O Brasil é referência mundial quando se trata da produção de madeira proveniente de plantios de árvores. Esta posição de liderança se consolidou ao longo dos anos devido não só às condições edafoclimáticas favoráveis e à tecnologia empregada para aumento da produtividade, mas também aos esforços que vêm sendo empreendidos para que se torne um setor mais sustentável.
Mas se engana quem pensa que esta liderança global vem apenas das questões vinculadas à produção florestal. Como pilar está o diálogo do setor florestal com a sociedade, em especial com as comunidades locais. Há um tempo não tão distante, conflitos entre comunidades e empresas eram mais comuns, em um cenário onde a verticalização da produção era tida como estratégia principal dos negócios para assegurar suprimento e a consolidação do setor no Brasil, e os olhares se concentravam da porteira das fazendas para dentro.
Nos anos 2000, para ser mais precisa, em 2005, uma iniciativa pioneira teve início no Brasil: o Diálogo Florestal. O Fórum Florestal da Bahia, o primeiro dos hoje sete Fóruns Florestais regionais, nasceu no mesmo ano, sendo o locus da iniciativa em nível regional, ultrapassando a lógica concentrada apenas em repassar informações sobre o negócio e avançando para o diálogo, que é a base para a construção conjunta de soluções de longo prazo.
Há ainda os que pensam que tomar as decisões de maneira isolada seja o caminho mais rápido e seguro, porém, ao longo dos 20 anos de existência do Diálogo Florestal, várias experiências de sucesso indicam que, por mais difíceis que possam ser as conversas, o caminho que se constrói juntos leva mais longe.
A importância do engajamento:
O verdadeiro engajamento é fundamental para o avanço ainda mais proeminente das boas práticas no setor florestal, através da escuta ativa, considerações dos problemas e desafios enfrentados pelas comunidades locais, buscando soluções em conjunto. Na promoção de benefícios sociais, por exemplo, foi-se a época em que dentro das empresas se desenhava um projeto e oferecia-se para as comunidades; hoje se destacam soluções definidas em conjunto.
Muitas delas visam melhorar as condições socioeconômicas das comunidades em regiões com alta concentração de plantios, e experiências de empresas que apoiam comunidades a desenvolver suas atividades via parceria no plantio de eucalipto em regime de fomento, produção de mel, regularização ambiental, valorização da força de trabalho local, agroflorestas, entre muitas outras que se traduzem para as próprias empresas como benefícios que as altas diretorias valorizam e que auxiliam na busca pela “licença social” para operar.
A escuta das comunidades se torna fundamental para entender os impactos – negativos ou positivos – da atividade na região, na tentativa de maximizar os positivos e reduzir ou eliminar os negativos. E a comunicação deve ser acompanhada de uma abordagem sensível que, ao mesmo tempo que busca se fazer entender sem os jargões em idiomas estrangeiros e expressões de cunho muito técnico, respeitam e valorizam as formas de comunicação e expressão dos distintos povos e comunidades.
O setor florestal tem um longo histórico de construção de diálogos e, através de iniciativas como o Diálogo do Uso do Solo, também está aproximando outros setores para a construção conjunta de soluções para desafios em nível de paisagem. Este engajamento no nível da paisagem tem mostrado seu potencial de gerar soluções e novos espaços de diálogo, como o caso da criação do Fórum Florestal da Amazônia.
Ampliação dos benefícios para comunidades:
Na seara das novas velhas oportunidades, destaque para a busca do pagamento por serviços ecossistêmicos, ampliando os benefícios das florestas e ecossistemas associados de e para as comunidades. Mais recente do que o tão prometido carbono com viés social, a biodiversidade ganha cada vez mais espaços nos fóruns globais como um ativo que pode gerar benefícios econômicos diretos. No entanto, contrapontos a esta lógica trazem a mercantilização da natureza ao centro do debate.
No contexto da Amazônia, a política de concessões florestais se apresenta como uma solução possível de ampliar a oferta de produtos oriundos do manejo florestal com base legal e eventualmente certificada, e neste contexto o desafio de se criar espaços de diálogo se torna muito importante.
Diálogo como premissa:
Seja para antecipar problemas, resolver questões atuais ou buscar soluções para problemas que vêm do passado, a adoção do diálogo como premissa só traz benefícios. Especialmente nas áreas em franca expansão, o diálogo vem como uma ferramenta poderosa para assegurar que o Brasil amplie sua imagem e, mais importante que isso, suas práticas responsáveis.
Não é possível afirmar que não existem mais conflitos entre comunidades e empresas, mas hoje, nos territórios onde o Diálogo Florestal está presente, as empresas, organizações da sociedade civil, povos indígenas, comunidades, instituições de ensino e pesquisa e demais partes interessadas e afetadas têm um espaço seguro, baseado em princípios como confiança, transparência, integração, respeito à diversidade e à vida, inclusão, proatividade e compromisso, que balizam conversas que por vezes podem ser difíceis, mas frutificam soluções.
Este é o caso por exemplo dos dez acordos firmados entre membros do Fórum Florestal da Bahia, que são monitorados frequentemente e trouxeram benefícios para empresas e comunidades como a ampliação e melhoria das estratégias de fomento florestal, proteção da pesca artesanal, afastamento dos plantios de centros urbanos e estabelecimento de espaços para aumentar a diversificação da produção próxima aos maciços de eucalipto. A adoção dos mosaicos florestais e a resolução de questões no contexto dos recursos hídricos são excelentes exemplos de soluções construídas em conjunto.
O modelo participativo de diálogo e construção de soluções fez avançar a adoção do conceito de paisagem, incluindo aspectos sociais para além das fronteiras das propriedades e promovendo a formação de corredores ecológicos e a restauração de florestas em parcerias com comunidades locais, sendo os Fóruns Florestais regionais também espaços para discutir desafios e avançar em melhores práticas conjuntamente.