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Sérgio Augusto Pires Esteves

Diretor Presidente da AMCE

Op-CP-05

Sustentabilidade: uma responsabilidade compartilhada

Tem crescido, em todo o mundo, a consciência de que os negócios precisam, além de dar conta de sua influência no entorno, integrar o esforço comum, na direção de um desenvolvimento que interessa a todos. Na prática, isso implica na construção de laços mais fortes entre diferentes atores, para o enfrentamento de questões de fundo que condicionam tanto a atividade econômica, como a vida em sociedade.

Por outro lado, as assimetrias da globalização têm exigido estratégias competitivas, que levam a arranjos produtivos e operacionais entre diferentes atores, atuando em diferentes arenas, de modo a viabilizar a ampliação de recursos e competências, cada vez mais raros e dispendiosos, no ambiente global.

Seja, portanto, em decorrência da demanda emergente da sociedade – no sentido de que os negócios devam cuidar de seus impactos e externalidades e, ao mesmo tempo, participar do esforço de desenvolvimento - ou do cenário competitivo – no sentido de serem mais produtivas, reduzirem custos, maximizarem ativos, ampliarem valor e melhorarem retornos - as organizações têm se defrontado com a contingência de fazer alianças jamais cogitadas, com atores jamais cogitados.

A busca por complementaridade e sinergias está no centro da gestão estratégica contemporânea. Sustentabilidade é um termo que pode ser usado em diferentes dimensões, para expressar diferentes perspectivas e, até mesmo, diferentes intenções e conveniências. Nesse sentido, tanto podemos falar de sustentabilidade em relação a um emprego, como a um relacionamento, um negócio, uma compra ou em relação ao planeta. A idéia de sustentabilidade parece aceitar dimensões muito distintas.

O que seria, então, central? Haveria algo em comum a todas essas dimensões em que o termo pode ser utilizado? Penso que sim. Penso que, em comum, há a noção de um entorno a ser levado em consideração; há a noção de que criar sustentabilidade é cuidar das condições, sob as quais determinados interesses viabilizam-se, tendo em perspectiva o bem comum e outros interesses que também pretendem se viabilizar no mesmo espaço social de possibilidades.

Em outras palavras, sustentabilidade, não importa como o termo é usado, deve expressar o nós, jamais o eu. Por conta disso e por conta, de certo modo, de colocar o bode na sala – no sentido de trazer à tona questões complexas, cujas soluções parecem ser sempre difíceis, demoradas e de alto custo – em geral, requerendo o envolvimento de atores, nem sempre historicamente próximos – sustentabilidade é um termo ainda não apaziguado.

Para não criar uma definição a mais, entre tantas possíveis, costumo traduzí-lo a partir de um eixo central: o da qualidade das relações entre atores, em torno de objetivos capazes de viabilizar seus interesses e, a pretexto, o melhor interesse do bem comum. Se fôssemos aplicar essa “tradução” ao tema deste número da Revista Opiniões caberia, inevitavelmente, perguntar:

a. quais são os benefícios da floresta plantada para o país; e
b. na opinião de quem! Colocadas dessa maneira, tais questões têm a propriedade de nos apontar o que, talvez, possa ser considerado o principal atributo da sustentabilidade: a legitimidade. Legitimidade das nossas convicções, decisões e ações diante daqueles, diferentes de nós, que são – ou desejam ser, implicados nelas.

O leitor mais atento já terá compreendido que, devidamente enfrentadas, as questões de sustentabilidade, que integram interesses de indivíduos, organizações e sociedade, constituem a base necessária para a formulação de políticas públicas. Naturalmente que esse entendimento, embora represente um grande passo, está longe de nos tranqüilizar. Inúmeras perguntas permanecem sem resposta e estamos longe de articular diálogos sociais capazes de nos apontar direções mais seguras do que as que temos hoje.

Mas, estamos despreparados para o diálogo, habituados que estamos a defender os nossos interesses e os interesses de nossas instituições, como se fossem o centro do Universo. É bem possível que continuemos a pensar sobre os benefícios das florestas plantadas para o país, a partir dos nossos próprios referenciais e fazendo isso em nome da sustentabilidade. Mas, será possível pensar a sustentabilidade sem rever as nossas certezas, construídas a partir de uma visão de mundo não sustentável?

Será possível pensar a sustentabilidade com desapego em relação aos nossos interesses, compreendendo afetivamente que eles estarão contemplados nas soluções construídas com outros? Será possível educarmo-nos em direção à sustentabilidade, mantendo perspectivas individualistas, na criação de realidades que nos afetam e afetam a outros?

Essas são questões intrínsecas ao processo de desvendar o que é sustentabilidade e o que queremos com essa construção cultural. Em meu trabalho com estratégias organizacionais, que consideram sustentabilidade em sua formulação e em sua implementação, encontro sempre a mesma esperança de que seja possível pensar sustentabilidade, sem muita turbulência e desconforto.

Sustentabilidade, contudo, implica em transformação e a turbulência é inerente. Ela, entretanto, só irá ocorrer enquanto estivermos explorando novos caminhos, em direção a novas soluções. Depois que tivermos aprendido que outros processos e outras realidades são igualmente possíveis, depois que tivermos compreendido que os outros podem ser levados em consideração, a turbulência cessará. E então, quais são mesmo os benefícios da floresta plantada para o país? Eu arriscaria mencionar um deles: o benefício de nos fazer experimentar a perspectiva da sustentabilidade e de nos reconhecermos nos resultados do diálogo sobre o tema, com os diversos atores implicados.