Consultora de Meio Ambiente na VCP
Op-CP-01
Não deixa de ser curiosa a dificuldade em se escrever sobre a relação do eucalipto com a água, isto porque muito já foi escrito – a favor e contra – mas a polêmica está longe de terminar. Como engenheira Florestal, com formação em ambiência, e tendo o privilégio de trabalhar com o Professor Doutor Walter de Paula Lima, estou convencida de que as árvores das espécies de eucalipto não têm diferença alguma das demais árvores de rápido crescimento, ou seja, das árvores pioneiras.
Como também não tenho dúvidas de que existem plantios florestais bem manejados, a ponto de poderem ser chamados de florestas plantadas, mas também existem plantações mal manejadas. Em 1990, ao final do Congresso Florestal, ROMA, chegou-se à seguinte conclusão: o desafio para o setor florestal de todo o mundo seria o de transformar plantios florestais em florestas plantadas.
Em outras palavras, uma plantação florestal deveria ser manejada não só para produzir madeira, mas também para conservar água, solo e alguma biodiversidade, daí o conceito de florestas plantadas. Na verdade, o que se apresentava eram “novos olhares”, que não só madeireiros poderiam - ou deveriam, lançar para as florestas. E convenhamos, nossos olhares mudaram muito desde a década de 80.
É sempre bom lembrar que o Código Florestal permitia e incentivava (artigo 19) o desmatamento de floresta nativa, naquela época chamada de floresta heterogênea – ou seja, para um olhar de madeireiro, a floresta nativa era considerada heterogênea, porque apresenta vários tipos de madeira. A ciência florestal evoluiu, os conceitos de desenvolvimento também evoluíram, a sociedade organizou-se e hoje sua participação tem sido chave para a construção do caminho, rumo à sustentabilidade.
Recentemente, em Fórum Ambiental na Cidade de Cruzeiro, no Vale do Paraíba, SP, um professor de uma escola de segundo grau fez, com muita propriedade, a observação que naquele mesmo fórum ambiental, porém, em duas edições anteriores, um palestrante convidado afirmou que o Eucalipto seria inaceitável no Vale do Paraíba, e agora veio outra palestrante, falando outra coisa...
Desnecessário dizer que, neste ano, tive a honra de ser uma das palestrantes e afirmei que as florestas plantadas com Eucalipto podem ser uma boa opção de uso da terra, naquele mesmo Vale do Paraíba. É claro que concordei com ele: Assim fica difícil .... Não se trata de quem está certo ou de quem está errado. Trata-se de saber os interesses que estão postos nestas reclamações. E lembrando que todos os interesses são legítimos, assim como todos têm um viés.
O desafio está em conhecer e reconhecer os interesses das diferentes partes, ligadas ao assunto. Não há dúvida de que o meio ambiente é de interesse de todos e mais ainda, que de todos os bens ambientais, a água é o bem compreendido como de vital importância por qualquer cidadão. Aliás, a água será sempre um bom ponto de partida para discussões sócio-ambientais.
E, mesmo que o reflorestamento ocupe menos de 5% da área rural do Estado de São Paulo, não se pode negar a visibilidade-atividade. Existem dúvidas sobre as florestas plantadas com Eucalipto? Vamos estudá-las. Eucalipto seca o solo? Vamos medir. E se não secar, como comprovam inúmeros estudos. Eucalipto é um deserto? E se não for, como também comprovam estudos. Aí fica bom ter Floresta de Eucalipto? Ou melhor, neste caso basta ter eucalipto para ser bom?
Definitivamente não, tem muito plantio de eucalipto ruim por aí, aliás tem muito plantio ruim de várias espécies. Não se trata, pois, da espécie, mas do manejo. Desde a realização da ECO 92, vem aumentando a participação da sociedade nos assuntos ambientais e criou-se o conceito sócio-ambiental. A base da participação é a informação. A participação de todos permite a elaboração de políticas públicas. Uma política pública caracteriza-se por:
1. Existência de um conteúdo que orienta os recursos humanos e materiais, na busca de determinados resultados, de forma que não pode ser confundida com um ato isolado. Apresenta uma estrutura relativamente permanente, que oferece referência para os atores, em seus processos de tomada de decisão; e
2. Tem como um de seus postulados basilares a existência de convergência entre o conteúdo da política, os atores e os mecanismos disponíveis para sua execução.
Desta forma, a questão que está por trás da pergunta se Eucalipto seca o solo é a seguinte: As florestas plantadas são pouco conhecidas pela sociedade e esta precisa incluir os princípios de responsabilidade social e de desenvolvimento local no conceito de florestas plantadas. Além disto, é preciso estabelecer políticas públicas para o bom uso do solo, na área rural. Já há algum tempo venho refletindo sobre a questão de que o Eucalipto seca ou não o solo. Se não seca, se não esteriliza, se pode ser bom, porque toda esta movimentação? ... Definitivamente, parece ser uma espécie marcada, mas por quê?