Coordenador do Projeto contra Aquecimento Global da SPVS
Op-CP-07
Há séculos, as florestas nativas são substituídas por sistemas mais simples (agropecuária, reflorestamentos), para atender às crescentes demandas de consumo humanas. Estas também são impactadas por conta da extração de madeira e outros produtos, ou pelos ditos planos de manejo florestal. A realidade atual é que ainda estas florestas são consideradas empecilho ao desenvolvimento.
Outras formas de uso da terra são mais rentáveis economicamente, conseqüentemente, os proprietários da terra optam por substituir suas áreas naturais gradativa-mente, muitas vezes, alheios às restrições impostas pela lei. Frente a este cenário, deve-se questionar alguns aspectos. Que valor ou importância atribui-se às florestas nativas? Por que ou como conservar ou restaurar estas florestas? Como conscientizar a sociedade da sua necessidade?
A valoração das florestas nativas é um assunto recente e restrito a uma faixa ínfima da sociedade. Cientistas e ambientalistas alertam sobre a importância delas, em relação à conservação da biodiversidade e da água, do equilíbrio climático, paisagístico e usos diversos. Frente à constatação das mudanças climáticas e dos primeiros sinais de escassez da água, este assunto tem sido abordado de forma intensa na mídia, mas, infelizmente, sem surtir qualquer efeito significativo para a conservação das florestas nativas e sua valoração, como recurso natural de todos.
Visando contrapor as questões econômicas e sociais da demanda de espaço e de recursos naturais, tem-se utilizado, literalmente, da mesma moeda, ou seja, tentando valorar economicamente os chamados “serviços ambientais”, se argumentado que o preço a ser pago futuramente pela degradação ambiental será infinitamente maior que o lucro auferido atualmente.
Essa linha de atuação, embora muito importante, ainda é pouco expressiva, pela falta de quem pague por estes serviços ambientais e mesmo pela cultura imediatista, principalmente no Brasil, em que o futuro não é levado em consideração. Um princípio extremamente importante e pouco considerado em relação às florestas nativas é o seu nível de degradação, o que também contribui com a problemática, em torno da conservação da biodiversidade.
Na Floresta Atlântica, estima-se que menos de 7% de remanescentes estejam em bom estado de conservação. Estes remanescentes representam o máximo de biodiversidade. Muitas espécies só ocorrem nesta situação e não nas demais florestas nativas secundárias. O impacto causado pela alteração das florestas nativas, tanto por corte, quanto por manejo, é catastrófico, porque, possivelmente, muitas espécies podem desaparecer.
O fator irreversibilidade deve ser salientado já que os recursos naturais para as gerações futuras estão ficando mais pobres. Outro aspecto que vem prejudicando a conservação da biodiversidade destes remanescentes é a fragmentação dos habitats. Hoje, restam apenas fragmentos florestais de pequena extensão, muitas vezes de tamanhos que não permitem a sobrevivência de algumas espécies, a médio e longo prazos.
No caso da Mata Atlântica, por exemplo, as áreas em bom estado de conservação estão espalhadas por “ilhas” de florestas. A composição biológica e a estrutura desses remanescentes são muito variáveis, em toda a extensão da Mata Atlântica. Condições climáticas e de substrato (solo, relevo, geologia) tornam este bioma um dos mais ricos, em termos de biodiversidade do planeta.
Mesmo em uma escala regional, esta distinção pode ser muito representativa, necessitando de ações diferenciadas para cada situação. O manejo e a restauração de florestas nativas têm como principal ferramenta de planejamento a análise da paisagem, tanto na definição das áreas a serem conservadas, quanto dos sistemas produtivos. A adoção de um Sistema de Informações Geográfico permite a espacialização e a quantificação da área em termos ambientais, produtivos, sociais e econômicos, possibilitando uma visão ampla dos sistemas, na paisagem.
Na utilização desta ferramenta, a primeira ação a ser implementada está relacionada à identificação dos remanescentes bem conservados. Este é o núcleo para o desdobramento das demais ações. Por exemplo, quando se trata de conservação da biodiversidade, avalia-se o tamanho e a necessidade de conexão com outros fragmentos bem conservados, definindo-se corredores que devem ser estabelecidos com as respectivas ações, definição de unidades de conservação e áreas a serem restauradas.
Esta identificação dos remanescentes deve obedecer a critérios técnicos, relativos à flora e à fauna e sua relação com o posicionamento e características da paisagem, protocolo este que ainda precisa ser desenvolvido e popularizado. Estes remanescentes são as fontes de propágulos, para que possam ocorrer os processos de restauração, em termos de qualidade deste processo. A definição das florestas a serem manejadas vem em seguida, por intermédio da avaliação da intensidade de manejo que se pretende estabelecer.
O ideal é ter um gradiente de áreas de manejo menos intensivo, para mais intensivo, objetivando ter uma zona tampão com as áreas de uso não florestal (agropecuária), ou mesmo monoculturas florestais exóticas ou nativas. Na prática, esta delimitação teórica da paisagem, além de não de estar ocorrendo, deve interagir com os fatores econômicos e sociais das atividades a serem desenvolvidas em cada região específica. Esta tarefa não é fácil, devido à falta de visão que a sociedade tem das escalas espaciais e temporais da natureza. Sistemas mais complexos, como florestas nativas, devem estar embutidos dentro da matriz da paisagem, como âncoras do equilíbrio ambiental, que dependemos para o futuro do planeta.