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Jarbas Silva Borges e José Eduardo Petrilli Mendes

Especialista em Manejo e Qualidade Florestal e Gerente de P&D Florestal, respectivamente, da Dexco

Op-CP-77

Manejo de plantações de eucaliptos versus o clima
A ocorrência de eventos climáticos extremos tem-se tornado cada vez mais comum no Brasil. Não são raros relatos da ocorrência de ventanias, geadas, períodos prolongados de seca ou com alta intensidade de precipitação. Em 2024, por exemplo, no Rio Grande do Sul, de abril a maio, o município de Taquari registrou 1.197 mm de chuva (492% acima da normal climatológica para o período).

Já no Sudeste, em Agudos, estado de São Paulo, está ocorrendo a pior seca dos últimos 57 anos. De janeiro a junho, choveu apenas 432 mm (50% do previsto para o período). Há registros de mortalidade de plantios de eucalipto ocasionados por estresse hídrico em vários locais. No Triângulo Mineiro, o último registro de chuva ocorreu há mais de 150 dias, que aliado às temperaturas elevadas proporcionaram um déficit hídrico acumulado extremo na região. As geadas também afetaram extensas áreas de plantios de eucalipto. Com a vegetação seca pela estiagem e pelas geadas, os incêndios se multiplicam. 
 
Diante de toda esta variação e complexidade climática, as práticas de planejamento e manejo silvicultural são estratégias essenciais para minimizar os impactos sobre a sobrevivência e a produtividade dos plantios florestais.

Essas estratégias vão desde o planejamento da ocupação da paisagem no nível de bacia hidrográfica, das práticas de manejo e conservação do solo, da escolha do material genético, do arranjamento espacial dos plantios, até práticas simples como irrigação, qualidade de mudas, adubação/calagem, manejo de matocompetição, pragas e doenças. Tudo visando a obtenção de plantios produtivos e sustentáveis.

No caso do preparo do solo, a conservação do solo e manutenção da água no interior dos talhões são fundamentais para a sustentabilidade da produtividade. Adicionalmente, em regiões com presença de camadas de impedimento no solo em subsuperfície, o aumento do volume de solo mobilizado na subsolagem tem impacto positivo sobre a produtividade dos plantios.

Resultados de testes realizados pela Dexco evidenciam ganhos de produtividade entre 13 e 34%, a depender da posição no relevo (plano ou encosta) e do material genético, aumentando a profundidade de preparo do solo de 30 para 100 cm. A interação entre o material genético e o tipo de preparo do solo é um componente fundamental na intensidade da resposta nesta condição. 

EFEITOS DA APLICAÇÃO DE BIOESTIMULANTES SOBRE A MORTALIDADE E ALTURA DE PLANTAS DE ACORDO COM O PRODUTO TESTADO E DIAS APÓS O PLANTIO


Outro grande desafio é garantir a realização do plantio durante todo o ano, em regiões com forte déficit hídrico (Triângulo Mineiro, por exemplo). Nestas regiões, o preparo de solo (mesmo os arenosos), em condições de baixa umidade de solo, gera uma grande quantidade de torrões, que dificulta a entrega do plantio com o nível de qualidade desejado, demandando operações adicionais, como o destorroamento. Para esta operação, ainda é necessário o desenvolvimento de equipamentos adequados à realidade da silvicultura.

Para a qualidade das mudas, é fundamental para garantir a lotação inicial dos plantios. Neste sentido, é necessário verificar a rusticidade adequada, o diâmetro do coleto, o desenvolvimento do sistema radicular (agregação do substrato e quantidade de raízes ativas), especialmente, em períodos de maior déficit hídrico.

Algumas ações melhoram o desempenho das mudas em campo, por exemplo: adubações de rustificação com cloreto de potássio, semanas antes da expedição, aumentam a tolerância ao déficit hídrico; o plantio das mudas com substrato úmido e irrigações de plantio junto ou muito próximas ao plantio; o uso de produtos bioestimulantes, adicionalmente, pode ser uma boa alternativa. O gráfico em destaque evidencia o potencial do uso de um destes produtos na redução da mortalidade de mudas plantadas no ápice do período seco (agosto/2022) no Triângulo Mineiro.

No caso da irrigação de plantio, parâmetros como presença de bacia, volume de água por muda, intervalo entre o plantio e a primeira irrigação e entre as irrigações subsequentes são fundamentais para garantir altas taxas de sobrevivência. O uso de aditivos de irrigação (produtos que aumentam a viscosidade da água) também é uma boa prática.

Testes realizados na Dexco demonstraram reduções de até 40% na mortalidade, comparado ao uso de apenas água nas irrigações. Estes produtos, desde que usados na dosagem recomendada e diluídos no tanque de irrigação de forma correta, diminuem a evaporação da água e a sua velocidade de infiltração no solo, além de formar um bulbo compactado no entorno da muda.

Já a calagem é uma prática para a qual tem sido dada pouca importância, às vezes, até ignorada no meio florestal, principalmente, pela tolerância do eucalipto à acidez do solo. No entanto, a alta demanda do eucalipto por cálcio e magnésio faz com que, frequentemente, tenhamos ganhos de produtividade com a aplicação de calcário, principalmente em áreas com baixos teores de cálcio e magnésio no solo.

Além disso, há informações científicas que demonstram a relação entre a aplicação de calcário e gesso, em áreas com forte déficit hídrico, e o aumento da sobrevivência dos plantios. Em teste recente, realizado pela Dexco na região de Agudos (áreas que estão sofrendo com déficit hídrico em 2024), em tratamento pareado de omissão de calcário e aplicação de acordo com a recomendação técnica, verificou-se, além da perda de produtividade (13% de redução), uma alta mortalidade no tratamento que não recebeu calcário. 

O resultado pode ser observado, na ilustração em destaque, com o uso de índices de vegetação gerados a partir de imagem de satélite (NDVI) para as parcelas com e sem aplicação de calcário.
 
A definição da melhor densidade de plantas e do arranjo espacial (entre linhas e entre plantas) é outra estratégia fundamental para otimização da produtividade e sobrevivência do plantio, principalmente em regiões com forte déficit hídrico. Ao longo dos últimos 30 anos, a equipe da Dexco instalou uma rede de ensaios de espaçamento de plantio, onde se variou a lotação, o arranjo espacial dos espaçamentos e diferentes espécies/clones. 

Os resultados destes testes indicam uma forte tendência de aumento da produtividade com aumento da lotação, no entanto, com piora nas variáveis dendrométricas (dap, altura e VMI). Além disso, também foi verificada uma perda de produtividade com aumento da retangularidade dos espaçamentos.
 
O potencial de resposta ao aumento da lotação é muito influenciado pela qualidade do sítio, sendo as maiores repostas observadas em sítios mais produtivos (solos argilosos, com melhor distribuição pluviométrica). No caso de regiões mais secas, deve-se optar por lotações mais baixas, visando adequar a sobrevivência e a produtividade ao potencial do sítio.

Por fim, a escolha do material genético mais adequado para as características do sítio a ser plantado é etapa fundamental para garantia da sobrevivência e atingimento da produtividade esperada. O entendimento das características do material genético e da sua interação com ambiente deve ser usado para a melhor alocação clonal, visando o atingimento de produtividades compatíveis com o potencial de cada sítio. Entendemos que o emprego adequado das práticas silviculturais (algumas discutidas aqui) é fundamental para a mitigar os efeitos das oscilações do clima e seus possíveis impactos sobre a sobrevivência e a produtividade florestal.

PARCELAS GÊMEAS COM E SEM OMISSÃO DE CALCÁRIO