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José Luiz Stape

Professor de Silvicultura e Ecologia da Esalq-USP

Op-CP-10

A pesquisa silvicultural e a visão socioambiental são imprescindíveis para os novos clusters florestais

Grande parte dos clusters florestais tradicionais, ou seja, aqueles aglomerados econômicos do setor florestal, que se instituíram e se consolidaram entre as décadas de 60 a 80, com base nos incentivos fiscais, apresentam, hoje, um sólido embasamento tecnológico, obtido através de pesquisas desenvolvidas com universidades, institutos de pesquisas ou pesquisadores próprios.

Tais estudos garantem patamares de produtividade madeireira elevados (38 a 54 m³/ha/ano para Eucalyptus, 28 a 38 m³/ha/ano para Pinus e 12 a 24 m³/ha/ano para Teca, por exemplo). Estes ganhos foram, e continuam sendo, obtidos através da identificação de materiais genéticos de maior adaptação e conversão ao produto final, e através de práticas de adubação e fertilização, que otimizam este potencial de crescimento e permitem a sustentabilidade nutricional dos sítios.

Além disso, estas áreas vêm se adequando, nos últimos anos, às legislações ambientais, em termos de uso e preservação das Áreas de Preservação Permanente - APP, e Reserva Legal - RL. E, mais recentemente ainda, buscaram identificar e equacionar demandas sociais locais e integrá-las ao processo produtivo, seja na forma de prestação de serviços florestais ou de disponibilização de parte da produção madeireira, ou não-madeireira (mel, por exemplo), para processamento e uso na comunidade do entorno.

No entanto, o Brasil vem passando por uma fase de rápida expansão do setor florestal, com a participação cada vez maior de empreendedores rurais e de empresas de investimento, com capital nacional ou internacional, que identificam o bem madeireiro como atrativo, no médio e longo prazos. Tais iniciativas apresentam, de um modo geral, várias semelhanças com os plantios das épocas dos incentivos fiscais:

1. Plantio de florestas em novas áreas, sem histórico florestal;
2. Uso final da madeira ainda não totalmente definido;
3. Restrições orçamentárias inerentes a projetos de longo prazo (reduzir custos iniciais, ao máximo);
4. Priorização dos aspectos de maximização de área plantada, com custo mínimo, em detrimento aos aspectos ambientais e sociais; e
5. Escassez de pesquisas do potencial genético e silvicultural das essências florestais potenciais, na região.

Assim, não seria correto impor, novamente, ao ambiente e à sociedade que cercam estes novos clusters florestais, os mesmos problemas já enfrentados, e na sua maior parte superados, quando da implantação acelerada dos plantios florestais, na época dos incentivos. Houve, nas últimas décadas, mudanças claras da legislação florestal e de transparência social em todo Brasil, de forma que a opção por novos pólos florestais deve ser conhecida e planejada de maneira a evitar que a visão “produtiva” dos pequenos e médios produtores, buscando a “maximização da área plantada” ao “custo mínimo”, transpasse o limite do já aprendido “ecologicamente adequado e socialmente justo”.

Surge então a pergunta: Como tal aprendizado pode ser transmitido rápido o suficiente para evitar baixas produtividades, por inaptidão genética-silvicultural, e problemas socioambientais, em locais do país que nunca se utilizaram das florestas plantadas?

Como exemplos destes locais, e que não são poucos, podemos citar novas áreas florestais em formação nos estados do Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Pará, Piauí, Tocantins, Goiás, Rio de Janeiro e Pernambuco, estados que não tiveram pólos florestais estruturados. Além destes, há estados que tiveram pólos florestais, mas que estão expandindo em regiões distintas das originais, como Oeste da Bahia, Centro e Nordeste do Mato Grosso do Sul, Oeste de São Paulo e Nordeste de Minas Gerais.

Há, provavelmente, várias respostas, mas uma que acreditamos ser de alta eficácia são as iniciativas que se utilizam do conhecimento adquirido e acumulado pelas universidades (USP, UFV, UFPr, UFSM, UFLA, dentre outras) e institutos de pesquisas (IPEF, SIF, FUPEF, IF-SP, CNPf, dentre outros), de forma a evitar o “reinventar a roda”, e a procurar responder “que tipo de roda é a mais adequada neste nosso ambiente”.

No âmbito da ESALQ/USP e IPEF, estão sendo apoiados projetos chamados “Redes Silviculturais de Pesquisa” em que os novos clusters florestais recebem um kit pesquisa. Este kit prevê o fornecimento de material genético para ensaios de melhoramento genético (sementes e clones), orientação nos ensaios de preparo de solo e fertilização, e de espaçamento e manejo florestal (uso para processo e serraria de bens madeireiros e uso de bens não-madeireiros como mel, óleo essencial e resinas).

Outrossim, é fundamental a incorporação das EMATERs dos estados neste processo, para que seu corpo técnico-extensionista seja atualizado na parte técnica e ambiental das florestas plantadas, incorporando-as ao seu natural preparo social e das ciências humanas, nas regiões em que atuam. Assim, mais de 120 técnicos extensionistas da CATI - Coordenadoria de Assitência Técnica Integral de SP, já realizaram os 3 dias do curso de “Atualização em Eucaliptocultura”, promovido pela ESALQ/USP.

Notam-se movimentos semelhantes em outros estados e acreditamos que a cadeia ensino-pesquisa-extensão-produção, que cobre nesta ordem as universidades, institutos de pesquisas, órgãos de extensão, produtores, deve ser valorizada e seus laços fortalecidos, para que os novos clusters surjam em um patamar de desenvolvimento técnico, econômico, ambiental e social superior ao que conhecemos hoje.