo a isso, altas temperaturas também provocam estresse dos povoamentos florestais, que, por sua vez, aumentam o surto de pragas, tais como Psilídeo-de-concha (Glycaspis brimblecombei) e Percevejo-bronzeado (Thaumascotocoris peregrinus), que contribuem drasticamente para diminuição da produtividade das florestas de Eucalyptus.
 
Diante desse contexto, quais medidas as empresas do setor estão adotando para inibir ou minimizar estes impactos nas florestas e, consequentemente, na produtividade? No caso da Bracell, nós temos adotado medidas que implicam diretamente no manejo das florestas, bem como nas operações de silvicultura no dia a dia.

Ainda na fase de pesquisa, a seleção de um novo clone comercial contempla um rigoroso screening em relação a pragas, doenças e condições abióticas, como vento, às quais o novo clone deve ser resistente. No viveiro de produção de mudas, medidas como rusticidade, idade média da muda acima de 90 dias e toalete de galhos e ramos no momento da expedição diminuem a área foliar e, dessa forma, reduzem a evapotranspiração em campo, garantido tolerância destas às condições de seca nesta fase inicial do plantio, resultando assim no aumento da sobrevivência do plantio.

Para as condições nas quais temos áreas arenosas com baixa pluviosidade média, a definição do stand, ou seja, do espaçamento a ser adotado nos povoamentos florestais e a execução do plantio respeitando a sazonalidade local, priorizando os períodos mais chuvosos do ano, são algumas das estratégias que a Bracell tem lançado mão no intuito de garantir a qualidade e sobrevivência de seus plantios.

Na fase de plantio e irrigação em campo, fazer uso da pré-molha 15 a 20 minutos antes da realização do plantio ajuda a reduzir a temperatura do solo no momento de alocação das mudas nas covas. Estabelecer um rigoroso cronograma de irrigação intercalado e assegurar uma execução com qualidade das covas (“bacias”), para que estas consigam reter os 4 litros de água por planta no momento da execução das irrigações, são também medidas fundamentais para assegurar a sobrevivência nesta fase inicial.

A tendência é que as mudanças climáticas estejam cada dia mais presentes em nosso cotidiano florestal, sejam estas cíclicas, sejam pontuais. Portanto, as empresas que não tiverem um planejamento florestal estratégico e tático operacional para lidar com os impactos, mitigando ou reduzindo estes, certamente colocarão em risco seu abastecimento de madeira e, consequentemente, a sustentabilidade de seu negócio.