Secretário do Meio Ambiente de São Paulo
Op-CP-01
Há mais de século eram plantadas no Brasil as primeiras mudas de eucalipto, árvore originária da Austrália. Nascia a silvicultura brasileira. O pioneirismo coube a Navarro de Andrade que, em 1903, trouxe mudas da nova espécie, para plantio em Rio Claro, SP. Com as espécies de pinheiro ocorreu semelhante história. Até 1965, a silvicultura nacional viveu sua fase inicial.
Naquele ano, as estimativas indicavam 400 mil hectares plantados com eucaliptos. A partir de 1966, o governo federal estabeleceu um forte programa de incentivos fiscais ao reflorestamento, permitindo uma rápida expansão na atividade. Em 20 anos, 3,23 milhões de hectares foram plantados nas regiões sul e sudeste. Surgiram grandes empresas interessadas na madeira como matéria-prima para a fabricação de papel. Constituiu-se também a indústria de aglomerados, compensados e chapas de madeira, produtos utilizados na indústria moveleira.
Encerrada em 1986, a política de incentivos fiscais representou a fase de ouro dos plantios florestais. A silvicultura diferenciou-se da agronomia, surgindo faculdades próprias do saber florestal, potencializando o conhecimento científico e a pesquisa tecnológica. Nos últimos 15 anos, o setor consolidou-se com suas próprias pernas, investindo em capital, terras e tecnologia. Hoje, existem quase 5,5 milhões de hectares ocupados com florestas plantadas, representando 7,7% da área total cultivada no Brasil.
Considerando todo o agronegócio de madeira, carvão, papel e celulose, o emprego no setor atinge 500 mil trabalhadores, incluindo 50 mil produtores rurais familiares, a maioria dos quais participa dos programas de fomento florestal. Aqui reside uma excelente oportunidade econômica para a agricultura nacional. O comércio mundial de produtos florestais atinge US$ 290 bilhões/ano.
O Brasil participa com apenas 1,5% desse grande negócio, apresentando elevado potencial para crescer. Entretanto, os estudos mostram que a expansão da área florestal não acompanha o ritmo de crescimento do consumo, principalmente, com relação à madeira. Fala-se, até, exageradamente, em um apagão florestal.
Com a oferta apertada, nada garante que o governo federal, através do Programa Nacional de Florestas – PNF, resolva a equação. Os financiamentos subsidiados previstos, de R$ 1,8 bilhão até 2007, ampliarão a área plantada em 2 milhões de hectares, ainda insignificantes face aos desafios do setor. As análises econômicas e os cenários estudados indicam, claramente, a necessidade de maiores inversões na silvicultura, sob pena de faltar matéria-prima para as atividades transformadoras de madeira.
Além da expansão própria dos plantios empresariais, promovidos especialmente pelo setor de celulose e papel, que ampliam suas plantas industriais, visando o mercado externo, o fomento florestal surge como grande alternativa para incluir milhares de pequenos produtores rurais nos benefícios florestais. O fluxo de renda contínuo e elevado, trazido pelas florestas plantadas, poderágarantir uma espécie de“poupança verde”, no campo.
Há um enorme potencial para expandir os plantios florestais, a partir das parcerias florestais, sistema que já vem sendo utilizado pelas empresas do setor de celulose e papel, com sucesso. Dessa forma, a silvicultura abre espaço para o uso sustentável do solo, configurando uma atividade ecologicamente adequada, socialmente justa e economicamente viável.
Nas parcerias florestais, as variedades plantadas destinam-se, preponderantemente, ao mercado da celulose e do papel, visto que as empresas desse setor têm sido pioneiras no fomento da atividade. Em todos os casos, porém, destina-se parte da madeira para outros ramos, mormente móveis, serrarias ou carvão. Sempre será possível, também, a exploração da resina e do mel.
Propriedades melhor localizadas começam a oferecer serviços ambientais e apoio ao turismo ecológico. Enfim, o mercado para as florestas plantadas é muito promissor, com uma vantagem: permite o planejamento de longo prazo. As florestas plantadas poderão configurar, para o agricultor, uma espécie de poupança, tal qual uma previdência privada. Recente análise, realizada por Eduardo Castanho, 2005, pesquisador do IEA, comprova a rentabilidade esperada com o cultivo de eucalipto, em condições do Estado de São Paulo.
Na formulação proposta, ao final do ciclo, existirão doze parcelas de um hectare cada, perfazendo 12 hectares (5 alqueires paulistas), que configuram um “módulo de investimento”. O rendimento estimado com o plantio em terras próprias é de 13% aa e, pagando-se o aluguel ou parceria, na base de 25% do valor da produção, a rentabilidade fica em10% aa, ambas perfeitamente competitivas com outras aplicações do mercado.
O desembolso acumulado total, somando custeio e investimento, atinge cerca de R$ 24 mil, em doze anos, uma média de R$ 2 mil/ano. A partir do 12º ano, a receita bruta estabilizar-se-á ao redor de R$ 16 mil/ano. Descontando-se os custos, a renda líquida aproximar-se-á de R$ 12 mil/ano, representando R$ 1 mil/ha/ano.
O mais relevante é que, à semelhança de uma poupança, este rendimento realizar-se-á, indefinidamente, conferindo a este investimento uma característica de “fundo de previdência”. A análise comprova aquilo que a prática da moderna silvicultura está indicando: os programas de fomento florestal são excelentes alternativas de renda para os pequenos e médios agricultores. Mais que garantia de receita, os plantios florestais, se bem planejados, configuram-se numa espécie de “poupança verde” para os agricultores familiares, trazendo-lhes um conforto, em relação ao seu futuro. Uma previdência para assegurar sua aposentadoria na labuta da terra.