Coordenador Executivo do Programa Cooperativo sobre Silvicultura e Manejo (PTSM) do Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais
Fundado há 30 anos, o Programa Cooperativo de Silvicultura e Manejo (PTSM), do Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais (IPEF), tornou-se um dos grupos de pesquisa, ensino e extensão mais proeminentes do setor florestal, especialmente na produção e disseminação de conhecimento científico, técnico e operacional.
Ter tamanha longevidade é para poucos e um dos segredos para alcançar esta marca é o espírito cooperativista, a busca por objetivos comuns e a união de esforços de várias pessoas, que se identificam pela curiosidade nata de um pesquisador, seja ele profissional ou não, pelas suas virtudes e competências, bem como pela vontade de fazer acontecer.
Criado originalmente para estudar práticas silviculturais alternativas ao cultivo intensivo do solo, o PTSM conseguiu juntamente com empresas florestais parceiras esclarecer cientificamente os benefícios do cultivo mínimo do solo, como por exemplo: a maior ciclagem de nutrientes e, consequentemente, redução da demanda por fertilizantes; a melhoria do teor de matéria organiza do solo; a redução da compactação do solo; a maior estocagem de água em camadas superficiais e subsuperficiais do solo.
Apesar disso, a adoção do cultivo mínimo em escala operacional não foi tarefa fácil. A manutenção dos resíduos oriundos da colheita da madeira (exemplo: folhas, galhos e casca) sobre o solo, bem como da serapilheira acumulada ao longo da rotação de cultivo, acarretava uma série de obstáculos para a silvicultura da época, tais como:
1) a dificuldade de realizar o controle das formigas cortadeiras;
2) a manutenção de fontes de propágulos de doenças (exemplo: Puccinia psidii);
3) dificuldade de operacionalizar algumas práticas silviculturais, como, por exemplo, o preparo de solo e a fertilização de base, seja pelo o “embuchamento” dos implementos devido ao acúmulo dos resíduos na haste de subsolagem, seja pela desuniformidade da distribuição do fertilizante em profundidade, ao longo do sulco de plantio.
Ao superar esses desafios com a colaboração e esforço de vários atores da academia e setor privado (figura 1 e 2), o PTSM se destacou pelo ineditismo técnico-científico e operacional no setor florestal.
Um grande diferencial do PTSM tem sido a transferência e rápida incorporação do conhecimento gerado no âmbito do programa pelas equipes de silvicultura das empresas florestais, fomentados e prestadores de serviço. O cultivo mínimo é evidência cabal deste processo e, devido ao seu êxito, o PTSM passou a ser demandado pelas empresas em outras vertentes, tais como:
1) conservação e técnicas de preparo de solos, contribuindo para o desenvolvimento de técnicas e implementos destinados a relevos planos ou declivosos (ex. coveamento), bem como solos coesos (subsolagem profunda) ou friáveis (escarificação superficial);
2) produção e qualidade de mudas considerando diferentes critérios de avaliação (ex. atividade do sistema radicular), classes de qualidade (ex. A, B ou C) e, recentemente, a operacionalização do plantio mecanizado (ex. mudas centralizadas, com pouca ou nenhuma tortuosidade do caule);
3) a racionalização dos recursos necessários (ex. água e nutrientes) para o estabelecimento, crescimento e produtividade de uma plantação florestal;
4) consolidação ou estímulo ao uso de fontes alternativas de nutrientes comparado a fertilizantes minerais convencionais (ex. substituição parcial do KCl pelo NaCl);
5) diagnose foliar e balanço nutricional das plantações florestais como base para as recomendações de fertilização (ex. doses, fontes e formas de aplicação), objetivando inclusive a redução do parcelamento e, consequentemente, o número de operações;
6) estímulo à fertilidade biológica do solo, tanto pela adoção do cultivo mínimo quanto pelo uso práticas menos intervencionistas (ex. controle reduzido de plantas daninhas);
7) bioprospecção e operacionalização no uso de bioinsumos, tais como consórcios de bactérias ou utilização de estirpes de fungos selecionadas para tolerância à seca logo após o plantio, reduzindo a frequência de irrigação ou promovendo antagonismo a microrganismos patogênicos (ex. Ceratocystis fimbriata);
8) na recomendação técnica para o manejo de brotações de eucalipto (talhadia), esclarecendo sobre os critérios para a desbrota precoce ou tardia, a porcentagem de falhas máxima aceitável e a manutenção do número de fustes por hectare (densidade populacional), além da oportunidade de redução da fertilização, o tempo de pousio e recarda do estoque de água no solo; e
9) ajustes do espaçamento de plantio em função das condições edafoclimáticas, permitindo a redução dos riscos de mortalidade ou, até mesmo, ganho de produção pelo melhor aproveitamento dos recursos disponíveis (regiões com excedente hídrico). Vale destacar que houve muitas outras conquistas que o grupo do PTSM pôde compartilhar com os seus parceiros e que trouxeram ganhos operacionais, em produtividade ou aprimoramento profissional, como, por exemplo, o uso de drones na silvicultura e equipamentos de precisão, monitoramento com sensores óticos, térmico e multiespectrais, entre outros.
Além da infraestrutura física e recursos humanos suportados pelo IPEF, o PTSM conta com uma rede de parceiros extensa e profícua, compreendendo desde pesquisadores internacionais (CIRAD e CSIRO), pesquisadores/professores de instituições de pesquisa e ensino nacionais (ex. ESALQ, EMBRAPA, UNESP, UFV, UFRJ, UFRA etc.), bem como alunos de graduação e pós-graduação de todas as regiões do Brasil. Esses alunos são, na maioria dos casos, os principais responsáveis pela condução dos experimentos, avaliações e análises dos resultados.
Neste ponto, é imprescindível reforçar o papel que o PTSM e todas as pessoas que passaram ou fazem parte do grupo têm na formação de vários profissionais que atuam no setor florestal e que a ocupam posição de destaque, seja como professor ou pesquisador de relevância internacional quanto empresas florestais, em cargos de gerência ou presidência. Já vivenciaram o PTSM cerca de 250 estudantes de graduação, pós-graduação, pós-docs, pesquisadores visitantes, entre outros. São mais de 6.000 profissionais capacitados via workshops, seminários, congressos e reuniões técnico-cientificas, além de visitas técnicas e cursos de curta duração.
O PTSM possui na sua essência a pesquisa científica básica, com métodos de experimentação robustos e caráter inovador. Neste contexto, o programa ganhou notoriedade no meio científico, chegando à marca de mais de 100 artigos publicados em periódicos internacionais, com elevado fator de impacto e relevância na área de ciências florestais.
Apesar do forte viés científico, o PTSM se destaca pela pesquisa alinhada à demanda do campo, bem como pela imediata aplicação desses conhecimentos pelos silvicultores, principalmente os filiados ao programa. Em suma, a maior conquista do PTSM foi aglutinar pessoas com espírito cooperativista e competência técnica diferenciada, compartilhando suas críticas e sugestões de melhoria em prol da silvicultura brasileira.

2ª Turma: Mogi-Guaçu-SP, 03 e 04 de Junho de 1996

66ª Turma: Ribas do Rio Pardo-MS, 5 e 6 de Novembro de 2025