Pesquisador do Centro de Pesquisa da Aracruz Celulose
Op-CP-14
Atualmente, em função da maior conscientização da população mundial e dos riscos eminentes ocasionados pelas mudanças climáticas, o mercado consumidor pressiona, cada vez mais, o setor primário por uma evolução nos conceitos de produção. Sendo assim, o emprego do manejo integrado de doenças, desenvolvido como alternativa técnica inovadora e eficiente, constitui-se em fator estratégico de competitividade e de sustentabilidade, considerando as exigências contidas nos princípios e critérios das principais certificações e as demandas das diferentes partes interessadas da cadeia produtiva e da sociedade em geral.
O setor florestal brasileiro experimentou um grande crescimento. Segundo dados da Abraf, somente os investimentos do setor de celulose e papel, nos últimos 10 anos, foram da ordem de US$ 12 bilhões. Os projetos já iniciados, ou recém-implantados, representam um acréscimo no consumo de madeira da ordem de 10 milhões m³/ano. Entre 2005 e 2007, houve um acréscimo de 10,1% na área plantada com eucalipto, o que totalizou, no final do ano passado, aproximadamente 3.750.000 hectares.
Atualmente, ampliar e garantir a proteção florestal, por meio de uma maior integração entre o melhoramento genético e o manejo florestal, considerando diferentes condições edafoclimáticas e os riscos de mudanças climáticas globais, constituem-se nos maiores desafios da gestão das florestas plantadas. Existem várias definições para manejo integrado.
Todavia, considerando os aspectos epidemiológicos das doenças e as características do processo produtivo florestal, podemos definir este conceito como sendo a adoção de medidas que, ao serem aplicadas de forma integrada, visam prevenir a ocorrência de doenças, por meio da eliminação das fontes de inóculo e da redução das condições favoráveis à incidência e ao desenvolvimento dos patógenos.
O eucalipto, assim como as demais culturas que conhecemos, é hospedeiro de inúmeros patógenos, alguns dos quais são capazes de comprometer o crescimento, a qualidade das florestas e da madeira e, em condições específicas, causar a morte das plantas. A principal tecnologia adotada para o controle de doenças consiste na seleção e no plantio de materiais genéticos resistentes.
A adoção desta estratégia permite minimizar o uso de agrotóxicos e o risco de perdas econômicas. Para alcançar estes objetivos, é fundamental integrar o programa de melhoramento genético com os estudos de proteção florestal. Além do uso da resistência genética, é importante adotar um sistema eficiente de monitoramento, visando detectar, rapidamente, os problemas e avaliar a eficiência das medidas de controle adotadas.
É importante manter um bom nível de treinamento das equipes operacionais, bem como realizar a gestão do risco fitossanitário. Neste último caso, todas as operações envolvidas na movimentação de potenciais veículos de dispersão de patógenos devem seguir procedimentos para reduzir o risco de disseminação de doenças.
O manejo integrado também deve ser adotado no viveiro. A produção de mudas, em função das condições ambientais exigidas para a propagação de plantas, é a fase mais crítica no manejo de doenças, considerando a necessidade de realizar o plantio somente com mudas sadias e de boa qualidade. Por este motivo, nesta fase do processo de produção, deve-se adotar uma ampla variedade de medidas, tais como: uso de matrizes sadias, preferencialmente micropropagadas, substrato e água livres de inóculos de patógenos, desinfestação de bandejas e tubetes, emprego de canteiros suspensos nos viveiros, controle da irrigação e outras medidas de manejo.
Adotando-se estas estratégias de manejo integrado, minimiza-se o uso de agrotóxicos. Todavia, a utilização destes insumos pode se tornar indispensável em situações específicas, visando à obtenção de resultados economicamente sustentáveis. Nestes casos, é fundamental selecionar produtos químicos ou biológicos menos tóxicos, os quais devem ser empregados conforme a real necessidade de intervenção e de controle, considerando a tecnologia de aplicação e as características do sistema, compreendido entre planta, ambiente e agente patogênico, em cada etapa do processo produtivo.
Considerando os futuros desafios da atividade florestal, é importante que as pesquisas considerem a necessidade de: conhecer o efeito potencial das mudanças climáticas; aumentar a segurança fitossanitária, considerando os riscos de novas doenças; e melhor uso da resistência genética e da biotecnologia, bem como os demais riscos inerentes da atividade florestal.
Do ponto de vista estratégico, tais conhecimentos podem ser gerados através de pesquisas pré-competitivas, realizadas de forma cooperativa entre empresas florestais, universidades e institutos de pesquisa, contribuindo para o desenvolvimento tecnológico, para a formação de profissionais e para a sustentabilidade do setor produtivo florestal.