Pesquisador em Patologia Florestal da Embrapa
Op-CP-03
As doenças de plantas sempre causaram impacto negativo na produção vegetal de qualquer cultura. No caso das florestas plantadas de eucalipto, tal fato foi determinante para a seleção das espécies de eucalipto com destinação madeireira.
Digno de nota foi o impacto da doença, denominada, cancro, do eucalipto para a Silvicultura no Brasil, por induzir o surgimento da Patologia Florestal e o fortalecimento do Melhoramento Genético tradicional na produção de material resistente e de híbridos, e da Fisiologia Florestal para a propagação vegetativa, que evoluiu a produção de mudas por semeadura, em saquinhos plásticos, para a estaquia de plantas superiores e para substratos em tubetes.
Muito ainda se evoluiu em função de outras necessidades locais, surgidas na cultura do eucalipto, de acordo com cada empresa florestal. Praticamente, os materiais superiores produzidos (clones) incorporaram a resistência a esta doença e a alta produtividade decorrente do vigor de crescimento dos híbridos. Afortunadamente, os melhores clones selecionados também apresentaram boa resistência às principais doenças conhecidas em eucaliptos produzidos por sementes.
Com a evolução da clonagem, o foco principal da seleção de indivíduos concentrou-se na produtividade dos eucaliptos, deixando-se de lado, por um tempo, a necessidade de se incluir as doenças no programa de melhoramento, visto que as atuais doenças de eucalipto seriam causadoras de poucos danos e de perdas econômicas insignificantes.
Atualmente, a ferrugem é considerada a doença mais importante e de maior impacto na produção do eucalipto, em clones comercialmente plantados. Ainda está obscuro se isto seria decorrente da variabilidade do patógeno, que teria suplantado a resistência dos clones. Vários esforços têm sido despendidos pelas indústrias de celulose e papel e pelas instituições de pesquisa e de ensino, no sentido de desenvolver um clone resistente, por meio dos diferentes processos de incorporação de genes de resistência ou métodos de controle, baseados em princípios conhecidos da Fitopatologia, associados à Silvicultura.
Outras doenças de menor importância têm sido registradas e monitoradas para o caso de se tornarem preocupantes à cultura do eucalipto, como o caso da murcha de Ceratocystis e de problemas em mini-jardins clonais. As doenças em viveiros de eucalipto são normalmente controladas por práticas culturais relacionadas com a garantia de entrada de material vegetal sadio e com a manutenção de estufas e casa-de-vegetação, em condições assépticas.
Em caso extremo, pode-se utilizar produtos químicos para o controle, de modo a erradicar o problema. Métodos de controle biológico, baseados no uso de microrganismos antagonistas ou parasitas dos agentes causadores de doenças, estão sendo utilizados como forma de diminuir ou eliminar o impacto da doença no viveiro e também para diminuir o controle químico.
Normalmente, o uso inadequado de produtos químicos promove impactos sociais e ambientais negativos e é uma das preocupações para as empresas que buscam ou já conseguiram a ISO 14000. Três cenários verificados pelos pesquisadores da Embrapa Florestas merecem ser destacados, nesta abordagem sobre doenças em eucaliptos.
O primeiro relaciona-se à grande diferença existente entre o material genético de eucalipto disponível ou em poder das empresas florestais de grande porte, altamente selecionado para especificações locais de plantio e de matéria-prima, e o material disponível ao pequeno e médio produtor. O aumento da produtividade da madeira de eucalipto das indústrias de celulose passa pelo incremento decorrente da produção de novos clones de alta produtividade, pela modificação nas práticas silviculturais para aumento dessa produtividade e pelo aumento de área plantada.
Nesse último caso, os plantios feitos em áreas de terceiros, forçosamente levarão à disponibilidade de clones altamente produtivos para os produtores rurais ou pelo arrendamento de área. Por outro lado, muitos produtores rurais, não participantes dos programas de fomento e interessados no plantio do eucalipto, acabam por adquirir mudas produzidas a partir de sementes e que, provavelmente, não possuem o mesmo grau de melhoramento que os clones.
O segundo cenário está ligado à ocorrência de fatores ambientais adversos e que condicionam ou predispõem as árvores ao estresse. Esse estresse pode ser de origem hídrica (sazonabilidade das chuvas), térmica (temperaturas extremas) ou ainda associada às condições locais de solo (pouca profundidade, arenosos ou de baixa fertilidade).
O estresse gera uma série de distúrbios fisiológicos, de forma a permitir o ataque de certos fungos oportunistas, e assim surgem doenças secundárias e complexos etiológicos, que se tornam importantes, à medida que o estresse continua. O terceiro cenário diz respeito à entrada de patógenos exóticos no Brasil e que sejam potencialmente daninhos para a eucaliptocultura nacional.
Por vezes, torna-se difícil caracterizar se um patógeno exótico pode ser importante para os plantios nacionais, pela falta de informação na região de origem da praga. A Embrapa Florestas tem participado de vários eventos relacionados ao tema e auxiliado o Ministério da Agricultura e Pecuária, no tema Defesa Sanitária Vegetal, acerca das principais pragas exóticas e quarentenárias, métodos de monitora-mento e detecção e na elaboração de planos de contingência.
Assim, a Patologia Florestal tem participado ativamente do cenário de produtividade do eucalipto, desde o início dos primeiros plantios comerciais, garantindo a sua sustentabilidade atual e, pode-se dizer, futura, pela constante atividade dos especialistas, distribuídos pelos institutos de pesquisa e universidades brasileiras.