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José Leonardo de Moraes Gonçalves

Professor de Implantação Florestal da Esalq

Op-CP-03

Reflexões sobre o carácter estratégico da adubação para a eucaliptocultura

A produtividade de grande parte das plantações de eucalipto está aquém de seu potencial, havendo boas possibilidades de elevá-la. Isso pode ser conseguido com adequada alocação do genótipo ao ambiente, concomitante-mente ao uso de práticas corretas de manejo do solo, dentre as quais a adubação tem especial destaque. A seguir é feita uma análise das implicações desta prática silvicultural sobre a produtividade e o uso racional da terra.

Em 2005, foram produzidas 8,1 milhões de toneladas de celulose (fibra curta), o que equivale a um consumo de 32,4 milhões de metros cúbicos de madeira. Assumindo uma produtividade média de 40 m3/ha/ano, 280 m3/ha em 7 anos, foram necessários cortar cerca de 115 mil hectares de efetivo plantio de eucalipto. Portanto, para uma produção auto-sustentada de madeira, em rotações de 7 anos, são necessários cerca de 810 mil hectares para manter a atual produção de celulose.

Somando-se a este valor as áreas de preservação permanente, de reserva legal e de estradas, cerca de 40%, chega-se a uma área total de 1,4 milhões de hectares. Tendo como perspectiva a produção de celulose (fibra curta) prevista para 2012, cerca de 12,5 milhões de toneladas, serão necessários 1,25 milhão de hectares de efetivo plantio de eucalipto, com uma produtividade média de 40 m3/ha/ano; ou 2,1 milhões de hectares de área total.

Para isso, devem ser incorporados 700 mil hectares de novas áreas (efetivo plantio e preservação ambiental). Se a produtividade fosse aumentada para 50 m3/ha/ano, seriam necessários 320 mil hectares. Com esta produtividade, tendo em vista o preço médio do hectare de R$ 7.500,00, estima-se uma economia de R$ 2,9 bilhões na aquisição de terras.

Este valor é conservador se forem considerados a economia no transporte de madeira (em média, 40% do valor da tonelada de celulose), o aumento dos rendimentos operacionais e a melhoria na qualidade da madeira. Assim, conjuntamente com as metas de aumento de produção de celulose, é fundamental que se lance como desafio para os próximos anos o aumento do rendimento da terra e das operações silviculturais.

Ganhos de produtividade da ordem de 10 m3/ha/ano de madeira são perfeitamente factíveis. Para isso, a aplicação balanceada de fertilizantes responde por uma grande parcela. O valor poupado com a aquisição de terra é bem maior que o necessário para aumentar a produtividade, com uso de genótipos melhorados, com a aplicação de fertilizantes e com a melhoria dos tratos culturais.

Por exemplo, considerando um investimento da ordem de 30% dos custos atuais de implantação/reforma e manutenção (R$ 2.500,00 a 3.000,00 por hectare), para se conseguir esse aumento de produtividade, obtêm-se um valor que é cerca de 10% do necessário para comprar um hectare de terra. O ritmo de silvicultura intensiva, com rotações de ciclo curto e uso de genótipos com alta capacidade extrativa de nutrientes, acelera o processo de exaustão nutricional dos solos.

Os genótipos de eucalipto têm alto potencial produtivo, mas que só se expressa se houver suplementação de nutrientes. Sem adubações regulares, a produtividade média diminuiria para patamares iguais ou inferiores a 15-20 m3/ha/ano. Ou seja, devido à baixa fertilidade e reserva de minerais primários da maioria dos solos e à perda de nutrientes do ecossistema (colheita, erosão, lixiviação e volatilização), a fertilidade do solo rapidamente retorna ao nível anterior ao existente pré-adubação, ou mesmo inferior.

Logo, a reposição de nutrientes, via adubação mineral ou outra fonte alternativa, é fator essencial à sustentabilidade florestal. Um hectare de eucalipto com produtividade média de 50 m3/ha/ano de madeira (88 t/ha de celulose em 7 anos) exporta, com a mesma, cerca de 200 kg de nitrogênio, 11 kg de fósforo, 120 kg de potássio, 110 kg de cálcio e 25 kg de magnésio.

Para repor esses nutrientes, é necessário despender aproximadamente R$ 300,00 por hectare, com os adubos mais usados no setor florestal: monofosfato de amônio, nitrato de amônio, cloreto de potássio e calcário dolomítico. Os custos com a aplicação desses adubos são da ordem de R$ 150,00. O valor total gasto com a adubação é pequeno, em relação ao custo final de produção de celulose, oriunda de um hectare (88 t de celulose/ha a US$ 450.00/t = US$ 39,600.00).

Estrategicamente, é preciso que se criem condições interinstitucionais e legais para adubar plantações com fontes alternativas de nutrientes, como os resíduos industriais e urbanos, produzidos em grande quantidade. Há boa disponibilidade de resultados de pesquisa, comprovando a eficácia desses resíduos, que, se aplicados adequadamente, apresentam baixo risco ambiental, como qualquer outro insumo artificial.

Além da possibilidade de diminuir os custos de adubação, o uso em grande escala dessa prática pode resolver graves problemas ambientais, como os gerados pelos aterros sanitários, o que constitui um valor extra à atividade silvicultural. O aumento de produtividade em grande escala, no nível do grande e do pequeno produtor, nunca foi tão estratégico, se for levado em conta a escassez e o alto custo da terra próxima à indústria e a baixa fertilidade dos solos disponíveis.

O mesmo não seria verdade se houvesse abundância de terras baratas e de boa fertilidade natural. Com ritmo de crescimento tão acelerado e possibilidades de ganhos relativos de produtividade cada vez menores, deduz-se que o investimento em desenvolvimento tecnológico deve ser revitalizado, com apoio à realização de pesquisas básicas e de pesquisas aplicadas. Não menos importante, se fazem necessários os investimentos em recursos organizacionais e materiais, para operacionalizar adequadamente as inovações de práticas silviculturais.