A Fazenda Triqueda, situada no município de Coronel Pacheco-MG, é produtora de madeira de eucalipto para serraria e de gado de corte da raça Brangus, sendo seu foco principal o binômio da renda e da preservação ambiental. Em um passado recente, a fazenda atuou exclusivamente na atividade da pecuária de corte a pasto, que era a sua única fonte de renda, mas, apesar de ser lucrativa, a taxa de remuneração do capital obtida no negócio era inferior à taxa mínima de remuneração do capital livre de risco.
No ano de 2000, a Fazenda Triqueda avaliou a rentabilidade dos seus últimos 5 anos. Para tanto, foi utilizado o valor da terra, o valor das benfeitorias, o valor do gado e o capital de giro necessário. A taxa de retorno obtida foi de 6% ao ano, considerada insuficiente para o nível de risco da atividade. Na busca por se manter na atividade, a fazenda adotou um Modelo de Gestão Sustentável, cujo objetivo é alcançar níveis de lucratividade, com investimentos na integração da pecuária com as florestas plantadas.
O Plano de Negócios da fazenda foi concebido sob a premissa de obtenção de que uma remuneração mais adequada para a atividade passaria, necessariamente, por uma otimização do lucro por hectare. Apesar de lucrativa, a atividade de pecuária de corte a pasto encontra, na taxa de lotação, um fator limitante, não ultrapassando, na grande maioria dos casos, o valor de 2 cabeças por hectare, fazendo com que, na análise de rentabilidade, o peso dos custos fixos se apresente como uma restrição para almejar patamares superiores de lucratividade.
Iniciamos um processo de pesquisa de outras possibilidades dentro do agronegócio que poderiam aumentar a nossa taxa de retorno e, como já era esperado, encontramos algumas atividades que vêm se destacando nas últimas décadas no Brasil, dentre elas, podemos citar a produção de grãos (como a soja e o milho), a de cana-de-açúcar e a silvicultura. Após avaliar algumas alternativas, optamos pela Integração da Pecuária de Corte com o plantio de árvores para serraria. Como a Fazenda Triqueda sempre teve um perfil conservador de investimentos, encontramos na atividade florestal um casamento perfeito para as áreas de pastagem, já existentes em nossa propriedade.
Na integração, a utilização das áreas da Fazenda Triqueda é destinada a duas atividades que atuam de forma integrada no mesmo espaço e ao mesmo tempo, ou seja, o mesmo hectare que só produzia carne passou a produzir carne e madeira. Vale destacar que o formato do projeto aplicado na pecuária de corte pode ser transferido para o leite, seguindo os mesmos princípios tratados neste texto. Ao sair do modelo convencional, a Fazenda Triqueda entendeu, logo no início, que precisava fazer contato com Instituições de Pesquisa e Ensino em sua área de atuação, a fim de obter a transferência de tecnologia e conseguir um salto de qualidade em suas operações. Sendo assim, a fazenda aproximou-se da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP).
Todas essas instituições nos receberam de braços abertos e temos, para com elas, grande reconhecimento e gratidão. Destaco, aqui, a participação dos pesquisadores Marcelo Muller (Embrapa Gado de Leite) e Vanderley Porfírio (Embrapa Florestas), que tornaram a Fazenda Triqueda, desde 2006, uma Unidade de Observação de Integração Pecuária e Floresta da Embrapa e nos ajudaram nas principais definições estratégicas do projeto, como a escolha da espécie e a finalidade do plantio florestal.
A escolha do eucalipto ocorreu pelo fato de, entre todas as espécies florestais, ser a que mais tem um uso consolidado e apresenta um pacote tecnológico muito bem delimitado, com vasto histórico de pesquisas sobre material genético, fertilização, manutenção florestal e de todas as demais operações até a madeira chegar ao seu destino de consumo. A escolha de madeira para serraria ocorreu devido ao fato de ter um mercado mais estável e com maior valor agregado por árvore, ou seja, já que, no plantio integrado, ocorre uma menor densidade de árvores por hectare do que no convencional (na relação de 250 arv/ha para 1.111 arv/ha), é desejável que essas árvores tenham o maior valor possível.
Devido ao fato de a atividade florestal ser nova para a fazenda, o plantio foi escalonado em 4 anos, proporcionando uma curva de aprendizado da atividade mais harmônica; podemos também citar outros benefícios do escalonamento, como a manutenção do rebanho na propriedade (pois continuamos com 75% das pastagens disponíveis) e a diluição do investimento e das receitas de vendas das toras. Nos plantios de eucalipto bem conduzidos, a introdução do gado pode ocorrer após 6 meses de idade, quando as árvores devem ter, aproximadamente, 3 metros de altura.
A introdução do gado deve ser feita com animais leves, preferencialmente de média de peso de 6 arrobas. Ressalvo, aqui, que não conseguimos eliminar a perda ou a quebra de árvores pela ação do gado, mas sim minimizá-las a um número aceitável, que não deve ser superior a 1% do total de mudas plantadas. Para garantir o sucesso na introdução dos bezerros, devemos realizar inventários periódicos do número de árvores atingidas para que, caso isso ocorra com maior frequência, possamos, ainda em tempo, tomar as ações corretivas necessárias.
Meio Ambiente: São frequentes as críticas relacionadas à pecuária extensiva que é praticada no Brasil, como alta emissão de metano, baixa produtividade/ha, degradação dos solos e das pastagens. A integração de áreas produtivas de pecuária com florestas plantadas traz novas perspectivas para o segmento que vão além do aumento da lucratividade do negócio, pois promove o resgate de carbono, a redução da temperatura, a conservação dos solos e maior produtividade dos animais.
Se, por um lado, a pecuária é uma das maiores fontes emissoras de gás metano no Brasil (estudos apontam que 22% de todo metano emitido no País tem sua origem no processo digestivo dos ruminantes, conhecido como metano entérico), por outro lado, as árvores plantadas absorvem principalmente o carbono (durante o seu crescimento, através do processo de fotossíntese), contribuindo para um balanço positivo das emissões dos gases do efeito estufa no sistema de integração pecuária e floresta.
Outro grande benefício que podemos citar é a disposição sistemática das árvores por toda a área, produzindo um grande e contínuo bosque, que reduz a temperatura em 2 graus dentro do sistema; com isso, promove um maior conforto térmico, permitindo ao gado pastar por mais horas por dia, levando a uma maior eficiência na conversão de capim para carne. Com a temperatura mais baixa, o solo se mantém mais úmido, e as plantas perdem menos água por evaporação (evapotranspiração), aumentando, assim, a produção de capim.
Quanto ao solo, ele tem o benefício de uma maior troca de nutrientes entre a pastagem e a floresta plantada, bem como as árvores proporcionam uma diminuição na velocidade de escorrimento superficial das águas das chuvas, reduzindo o risco de erosão e lixiviação, propiciando aumento da infiltração da água no solo. Com o acirramento das mudanças climáticas, se faz necessária a busca por Modelos de Produção Limpos (MDL). O potencial de desenvolvimento que o Brasil possui para a expansão da integração posiciona a pecuária brasileira de forma estratégica no cenário global de Economia de Baixo Carbono, pois o País tem a capacidade de preservar o meio ambiente e, ao mesmo tempo, gerar negócios lucrativos.
Devido ao forte crescimento da população mundial, o número de habitantes da Terra, que hoje é 7 bilhões, deverá atingir um valor próximo de 20 bilhões no ano de 2050; fato esse que aponta para que as Cadeias Produtivas Sustentáveis ganhem uma abrangência significativa e que, em um curto intervalo de tempo, possamos encontrar nas prateleiras dos supermercados carne e leite com rótulos indicando que são produtos neutros na emissão de metano e que, dessa forma, respeitam a sustentabilidade do meio ambiente.
Atenta a esse cenário, a Fazenda Triqueda se uniu a mais 4 pecuaristas que também implementaram a Integração Pecuária e Floresta e que, juntos, já possuem condições de fornecer uma grande quantidade de animais Brangus neutros em metano entérico para abate e, neste momento, estão à procura de um parceiro comercial que possa ter interesse em colocar o produto no mercado, “a carne neutra”.