Pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP
Op-CP-01
O fato de que a mudança global do clima representa um problema potencialmente grave para as futuras gerações foi relatado pela primeira vez em 1990, no Relatório de Avaliação do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima), publicado pela ONU. A reação política a esta constatação tomou a forma de uma resolução da Assembléia Geral da ONU, no sentido de que fosse negociada uma Convenção – a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, de 1992, a qual se seguiu o Protocolo de Kyoto, de 1997.
Em quinze anos aprendemos muito sobre a mudança global do clima, cuja principal causa é o aumento da concentração de gás carbônico, ou dióxido de carbono, na atmosfera, como resultado das ações humanas, como a queima de combustíveis fósseis - carvão, petróleo e gás natural - e o desflorestamento. Os últimos relatórios do IPCC dissiparam as incertezas sobre a mudança global do clima e sobre como atenuá-la.
Está claro, hoje, que há um equilíbrio entre o carbono na atmosfera, na forma de gás carbônico, e o carbono na biosfera, na forma de matéria orgânica, como em árvores. Uma expansão da área plantada com árvores no Brasil contribui para evitar a mudança do clima, desde que as plantações substituam vegetação com menor densidade de carbono por hectare. Desta forma, haverá uma transferência líquida de carbono, da atmosfera para a biosfera.
Com o agravamento dos danos causados pela mudança global do clima e com o aumento da preocupação da sociedade com os danos futuros, é inevitável que aumente a preocupação com o estoque de carbono na biosfera. Nas condições acima, o aumento da área de plantações no Brasil representará um aumento líquido do carbono na biosfera em território brasileiro, carbono este retirado da atmosfera.
A modernização das plantações, especialmente de eucaliptos, deverá ter outro efeito benéfico para o clima. A produtividade, expressa em toneladas de biomassa seca por hectare ano (ou de toneladas de carbono por hectare por ano), deve aumentar com a escala da produção e com o aperfeiçoamento tecnológico que já vem ocorrendo e será acelerado.
O aumento da produtividade deverá estender-se a outros setores, em particular a produção de madeira para a produção de carvão vegetal renovável, que pode ser usado na produção de ferro e aço, competindo com o carvão mineral e com o carvão vegetal de florestas nativas, não renováveis. Embora o carvão vegetal renovável seja, em média, mais caro do que o de origem mineral, ou fóssil, e do que o carvão vegetal não renovável de florestas nativas, qualquer contribuição para dar um mínimo de viabilidade econômica ao carvão vegetal renovável é um passo na direção correta.
Outro aspecto importante da ampliação da produção de madeira para papel e celulose no Brasil (e da produção de carvão vegetal renovável) é o fato de que há uma tendência crescente de que as plantações incluam a proteção de florestas nativas, com corredores de biodiversidade. Em alguns locais do Brasil, de fato, as áreas de vegetação nativa, associadas às plantações industriais, por força de regulamentação ou como conseqüência de boas práticas, podem constituir-se, de fato, em uma importante contribuição para a conservação da biodiversidade em nosso território.
Há no Brasil uma grande extensão de terras, onde a vegetação original foi removida para a expansão da fronteira agrícola. Os morros pelados do Vale do Paraíba, tão bem descritos por Monteiro Lobato, em Cidades Mortas, são um caso bem conhecido. A recuperação das áreas degradadas com o plantio de florestas, como aventado pelo projeto FLORAM do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, desde que feito com a proporção apropriada de florestas nativas, pode contribuir, simultaneamente, para evitar parcialmente a mudança global do clima e para a proteção da biodiversidade.
É essencial, no entanto, que a expansão da área plantada com florestas para a produção de madeira, seja para papel e celulose, seja para a produção sustentável de carvão vegetal, seja para a indústria moveleira, não seja feita às custas da derrubada de florestas nativas, mas sim contribua para a sua recuperação. Existem exemplos no Brasil de empreendimentos florestais em que a introdução de florestas plantadas de fato contribuem para a conservação do solo e para a melhoria da disponibilidade de água.
Estes exemplos devem ser seguidos nas novas áreas de expansão dos plantios. Por último, mas não menos importante, é a geração de empregos, associada à expansão da área plantada com florestas, no Brasil. Países nórdicos, com longa tradição florestal, têm, nesta atividade, uma importante fonte de empregos no campo. As condições naturais do Brasil, que propiciam uma alta produtividade florestal, podem permitir que sejam replicados aqui alguns dos benefícios sociais e econômicos daqueles países.