Diretor de Operações e Logística da Aracruz Celulose
Op-CP-01
A logística em todas as commodities costuma ter uma alta relevância na formação dos custos. A celulose não foge a esta regra. Considerando que uma fábrica moderna state of the art tem uma capacidade anual de 1 milhão de toneladas e que seus mercados estão totalmente no exterior, a questão da logística impõe-se como um fator decisivo de competitividade.
Precisa-se acessar continentes, tais como América do Norte, Europa e Ásia, de forma eficaz, como também é preciso eficácia no transporte da madeira, além de todos os insumos envolvidos na cadeia produtiva. Uma fábrica com estas características movimenta, na base florestal, em torno de 5 milhões de toneladas/ano, mantem 5 mil km de estradas vicinais, muitas delas de interesse de pequenas localidades que, com isso, são beneficiadas.
Além disso, teria um custo anual de logística, que pode ultrapassar a US$ 100 milhões. A Aracruz, no Espírito Santo, usa para isso vários modais, tais como rodoviário, ferroviário e o pioneiro transporte de cabotagem marítima. Devido a estas alternativas, construiu-se um complexo de três fábricas, com capacidade de 2,1 milhões de toneladas de celulose/ano.
Para a comercialização da celulose, a infra-estrutura portuária é de extrema relevância, pois podem penalizar ainda mais o nosso afastamento geográfico dos grandes continentes consumidores. O Brasil é hoje o país que tem a base florestal com a maior produtividade mundial para florestas de crescimento rápido. A produção de celulose tende a deslocar-se mais e mais para o Hemisfério Sul e o nosso país tem uma excelente condição para recebê-las.
Entretanto, a nossa competitividade é reduzida pelos encargos do custo Brasil, dentre os quais se inclui o apagão logístico. As unidades de produção na escala atual são investimentos que chegam a U$ 1,2 bilhões, por empreendimento, onde temos uma pesada carga tributária, se comparada com a nossa concorrência internacional. A isto, além do custo de capital, adiciona-se, muitas vezes, a necessidade de bancar investimentos em estradas e infra-estruturas diversas, que também integram o uso com altos custos operacionais das degradadas estruturas logísticas existentes.
Fato semelhante repete-se na questão das estruturas portuárias, onde elas, sobrecarregadas, são operadas com ineficiência, altos custos e de costas para o futuro. A nova geração de navios de maior capacidade enfrentará problemas de calado e, com isso, sairão dos nossos portos sempre com meia-carga. As ferrovias, apesar de privatizadas, ainda estão envelhecidas e adormecidas, em geral, por sub utilização e por falta de ramais integradores ou inter modalidades, que poderiam alavancar a sua economicidade.
Temos apenas 30 mil km (Estados Unidos tem 307 mil km) de ferrovias, enquanto a África do Sul, com um oitavo da territorialidade brasileira, possui 21 mil km. A densidade de infra-estrutura de logística no Brasil é de 26 km/km2, enquanto o México tem 57 km/km2. A produtividade do setor de cargas norte americano é 4,5 vezes maior que o brasileiro e isto se deve a vários aspectos tais como:
Os gargalos de logística, em vários pontos, em várias regiões, precisam ser olhados e, talvez, as parcerias público-privadas possam dar um desafogo aos mesmos. O Brasil investe 0,06% do PIB no setor quando, no mundo inteiro, investe-se, no mínimo, de 2% a 3% do PIB, em infra-estrutura de transporte. A distorção na matriz de transporte no Brasil faz com que o país gaste 25% do PIB com logística, contra 12% gastos pelo Canadá e 12,7%, por Portugal.
E o custo do transporte contribui com 31% do custo da logística”. As soluções de logística para a competitividade das indústrias de celulose são fundamentais e precisam estar aliadas à competitividade, que os nossos altos rendimentos florestais, baseados no clima e na evoluída tecnologia, nos propiciam e que o custo de Brasil teima em penalizar.