Professor do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa
Op-CP-17
É subjetivo e desnecessário afirmar que a crise acabou, mas é fato que o pior já passou, conforme demonstram os indicadores macroeconômicos. Na verdade, não há uma instituição sinalizando o começo e o fim de uma crise. Ela surge e se dissipa natural e gradativamente. No mundo econômico, associaram o início desta com a derrocada do Lehman Brothers.
É certo que não foi nenhuma marolinha, mas também nada de tsunami, como os catastrofistas profetizavam, chegando a compará-la ao crash de 1929. O certo é que o Brasil realmente foi um dos últimos países a entrar na crise e está sendo um dos primeiros a sair dela, juntamente com a China, Coreia do Sul e outros países em desenvolvimento.
Esse mérito, embora alguns não gostem, tem que ser creditado à equipe econômica do atual governo. Não há dúvida de que a crise afetou a todos, uns mais e outros menos. Mesmo o segmento de celulose, que viu suas exportações aumentarem diante da crise (como previ na edição Março-Maio/2009 da Revista Opiniões), também foi abalada em função da queda dos preços dessa commodity.
Mesmo assim, há, no mínimo, três meses, esses preços vêm subindo semanalmente. Em termos gerais, o lado positivo dessa crise, para o setor florestal, foi a pressão que ela exerceu na queda da taxa básica de juros (Selic) de 13,75% para 8,75% a.a., a menor da história deste país, que sempre conviveu com juros escorchantes.
Especificamente, ela também forçou uma acomodação dos preços dos insumos e do valor das terras. Com a queda na Selic, certamente haverá maior liquidez e disponibilidade financeira para investir em plantações florestais. Só gostaria que o aumento expressivo que ocorrerá nos plantios florestais não retornasse com os abusos nos preços dos insumos - fertilizantes, mudas e defensivos, e nem nos valores das terras.
Já é possível perceber, no setor florestal, movimentos demonstrando que o pior já passou. Basta verificar a reação que está ocorrendo no segmento da siderurgia a carvão vegetal, o mais prejudicado nessa crise. Com a necessidade de reposição do estoque mundial de aço, as encomendas retornaram e, com elas, os preços e a demanda do gusa e do carvão.
Mesmo assim, esse é o segmento que terá mais dificuldade de se recompor da crise. Os outros segmentos florestais foram e serão beneficiados pela crise. Os voltados para exportação reagirão conforme a reação dos países importadores perante a crise. No caso da celulose, que já aumentou sua participação na exportação para os países asiáticos graças à crise, esta vai aumentar ainda mais no mercado internacional com a recuperação econômica gradativa dos países desenvolvidos, velhos fortes compradores da nossa celulose.
Na verdade, a indústria de celulose brasileira deve rezar todos os dias, em favor da crise. Ela catalisou um processo de depuração no mercado fornecedor, que, por conta do tempo, iria demorar, no mínimo, duas décadas, aniquilando aquelas indústrias dos países sem condições de continuar competindo com o Brasil, entre eles, grandes players, como a Suécia.
Quem não pode perder esse bonde puxado pela celulose é a indústria de painéis da madeira, principalmente MDF e MDP. Como na celulose, o Brasil será um dos maiores players nesse mercado. Não obstante os ganhos na celulose e nos painéis, o problema é com a siderurgia a carvão vegetal. Nosso antigo e principal comprador, os EUA, núcleo da crise, não reagirão a contento para aumentar nossas exportações. Os empresários desse ramo precisam buscar novos mercados, mais competitivos para nós do que para a China.
Ela é uma forte ameaça para o nosso gusa. Durante a crise, a China invadiu mercados de aço, que, por tradição e proximidade, tinham que ser nosso. É o caso da Argentina. Temos que retomar esse mercado e buscar eldorados mais próximos, de menor frete, do que o dela, como o continente africano, principalmente os países banhados pelo oceano Atlântico e os mais democraticamente estabilizados, como Angola.
Com isso, investimentos em infraestrutura serão desencadeados, o consumo das famílias crescerá, rebocando o emprego. Certamente a demanda por aço será inevitável. Há um processo de fusão das siderúrgicas na China, para fazer frente às grandes mineradoras que ditaram os preços das commodities minerais nos últimos 3 anos antes da crise, que forçaram o governo chinês a adotar políticas de incentivos a essa fusão.
Com isso, as siderúrgicas de lá aumentaram a produção acima da demanda doméstica, despejando esse excedente em mercados, que, outrora, era do Brasil. O fato é que o Brasil precisa aumentar sua parcela no mercado internacional de produtos florestais e continuar conquistando mercado dos países emergentes, independente se a crise acabou ou não. Não há nada que impeça que façamos isso. Somos criativos e temos o mais imbatível crescimento florestal do mundo. Esqueçam a nossa classe política e os neonazistas ecoditadores que insistem em travar nosso progresso e vamos, Brasil.