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Miguel Antonio de Goes Calmon

Assessor de Estratégia para Conservação para a América Latina da NTC - The Nature Conservancy

Op-CP-28

Construindo soluções

Apesar da intensa degradação e fragmentação, a Mata Atlântica é ainda um grande repositório de biodiversidade e responsável pela produção de água para milhões de brasileiros. Diante desse cenário, a restauração florestal em larga escala é a estratégia mais urgente e viável para ampliar a conectividade entre os remanescentes florestais e assegurar a conservação da biodiversidade e a manutenção dos serviços ambientais fornecidos por essa floresta.

Para fazer frente a esse enorme desafio, nasceu o “Pacto pela Restauração da Mata Atlântica”, um movimento coletivo de organizações públicas, privadas e não governamentais comprometido com integração de esforços e mobilização da sociedade para restaurar, até 2050, 15 milhões de hectares de áreas degradadas.

Lançado oficialmente em 2009, em apenas três anos, o Pacto se tornou uma referência nacional e internacional em termos de arranjos multi-institucional e multissetorial, voltado para trazer soluções pragmáticas com impactos sociais, ambientais e econômicos para mais de 110 milhões que dependem dos bens e serviços das florestas.

Como consequência, o Pacto é hoje um dos programas mais inovadores de restauração florestal do mundo, com a capacidade e a ambição para solucionar as principais barreiras que têm impedido a restauração na escala desejada.

Até maio de 2012, o Pacto já engajou 217 organizações-membros, distribuídas entre organizações ambientalistas nacionais e internacionais, instituições governamentais, empresas e centros de pesquisa; criou um website em português e inglês com um banco de dados online para cadastrar os projetos e iniciativas de restauração; cadastrou mais de 320 iniciativas, sendo 114 projetos de restauração em andamento, mais de 32 políticas formuladas, 54 patrocinadores, 21 viveiros, 88 voluntários, 12 pesquisas científicas, além de áreas para restauração e prestadores de serviços; publicou o estado-da-arte da restauração florestal na Mata Atlântica através do Referencial dos Conceitos e Ações de Restauração Florestal; mapeou mais de 17 milhões de hectares de áreas potenciais para restauração na Mata Atlântica, com áreas elegíveis para mercados de carbono e prioritárias para produção hídrica e conectividade; e publicou três artigos científicos em revistas internacionais.

Além desses produtos, o Pacto tem sido um instrumento fundamental para promover a capacitação, troca de experiências e disseminação de informações entre seus membros, apoiando a realização de cursos e oficinas.

Tem colaborado também na execução e na padronização do monitoramento das áreas restauradas, contribuindo, assim, para melhorar a qualidade e a replicação das iniciativas exitosas de restauração e assegurar o bom uso dos recursos públicos e privados investidos em restauração florestal.

Apesar dos 114 projetos já cadastrados totalizarem apenas 62.000 hectares de áreas em restauração, após uma análise preliminar dos dados, constatou-se que o Pacto será um grande agente de mudanças e melhoria social.

Em termos de geração de postos de trabalho, os projetos cadastrados contam com o envolvimento de 1728 pessoas, através de postos de trabalho diretos, indiretos e voluntários. Estima-se que, ao cumprir a meta do Pacto, serão criados 6,5 milhões de postos de trabalho diretos e indiretos durante as próximas quatro décadas.

Na busca por integrar, articular e disseminar suas experiências para outros biomas e países, o Pacto tem interagido e colaborado com vários fóruns e redes nacionais e internacionais, destacando-se a Rede Brasileira de Restauração Ecológica (REBRE), Society for Ecologial Restoration (SER), Global Partnership Forest Landscape Restoration (GPFLR), Red Latino Americana de Naturaleza (REDLAN) e a International Union for Conservation of Nature (IUCN).

Apesar das grandes conquistas, os membros do Pacto reconhecem que ainda existem enormes desafios a serem superados para atingir a meta de restauração.

Um deles é transformar a restauração florestal num grande negócio para a sociedade, seja através da geração de renda para quem investir em restauração, ou para aqueles que dependem dos serviços ambientais para a sua sobrevivência e bem-estar. Para isso, o Pacto tem investido no desenvolvimento de pesquisas para reduzir custos da restauração e aumentar a produção e o valor dos bens e serviços das florestas nativas para toda a sociedade.