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Nestor de Castro Neto

Presidente da Voith Paper

Op-CP-15

Os rumos do setor de papel e celulose brasileiro

O mercado de papel e celulose nunca esteve tão competitivo. Novos cenários têm alterado as regras do mercado e o entendimento deles será determinante para o crescimento no setor. Localização das áreas florestais, estilo de plantio, taxas cambiais, mudanças de hábitos de consumo, enfim, tudo pode ser interpretado como oportunidade e ameaça.

O Brasil foi privilegiado pela natureza e a vantagem competitiva da cultura do eucalipto é fator diferenciador relevante no potencial de crescimento de nossa indústria. A terra no Brasil ainda é relativamente barata e extremamente favorável ao plantio do eucalipto, chegando a ter uma produtividade por hectare até 10 vezes maior do que no hemisfério norte, o que significa um manejo mais simples e necessidade de área proporcionalmente menor.

Essas vantagens competitivas permitem também custos competitivos, mesmo diante da valorização cambial extrema que vivenciamos em 2008. Injustamente, vemos campanhas contra o plantio de eucalipto, que rotulam tais plantações como deserto verde. A verdade é que essas plantações são controladas e para cada hectare de eucalipto plantado, em média, outro de mata natural é preservado, muitas vezes em áreas já degradadas, em projetos de recuperação e proteção.

Os pastos no Brasil têm uma área de mais de 220 milhões de ha e as florestas plantadas de eucalipto são pouco mais de 2,5% dessa área, 5 milhões de ha, sendo que nem metade é destinada para o segmento de papel e celulose. Assim, caso transformássemos mais 1,25% dos atuais pastos em florestas para produção de celulose e papel, poderíamos dobrar a produção desses produtos.

Os aprimoramentos na indústria florestal brasileira também têm sido significativos. A produtividade cresce constantemente com o uso de técnicas de manejo florestal. As empresas investem fortemente em pesquisa, na busca de novas tecnologias que possibilitem avanços e quebra de mitos e de barreiras florestais hoje conhecidas, como a clonagem na geração de mudas para o plantio, não só corriqueira, como obrigatória.

As recentes turbulências econômicas afetaram fortemente o setor, mas a competitividade brasileira ajudou a proteger parcialmente as empresas nacionais, mesmo com a queda do preço da tonelada de celulose de US$ 780 para US$ 400. As empresas brasileiras têm, ao seu lado, custos em Real declinantes, frente à apreciação do Dólar, hoje na faixa de R$ 2,30.

As margens das nossas produtoras acabaram mantendo-se mais satisfatórias. No entanto, fomos afetados pelas dívidas em moeda forte, o que ficou claro na leitura dos balanços das produtoras de celulose e papel do país. Além das dívidas, a utilização de ferramentas sofisticadas de derivativos foi a causa de perdas para os investidores mais afoitos.


Nesse contexto, para as empresas do hemisfério norte, que têm custos superiores, o valor de US$ 400 por tonelada não permite sobrevivência, por isso muitas anunciaram seu fechamento nos últimos meses. No final de 2008, o quadro era de uma parada brusca na produção de celulose. Existiam altos estoques e os custos de capital eram elevados. Nada mais natural do que observar um movimento representativo de contenção das saídas de caixa. Agora, o quadro volta a apresentar uma luz no fim do túnel.

No mercado nacional, mesmo com a situação difícil no curto prazo, há boas perspectivas no médio prazo. Após a redução dos estoques dos consumidores de celulose, já se nota uma estabilização dos preços.
Com o fechamento ou redução da produção, por parada estratégica ou por inviabilidade de produzir com custos aceitáveis, espera-se, também, um retorno lento do crescimento de preços. A China, por exemplo, apresenta agora um processo de estabilidade.

No mercado de papel, mesmo com retração significativa de demanda, alguns segmentos tiveram um aumento de margem por redução de custo maior que a redução de preço, como é o caso de papéis de escrever e imprimir. Na área de embalagem, a redução de custo não foi suficiente para repor as margens e algumas fábricas tiveram que fechar as portas.

Além disso, há oportunidades latentes de investimento, que possibilitam mais escala e poder de negociação, ante o mercado internacional, derivadas das vantagens competitivas locais. Não podemos deixar de mencionar que além da competitividade natural, o Brasil preparou-se com tecnologia e formação de pessoal.
Nossos profissionais estão capacitados para projetar, instalar e operar as complexas plantas instaladas em âmbito mundial. Esta vantagem competitiva não é fácil de copiar.

Não nos faltam também qualificação gerencial e boas e sólidas empresas no setor, tanto na produção de equipamentos, como na produção de papel e celulose, que podem e vão continuar a desenvolver-se.
O horizonte que vemos pela frente não é mais de completa escuridão. Há tímidos sinais de reencontro com a estabilidade, mas é necessário agir com sabedoria, utilizando nossas vantagens competitivas, temperadas com prudência e espírito empreendedor. Foram esses aspectos que possibilitaram, ao Brasil, ter lugar de destaque no cenário mundial de papel e celulose.