Me chame no WhatsApp Agora!

Alysson Paolinelli

Produtor Rural, Consultor e Ex-Ministro da Agricultura

Op-CP-04

Como obter bons resultados manejando o reflorestamento

Tive a oportunidade de passar por governos, em diversas fases de estímulo ao reflorestamento. Ora por Incentivos Fiscais, como o do famoso Artigo 18, ora por pressão do mercado, face às demandas das siderúrgicas e de outras indústrias dependentes de matéria-prima florestal. Mas só agora, quando deixei definitivamente os governos, venho deparar-me com uma nova tecnologia, altamente favorável ao desenvolvimento florestal. O que muito me alegrou.

A Embrapa desenvolveu uma nova tecnologia, que eu chamo de Tupiniquim, tamanha a sua versatilidade e, se adotada em todo o País, o que, aliás, já vem acontecendo progressivamente, indiscutivelmente mudará a face do nosso agronegócio. Quero, em primeiro lugar, ir já alertando que ela não será facilmente copiada, pois é exclusiva para regiões tropicais do globo e os nossos principais concorrentes não a tem. Trata-se de desenvolver, em uma mesma área, num mesmo ano, duas ou mais culturas ao mesmo tempo, em benefício de ambas. Vou explicar.

Tudo começou com o famoso Plantio Direto que, aliás, não é invenção nossa. Ele já surgiu há diversos anos, até mesmo nas regiões temperadas do globo. Chegou aqui no Brasil há mais de 30 anos, lá pelo sul, mais especificamente no Rio Grande do Sul e Paraná, nossas regiões temperadas e subtropicais.


O Plantio Direto credenciou-se como uma prática altamente conservacionista, e alguns colegas nossos, agrônomos pioneiros e depois a própria Embrapa, tentaram trazê-lo para as nossas regiões tropicais, como nosso Cerrado, o que não foi fácil. Aí começaram a verificar que, além da palha morta, poderíamos usar uma cobertura viva, compatível com a cultura em questão. Começaram a pesquisar e verificaram que a maioria de nossas pastagens, especialmente as brachiárias, eram compatíveis com as principais culturas que se desenvolviam nos cerrados brasileiros, como o arroz, o feijão, a soja, o milho, o sorgo, o algodão, o girassol e até com algumas árvores, entre elas o eucalipto, que mais se sobressaiu.

Na pesquisa, verificaram que era absolutamente viável cultivar o arroz, o feijão, a soja, o milho, o sorgo, e etc., em cima de uma pastagem viva, sem destruí-la, apenas controlando ou inibindo o seu crescimento, com a aplicação de uma leve dose de um secante químico, que nenhum mal maior faria à pastagem ou ao meio ambiente, mas facilitaria o desenvolvimento da cultura anual desejada, até que se encorpasse o suficiente para completar o seu ciclo.

Após sessenta ou mais dias, a pastagem começaria a se reabilitar, mas pela falta de luz, em função da cobertura da planta anual que fora protegida, ficou estiolada, até que se completasse, definitivamente, o ciclo da cultura anual, quando então se faz a colheita rápida da planta escolhida, abrindo-se assim o espaço ideal para o crescimento de uma nova pastagem, fortalecida com os resíduos de fertilizantes, usados na cultura principal e os seus restos culturais.

Esta é também uma excelente forma de recuperar as nossas áreas degradadas. O mais impressionante disto tudo, é que alguns engenhosos companheiros começaram a colocar no meio desta prática a presença de árvores, com espaçamento maiores que os comumente usados, e estas se integraram no sistema com produtividades maiores que as esperadas.

Foi aí que alguns especialistas em reflorestamento tiveram a idéia de colocar o eucalipto, com espaçamento entre linhas maior que os usualmente cultivados e no meio das linhas, realizaram, com o mesmo êxito, a integração lavoura e pecuária. No fim do ciclo, tiveram naquela floresta, um rendimento muitas vezes maior que o esperado. Vejam o caso da Votorantin, em Vazante, MG, onde fizeram a integração lavoura e pecuária, junto com o eucalipto, com o espaçamento de nove metros entre as linhas e de dois metros, nas mesmas. Conseguiram, ao final de um ciclo de dez anos, um rendimento de mais de trezentos e cinqüenta estéreos de madeira por hectare e, neste período, já tiraram também várias toneladas de culturas anuais e muitas arrobas de boi. Perguntem a eles se existe outra solução mais rentável?