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Alberto Jorge Laranjeiro

Diretor Equilíbrio Proteção Florestal

Op-CP-77

Prevenção e combate a incêndios
Espero não decepcionar muitos leitores, mas não vão encontrar aqui um resumo das técnicas de prevenção e combate a incêndios nem tão pouco as novidades sobre tecnologias relacionadas ao assunto. Focando na proposta deste veículo de comunicação, pretendo dar ênfase a “opiniões” sobre aspectos relacionados ao assunto, especialmente aqueles não geralmente abordados.
 
Para começar, muito se tem falado a respeito de mudanças climáticas e seus efeitos sobre os incêndios florestais. Assim, gostaria de acrescentar aqui uma outra mudança, que tenho percebido ao longo de cerca de quatro décadas de atuação no setor florestal: a mudança da sociedade. Enquanto a primeira mudança determina o risco, as duas juntas determinam a probabilidade de uma ocorrência de incêndio. 

O fato de o risco aumentar (mudança climática) não determina por si só a elevação das ocorrências de incêndios, a não ser em casos mais raros onde o componente humano não tenha influência, como por exemplo, uma descarga atmosferica, que faz parte do clima. Enquanto a primeira é difícil de reverter e, se possível, só a longo prazo, melhorar a tendência da segunda está bem mais próxima de cada cidadão.

No sistema de prevenção e combate a incêndios, é importante compreender e identificar o risco e a probabilidade da ocorrência de incêndios, para usar essas duas informações diferentes no planejamento de ações de prevenção, estratégias de detecção, acionamento e combate.

A gestão da eficácia do sistema de prevenção e combate também deveria levar em consideração essas duas informações. Uma melhoria de desempenho real do sistema precisaria ser observada a partir de uma análise crítica de planejamento, estratégia e ações do sistema de incêndios, juntamente com o levantamento do número de ocorrências de sinistros, ou área queimada, dentro de uma mesma classe de probabilidade, que, por sua vez, é resultante de condição de risco e gatilhos existentes para o início dos incêndios. 
 
As cidades e estradas cada vez mais movimentadas e próximas às florestas e culturas agrícolas, os conflitos sociais, as mudanças no nível de educação e nos valores das pessoas, como ética, condição econômica e muitos outros fatores, fazem parte da mudança da sociedade. 
 
Uma mudança social certamente pode caminhar mais rapidamente e se tornar mais determinante na ocorrência de focos de incêndios florestais, do que as mudanças climáticas que estamos experimentando.

A educação, por exemplo, característica de uma sociedade, normalmente é considerada com o primeiro pilar da prevenção dos incêndios. No entanto, alguns pensadores e filósofos defendem que um resultado mais efetivo na conservação do meio ambiente só será efetivo se a educação atingir um nível mais profundo dentro dos indivíduos. Não basta as pessoas serem informadas. Afinal, as pessoas que provocam os incêndios, direta ou indiretamente, não sabem que eles são prejudiciais ao meio ambiente e à saúde, à segurança e ao patrimônio das pessoas?

Neste ponto, mais um desafio para quem lida com a educação: como mudar a percepção das pessoas para que, além de saberem, sintam que, fazendo mal ao meio ambiente, estão fazendo mal a si mesmas? Isso é uma mudança de percepção, algo mais profundo do que simplesmente saber. Costumo fazer uma analogia para explicar essa diferença: embora saibamos que algumas culturas consideram a vaca uma divindade, isso não nos faz sentir e perceber a vaca da mesma maneira.

Essa mudança profunda na educação também não ocorre a curto prazo. Mas nunca vai ocorrer, se não começarmos a promovê-la. Evitar incêndios acontece em camadas, se uma falha, compromete a camada posterior:
1. prevenção 
2. detecção 
3. acionamento 
4. combate

Se a prevenção falha, sobrecarrega a detecção e assim por diante. E esse efeito ocorre também dentro de cada uma dessas quatro fases. Por exemplo, separando algumas camadas da prevenção:
• educação 
• punição  
• treinamento 
• manejo preventivo (aceiros, eliminação de sub-bosque etc.)

Se a educação falha, sobrecarrega a fase de punição, e se as duas falham, aumenta a necessidade de ações de manejo preventivo. Também ocorre dentro do combate:
• mobilização 
• deslocamento 
• combate 
• rescaldo

A falha na etapa anterior sobrecarrega as posteriores, inclusive no caso de combate e rescaldo. Se o combate é mais efetivo, por exemplo, usando supressantes/retardantes de chama, minimiza-se a reignição, que, por sua vez, facilita o rescaldo.

Estabelecer um sistema de alto desempenho de prevenção e combate, parte da identificação de como tornar cada camada mais eficaz, priorizando as primeiras e aquelas que são um gargalo para barrar os eventos que levam aos danos causados pelos incêndios.

Nas condições adversas do clima e sociedade, as falhas são compreensíveis, mas a superação é uma necessidade.