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Guido Assunção Ribeiro

Professor do Departamento de Engenharia Florestal da UF-Viçosa

Op-CP-23

Tecnologias de combate aéreo e uso de retardantes

Os incêndios florestais não têm sido preocupação somente dos órgãos governamentais, mas têm levado a sociedade civil organizada e as empresas do setor privado a empreenderem esforços no sentido de reduzir os riscos ambientais e os respectivos efeitos maléficos provocados pelo fogo.  Por ser um fenômeno fortemente associado a risco, toda a operação de controle dos incêndios florestais deve ser cuidadosamente planejada.

O plano é um instrumento de manejo, consolidado fundamentalmente em dois pontos. O primeiro mostra que o caminho mais simples e mais curto a ser seguido é o da prevenção. Prevenir qualquer evento ameaçador, em qualquer atividade humana,  é nada mais que antecipar a sua causa. No caso de incêndios florestais, a prevenção se resume em evitar o momento inicial que dá início à reação da combustão, ou seja, em impedir a ação do agente causador.

Por outro lado, é de conhecimento geral que não existe sistema de prevenção de incêndios florestais capaz de evitar todo e qualquer tipo de ocorrência. O sistema de proteção deve ser planejado de tal forma a atuar em um segundo momento, o combate, que tem o objetivo de evitar a dispersão ou a propagação do fogo.

Essa etapa é a que consolida todas as ações a partir da detecção, passando pelo primeiro ataque propriamente dito e finalizando com o rescaldo, quando são executadas as operações finais de desmobilização de pessoal. A combustão e o comportamento do fogo são fenômenos complexos por natureza. A combinação de suas variáveis constituintes produz outras variáveis que geram resultados momentâneos, de difícil predição e compreensão.

Durante um incêndio florestal, as características dessas variáveis de origem modificam-se em curto intervalo de tempo, conduzindo a situações que, se num primeiro momento parecem ser de fácil solução, podem se transformar em eventos catastróficos e de efeitos imprevisíveis.

O tomador de decisão deve estar seguro de que o conjunto das condições fundamentais para a ocorrência de um incêndio florestal resulta na sua maior característica, que é a imprevisibilidade. Frente às surpresas que se tem pela frente, os cuidados devem ser redobrados, e o método mais apropriado para combate deve ser empregado.

Diante dessa situação, o homem vem, ao longo do tempo, buscando novas tecnologias, como ferramentas, equipamentos, produtos, sistemas de planejamento e de aquisição, armazenamento e manejo de dados, visando ao controle dos incêndios florestais.

Por muito tempo, antes da existência de equipamentos e ferramentas apropriados para combate aos incêndios florestais, utilizavam-se principalmente ramos de arbustos ou árvores como abafadores. Em alguns registros, os danos provocados pela quebra da vegetação eram maiores que aqueles provocados pelo fogo.

Com a aceleração da ocupação humana em áreas antes não habitadas e o aumento das consequências ambientais e econômicas dos incêndios florestais, surgiu a necessidade de que estratégias e instrumentos fossem buscados em outros países e adaptados de modo a aumentar a eficiência do combate a esses incidentes no Brasil.

Hoje em dia, é certo que nenhuma técnica sozinha garante combate adequado a um grande sinistro. Força humana e tecnologia química e de equipamento devem estar articuladas, numa estratégia que conta mais com a experiência do que com o número de combatentes propriamente dito.

Nesse contexto, o combate aéreo veio integrar forças nas ações de combate a incêndios florestais. No Brasil, essa prática começou com mais ênfase na década de 90, com helicópteros que transportam água em uma grande bolsa, com capacidade média de 600 litros, chamada bambi bucket. No entanto, quando a fonte de água é distante ou de difícil acesso e o incêndio é de grandes proporções, o helicóptero não se mostra uma opção viável, ficando sua utilização mais apropriada para o deslocamento de brigadistas.

Um tempo depois, o combate aéreo foi sendo experimentado com a utilização de aviões de pulverização agrícola. Essas pequenas aeronaves, que possuem capacidade entre 1.500 e 3.000 litros, ficam ociosas em períodos de seca, justamente a época em que há maior risco e ocorrência de incêndios florestais. Aos poucos, conhecendo experiências de outros países com combate aéreo ao fogo, foram sendo ajustados equipamento e técnica.

Por exemplo, com a utilização de água no combate aéreo, uma estratégia interessante é o uso de corantes, diluídos à água, para orientar o piloto nos lançamentos subsequentes, quando se pretende formar os chamados aceiros úmidos. Outra importante tecnologia usada no combate e de uso recente no Brasil são os aditivos retardantes adicionados à água, que podem ser lançados à frente do fogo por meio de diferentes dispositivos, como aeronaves, caminhões-pipa, motobombas e bombas costais manuais.

Existem, basicamente, dois tipos de retardantes: o primeiro são os espumógenos que aumentam a eficiência da água e são aplicados diretamente na linha de fogo. A solução desse retardante, por ter maior densidade, penetra mais profundamente na camada de material combustível, permanecendo maior tempo em contato com a sua superfície. Isso resulta no aumento da umidade desse combustível, dificultando a combustão.

Os espumógenos aumentam a eficiência da água entre três e cinco vezes. O segundo tipo de retardante são os chamados de longa duração e são aplicados  de forma preventiva, constituindo os denominados aceiros químicos. Esse tipo de retardante é produzido à base de sais que interrompem a reação da combustão.

O equipamento utilizado na sua aplicação depende do tipo do material combustível (quantidade, densidade, altura da vegetação e largura do aceiro que se pretende construir). Com base nessas características, é que se estima a quantidade do produto a ser aplicado por área, a pressão da aplicação, a vasão do bico aplicador, etc.

A combinação entre a utilização e a eficiência dessas tecnologias já disponíveis no mercado brasileiro, no entanto, ainda não encontra consenso entre pesquisadores e usuários, tendo em vista o pouco conhecimento de domínio público existente sobre o assunto e os altos custos atuais para sua utilização.

Por outro lado, é consenso mundial que nenhuma tecnologia isolada é suficiente para dominar os grandes incêndios; o uso de uma aeronave necessita do auxílio do brigadista em campo, de posse do simples abafador, para monitorar e debelar os focos reincidentes ou remanescentes.