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Op-CP-02
Pensar no futuro da indústria de papel e celulose no Brasil implica necessariamente na discussão da sustentabilidade desse negócio, tanto no que diz respeito a sua interface ambiental, como também ao seu âmbito social. Apesar de ser um setor de extrema importância, que tem uma relação muito próxima com o crescimento econômico global (sendo notadamente um de seus principais vetores), trata-se de uma indústria que desperta a atenção do mercado e da sociedade, em função do potencial impacto ambiental, gerado a partir do desempenho de suas atividades, e do fato de ser uma indústria altamente dependente e usuária de matérias-primas florestais.
Por outro lado, a preocupação com a questão ambiental e com o seu desdobramento social estão na pauta do dia. Essa discussão vem sendo motivada por, basicamente, dois fatores: as mudanças da demanda de mercado e as regulamentações ambientais, cada vez mais rígidas e abrangentes. Como consequência desse cenário, as empresas do setor vêm sendo estimuladas a reverem seus processos, sua gestão operacional e a própria tecnologia utilizada.
Nesse contexto de mudança, reavaliação e busca de um novo posicionamento, o Brasil ocupa um lugar de destaque. Isso se deve a algumas razões. Primeiramente, pela importância do Brasil no cenário mundial: o país é atualmente o 7º produtor mundial de celulose, com 4% da produção global - 240 milhões de toneladas/ano, o 3º maior produtor de celulose de mercado e o maior produtor de celulose de eucalipto - fibra curta de mercado.
Em relação ao papel, o país é o 11º maior produtor global, com uma fatia de, por volta, 2,4% da produção e consumo mundiais. Em segundo lugar, vale mencionar o fato da indústria brasileira de papel e celulose ter se desenvolvido, recentemente, mais do que suas concorrentes internacionais. Isso possibilitou uma adequação, logo de início, das plantas às novas exigências ambientais.
Essa condição pioneira fez com que o Brasil servisse, e ainda sirva de exemplo para os demais países, em termos de tecnologia e processos. Finalmente, cabe destacar o deslocamento do epicentro do negócio de papel e celulose no mundo. Os grandes investimentos anunciados em celulose ocorrerão, principalmente, na América do Sul e na Ásia, ao passo que nos centros tradicionais - Europa Ocidental e América do Norte, o setor encontra-se em declínio, com parques mais obsoletos e com crescentes desinvestimentos - margens decrescentes e competição dos países em desenvolvimento.
Este movimento rumo à América do Sul e à Ásia, que é baseado, em grande parte, no investimento em fibra curta, pode ser explicado, entre outras razões, pelas vantagens competitivas intrínsecas a essas regiões, como tempo menor para crescimento do eucalipto e eficiência das florestas. Ainda há uma condição bastante positiva do ponto de vista ambiental: à medida que o eucalipto cresce mais rapidamente e produz mais madeira por hectare, a área necessária por tonelada de produto final é menor, gerando menores impactos ambientais.
Além da necessidade de adequação às novas exigências regulamentais, a incorporação da sustentabilidade no negócio tem um forte apelo econômico, com impactos positivos na receita e propensão à redução de custos financeiros e operacionais. O impacto positivo na receita advém das novas particularidades da demanda, podendo ser citada, a título exemplificativo, a importância cada vez maior das certificações de manejo florestal e de produção sustentável.
Os países mais sensíveis a esses aspectos, os europeus principalmente, representarão um forte mercado para essas empresas. A minimização dos custos do capital - financeiro e de seguro, advém da redução do risco regulatório. É importante comentar ainda que o tema sustentabilidade traz também uma vertente social que, evidentemente, não pode ser desprezada.
A relação entre a vertente ambiental e a social é sempre direta, lembrando que ela é ainda mais próxima em países em desenvolvimento, uma vez que suas estruturas sociais são mais complexas e as interações entre os agentes mais delicadas. Na indústria de papel e celulose, essa preocupação deve ter ainda mais foco, já que muitas empresas possuem plantas em regiões menos desenvolvidas ou escassamente habitadas.
Dentro dessa vertente social, vale mencionar um exemplo muito bem sucedido de parceria entre empresa e comunidade, que é o programa de fomento florestal implementado pela VCP – Votorantim Celulose e Papel, o chamado Poupança Florestal. Trata-se de uma parceria entre pequenos produtores e assentados do MST da região de Pelotas e Bagé-RS, que recebem toda assistência técnica e financiamento do Banco ABN-Amro Real para o cultivo do eucalipto e para a futura venda da madeira para a VCP, a um preço pré-estabelecido e com uma correção equivalente à correção do financiamento.
O produtor continua dono da terra, podendo combinar a cultura do eucalipto com outras atividades agropecuárias, além de receber sementes de eucalipto e de outras espécies nativas da própria VCP. As vantagens desse programa são múltiplas: a VCP passa a ter uma nova fonte de abastecimento de madeira, sem a necessidade de comprar novas terras para expandir a produção, os produtores passam a ter uma nova fonte de renda, toda assessoria na produção e educação e treinamento para práticas de gestão sustentável.
A comunidade ganha com isso, à medida que o programa leva desenvolvimento para regiões pobres e desasistidas, via melhoria das relações de trabalho e via conscientização ambiental. Concluindo, pode-se dizer que a questão da sustentabilidade é um dos vetores mais importantes para o futuro da indústria de papel e celulose no mundo. A discussão desse tema justifica-se por aspectos mandatórios, como a necessidade de adequação às exigências regulamentais, bem como por aspectos econômicos e financeiros. O Brasil tem um papel chave nesse processo e terá, cada vez mais, o desafio de conduzir as mudanças tecnológicas e operacionais necessárias, levando a indústria a um novo patamar de excelência.