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Elidio da Silva Frias

Diretor de Marketing da Albany International

Op-CP-02

O Brasil no mercado futuro de celulose

A demanda mundial de celulose de mercado aumentará 3,6% ao ano até 2010, sendo este o mais rápido crescimento dos últimos 10 anos. Num crescimento em menor proporção, para o mesmo período, está a utilização de celulose de mercado para a produção de papel. Mesmo assim, o número projetado pelos especialistas, de 2,2% anuais, é superior a média dos últimos 10 anos, que foi de 1,2%.

O aumento da produção de papel e cartão, a falta de investimentos na produção das fábricas integradas nos últimos anos e o rápido aumento de preço são fatores que suportarão o crescimento da celulose de mercado. Em 2003, foram registrados 4,1% no aumento do consumo aparente, já em 2004, o índice subiu para 5,4% e para 2005 prevê-se algo como 4%.

Resumindo esses dados, os números consolidados apontam para uma produção de celulose de mercado na ordem de 60,4 milhões de toneladas em 2009, contra 51,1 milhões em 2004 e 43,6 milhões em 1999. Ao contrário das últimas décadas, esse crescimento está concentrado em novas regiões. Os tradicionais países produtores de celulose de mercado como Canadá, USA, Suécia, Finlândia, entre outros, projetaram um leve declínio na produção.

A Europa Ocidental aumentou recentemente sua capacidade produtiva, mas num nível relativamente baixo e para os próximos anos as projeções tendem a um leve declínio nos índices produtivos. Quando falamos de celulose de mercado, as previsões para China não são tão otimistas, a curto prazo. Outras projeções, não tão expressivas de crescimento, estão concentradas na África, Oceania e Europa Oriental, ficando para a América do Sul, de longe, a região com o maior aumento na capacidade produtiva.

Chile, Uruguai e, principalmente, o Brasil, contribuirão significativamente na elevação da produção mundial de celulose de mercado. O cenário de comercialização desse produto não poderia ser melhor: vários países europeus, asiáticos - incluindo Japão, USA e outros serão grandes importadores de celulose. A projeção no aumento da demanda de celulose de mercado está prevista para 57,7 milhões de toneladas até 2009, isto é, um aumento médio de 1,85 milhões de toneladas anuais.

Algumas variações no preço desse insumo ocorrerão ao longo dos próximos anos, mas a tendência é de que sejam oscilações bem menores e com viés de alta. Com efeito, o Brasil já está colhendo os frutos de investimentos feitos no passado e, com certeza, continuará a ser um grande exportador, com as recentes inaugurações e expansões anunciadas.

Com certeza, os US$14 bilhões investidos nas indústrias, aliados à competência empresarial, estão fazendo a diferença. A indústria de celulose e papel brasileira tem uma característica especial: é composta por várias fábricas nacionais e algumas internacionais; nunca teve medo dos tropeços da economia brasileira; e lutou arduamente para vencer as barreiras levantadas pelos órgãos governamentais, como, por exemplo, altas taxas e impostos.

Pioneiro na tecnologia de produção em grande escala de celulose de eucalipto, o Brasil ganha competitividade em todas as etapas produtivas, do reflorestamento à fase final de produção. Quando falamos de potenciais concorrentes, não nos esquecemos da China, mas quando falamos em celulose, este país ainda tem muito a evoluir.

Talvez, a falta de transparência, aspectos ambientais e, principalmente, falta de plantio de árvores próprias sejam os fatores limitadores para uma competitividade maior. A China já é e será mais ainda um grande importador de celulose, nos próximos anos. Talvez, a grande diferença entre o Brasil e os demais países, tenha sido a de aproveitar a grande vantagem climática e o arrojo dos empresários. Os vários setores da indústria foram e são tratados com a mesma igualdade.

As indústrias brasileiras estão cuidando das questões ambientais, sociais e reflorestamento com a mesma importância dos demais setores. O Brasil é exemplo em reflorestamento inteligente e o compromisso em crescer está levando ao desenvolvimento de áreas que, no passado, estavam esquecidas. Regiões com baixo nível de desenvolvimento estão crescendo, graças à indústria de celulose e papel.

Não só o parque industrial, mas também a logística, é um processo que precisa e está sendo melhorado. Ser competitivo implica em ganhar todas as fronteiras e, neste contexto, fazem parte também os fornecedores de matérias primas e outros insumos para o setor. Os produtores devem continuar a incentivar seus fornecedores para que os mesmos acompanhem a evolução tecnológica de fabricação de celulose e papel. Investir, por exemplo, na expansão da produção de vestimentas para as máquinas de celulose e papel é igualmente importante.

É preciso que toda a cadeia cresça, existem outros apagões, que não o florestal, que podem prejudicar o setor, se não tratados com a devida observância. Ano a ano, os números mostram a evolução. Não há dúvidas que os executivos estão traçando seus planos estratégicos, nessa complexa cadeia produtiva, de maneira inteligente. Nosso país já é considerado um player gigantesco, afinal, ser o primeiro produtor de celulose de fibra curta, sétimo produtor de celulose de todos os tipos e décimo primeiro produtor mundial de papéis, são posições respeitadas.

Certamente, os constantes investimentos em tecnologia, pessoas e equipamentos manterão nosso país na vanguarda desse segmento. Deixar de lado uma narrativa contendo números sobre os investimentos das últimas décadas, nível de produção dos últimos anos e futuras projeções do mercado brasileiro foi uma opção, pois os mesmos já são conhecidos pelos leitores dessa revista.

Ao invés disso, preferi aproveitar este artigo para enaltecer a agressividade, coragem e determinação dos industriais brasileiros ou daqueles que dirigem as empresas aqui sediadas. A continuidade dessas características garantirá milhares de empregos e importantes divisas para um país emergente que, infelizmente, cresce abaixo do nível do PIB mundial. O Brasil é, e tornar-se-á ainda mais, num raro exemplo de competência industrial, no mercado global de celulose e papel.