A área de florestas plantadas no Brasil atingiu 10 milhões de hectares em 2024, com maior crescimento nas últimas décadas e projeção de continuidade da expansão, para os novos projetos de celulose. Entretanto, nem sempre este aumento foi acompanhado pelo incremento da produção de madeira. Para os mais de 8 milhões de hectares de eucalipto, a produtividade média (IMA) aumentou de 10 a 25 m3/ha/ano nas décadas de 70 e 80, para 30 a 40 m3/ha/ano nas duas décadas seguintes. Em seguida, ocorreu um período de estabilidade e declínio da produtividade, sendo que atualmente a produtividade média é cerca de 35 m3/ha/ano.
Os principais motivos do aumento da produtividade, e que tornaram a silvicultura brasileira referência mundial, são bem conhecidos: a introdução de programas robustos de pesquisa e desenvolvimento, a recomendação e aplicação dos resultados em larga escala, com destaque para a clonagem do eucalipto, o desenvolvimento operacional, com a mecanização e controle de qualidade das operações florestais.
Sobre a estabilização e declínio da produtividade, as principais razões são a expansão dos plantios para regiões com condições edafoclimáticas mais restritivas, as alterações nos padrões climáticos, com a maior frequência de eventos extremos, como a redução e concentração do volume de chuva anual e o aumento da temperatura média. Outras causas incluem a detecção de novas pragas e doenças e a expansão das conhecidas, muitas vezes com maior severidade, além de questões operacionais e estruturais inerentes à grande escala dos programas de implantação florestal.
Considerando o cenário atual do setor de florestas plantadas, um dos questionamentos é se os plantios de eucalipto e pinus já retomaram a produtividade. Porém, a mais importante é como reverter esta situação, estabilizando ou mesmo retomando a produtividade. Tecnicamente, uma das principais respostas está relacionada com o aumento da resiliência dos plantios florestais. Não somente de resistência, tolerância ou adaptação às condições ambientais, mas sim de resiliência às condições ambientais cada vez mais restritivas.
Em ecologia, resiliência é a capacidade de um sistema restabelecer seu equilíbrio após um distúrbio, ou seja, sua capacidade de recuperação. Este mesmo conceito aplicado ao cultivo de espécies florestais pode ser definido como a capacidade dos plantios absorverem e reagirem aos estresses bióticos e abióticos, reestabelecerem o equilíbrio, recuperando-se em parte ou completamente ao longo do tempo. Esses estresses ou distúrbios podem ter causas ambientais, como déficit hídrico, temperaturas extremas ou vendavais, ou bióticas, como a ocorrência de pragas e doenças.
O nível de resiliência dos plantios florestais é resultado da combinação de diversos aspectos da planta, do ambiente e da interação entre os mesmos. Os materiais genéticos plantados, sejam clones ou sementes, as práticas de manejo aplicadas, como espaçamento de plantio e fertilização, e os métodos de controle de pragas, como o biológico, são práticas com potencial para aumentar a resiliência dos plantios.
Importante mencionar que os programas de pesquisa florestal em andamento e as práticas de manejo empregadas nas atividades florestais das empresas já conferem resiliência aos plantios, mas que a mesma pode ser aumentada com a adoção de novas tecnologias em estudo, nas áreas de manejo, proteção, melhoramento, biotecnologia, sustentabilidade, dentre outras.
No melhoramento genético, alguns exemplos são a introdução de espécies mais tolerantes a estresses hídricos e térmicos, visando a hibridação e seleção de clones mais tolerantes a seca e doenças bióticas, e a utilização de compostos clonais, onde o plantio de clones selecionados criteriosamente pode propiciar maior resiliência. Técnicas biotecnológicas, como a poliploidia (geração de clones poliploides), e a transformação genética, com a introdução de genes para tolerância à seca, têm potencial para a geração de clones mais resilientes.
Para a avaliação das plantas, é importante o desenvolvimento de ferramentas de caracterização fisiológica para tolerância aos estresses. Importante ressaltar que a resiliência dos materiais plantados é maximizada com a estratificação ambiental das áreas, recomendação e alocação clonal por unidades de manejo.
No manejo florestal, a resiliência pode ser aumentada com práticas de conservação e de manejo regenerativo do solo, incluindo a utilização de práticas de cultivo mínimo, plantio em nível, manutenção de resíduos florestais, cobertura do solo com gramíneas, espécies fixadoras de nitrogênio e outras culturas de ciclo curto. A utilização de fertilizantes organominerais, orgânicos, biológicos e foliares, além de biochar e insumos protetores de plantas, tem potencial para aumentar a resiliência.
Outras práticas para avaliação incluem espaçamentos e arranjos de plantio otimizados, os sistemas agroflorestais e ILPFs, o regime de condução de brotação e a otimização do tempo de rotação. Na área de sanidade e proteção, destaca-se o avanço contínuo das tecnologias de monitoramento integrado de pragas e doenças, a utilização em larga escala do controle biológico, que permitem maior equilíbrio ambiental, e a redução do consumo de insumos químicos.
A resiliência dos plantios também é influenciada pelas áreas circunvizinhas, ou seja, em um sentido mais amplo devemos considerar ações na escala de bacia hidrográfica, incluindo os plantios comerciais e as áreas de Reserva Legal e Áreas de Preservação Permanente (RLs e APPs), com mosaico de idades e materiais genéticos, mosaico com matas nativas, criação de corredores ecológicos, e aumento das áreas de conservação.
Para a avaliação e mensuração, devem ser desenvolvidas e aplicadas tecnologias orbitais que permitam o monitoramento em larga escala da resiliência dos plantios florestais e a adoção de medidas preventivas e curativas, incluindo sistemas de monitoramento climático, ocorrência de pragas e doenças, e sistemas de detecção e prevenção de incêndios. O desenvolvimento de índices ou indicadores de resiliência permitem acompanhar o impacto das condições ambientais e das recomendações técnicas na resiliência dos plantios ao longo do tempo.
O aumento da resiliência dos plantios florestais demanda a condução de programas transversais, com a interação e colaboração de diversas áreas de pesquisa, desenvolvimento, sustentabilidade e operação, com o estabelecimento de estratégia contemplando ações de curto, médio e longo prazos, incluindo o desenvolvimento de sistemas de alerta e monitoramento que ajudem na adoção de medidas preventivas e de acompanhamento da evolução da resiliência com indicadores e índices.
Considerando a natureza pré-competitiva do tema e a magnitude do desafio, deve-se pensar na estruturação de programas cooperativos entre universidades e empresas, para a elaboração de um plano estruturado de resiliência florestal e redução dos impactos de alterações ambientais nos plantios florestais. Uma silvicultura mais regenerativa, menos impactante e mais integrada ao meio ambiente é a chave para a perenidade das florestas plantadas, principal matéria-prima das indústrias de base florestal.