Diretor Administrativo da Braslumber
Op-CP-10
Lembro-me, quase que poeticamente, das antigas serrarias, localizadas em meio a florestas nativas, desprovidas de qualquer infra-estrutura, estradas precárias, sem energia ou qualquer serviço público de saúde, comunicação, assistência, ou qualquer outra necessidade. Apenas o padre, uma vez por mês, aparecia para celebrar a missa, na maioria das vezes, na própria serraria.
Esta era a realidade da história da grande maioria das madeireiras, espalhadas por todo o sul do Brasil. Mas, mesmo desta forma mais rústica, estas madeireiras deram origem a inúmeras vilas e povoados que, em alguns casos, se transformaram em pujantes cidades. Já representavam, então, pequenos micropólos de desenvolvimento, com seu armazém, sua pensãozinha, enfim, um mínimo necessário para subsistir.
Os tempos foram mudando de uma forma gradual e as florestas plantadas começaram a ocupar espaço. Fruto destes plantios, foram surgindo pólos, no planalto catarinense, em torno de Telêmaco Borba, na região de Jaguariaíva - mais recentemente em Caçador, norte de Santa Catarina, sul do Paraná. Passar pela BR 116, em torno de Lages, já há mais de 20 anos, trazia uma sensação de limpeza na alma e na consciência, da antiga indústria madeireira.
Começava, naquele tempo, talvez, de uma forma nem tão planejada, um novo conceito. As velhas serrarias começavam sua longa e, por vezes, dolorosa transformação, em indústrias madeireiras. A velha floresta de Araucária de 70/80 cm, ou até mesmo mais de 1 metro de diâmetro, dava lugar a toras de 15/18/20 cm.
Novas espécies, novos produtos, novos equipamentos, novas tecnologias, enfim, nascia, no final dos anos 80, uma nova indústria, voltada para as espécies largamente plantadas naqueles pólos, além de outros menores, mas não menos importantes, que foram surgindo nestes últimos 20 anos. O crescimento e a maturação destas florestas deram origem a árvores de maior porte, gerando uma matéria-prima adequada para a produção de madeiras serradas, cercas, molduras, compensados, fabricação de móveis e estas, por sua vez, pela característica diamétrica e pelo alto grau de industrialização, passaram a gerar um volume de subprodutos impensável nos velhos tempos da araucária.
Cavacos secos e verdes, serragem, maravalha (cepilho), pó, enfim, a necessária industrialização levou a tradicional indústria madeireira a ser uma grande fornecedora de matéria-prima para fabricação de papel, celulose, MDF, aglomerado, substrato vegetal, o briquete e, mais recentemente, o pel-lets, como nobre alternativa energética, na substituição de combustíveis fósseis, notadamente no primeiro mundo.
Nascia assim, o moderno conceito do cluster floresta-indústria, em uma complementariedade revestida de uma diversidade de produtos e oportunidades de emprego. Algumas destas indústrias são de capital intenso e outras de mão-de-obra intensa, trazendo também esta complementariedade não só no âmbito econômico, mas também, principalmente, no âmbito social.
Ao contrário do que propagavam os mais radicais adversários das florestas plantadas, em amplas áreas de terra, hoje, com os projetos de fomento florestal desenvolvidos ao longo destes 20 anos, a floresta chegou à pequena propriedade, como um componente de renda e formador de riqueza, que aquele dono de terra jamais pensou usufruir naquele “canto acidentado” de sua pequena fazendinha, constituindo-se não só em um fixador do homem no campo, mas também na razão do seu enriquecimento.
Na indústria, este processo não foi diferente. Dando oportunidade para a criação de empregos, em sua grande maioria, para pessoas de baixa escolaridade e pouca formação profissional, junto às áreas de floresta, funcionando como um grande fixador e gerador de riqueza na região. As empresas que se instalaram nestes entornos precisaram, e ainda precisam, investir pesadamente na qualificação profissional e mesmo na formação escolar destes quadros e que, por sua vez, se tornam consumidores em suas próprias cidades de origem, contribuindo, assim, para o enriquecimento de suas comunidades, sem se deslocarem para periferias das grandes cidades, tenuemente próximas da marginalidade socioeconômica.
É preciso que nossas autoridades governamentais, nossos órgãos ambientais, ONGs e parcelas pouco informadas da sociedade tenham esta visão de uma integração floresta-indústria, sem apego a velhos e surrados dogmas de latifundiários, posseiros, predadores da natureza e empregadores informais. Pelo contrário, nossa atividade floresta-indústria, hoje, é revestida de um caráter ecológico preservacionista, dos mais conservadores e rigorosos do planeta.
Temo, por vezes, que estejamos dando um tiro no próprio pé, quando vejo as extensões de florestas de pínus plantadas em todo Brasil terem dimensões muito próximas as do Chile e da Nova Zelândia, nossos principais concorrentes no mercado internacional. Vejo também, como grande alternativa, para evitar a exploração desmedida e conseqüente valorização da floresta tropical, o estímulo ao uso de madeiras provenientes destas florestas plantadas.
Grandes extensões de terra, ditas deserto verde, são plantios, que não passam de 50% a 60% de ocupação média de cada propriedade, enquanto, em alguns países do hemisfério sul, isto chega a 85%. Representam, hoje, menos de 6 milhões de hectares plantados de florestas, espalhados ao longo de todo o Brasil, enquanto as áreas de pastagens ocupam cerca de 200 milhões de hectares. A meu ver, pela relevância econômica (entre 5% e 6% do PIB, representando mais US$ 7 bilhões de exportações) e social (a fixação do homem no interior), o segmento floresta-indústria deveria ser tratado pelos governos e reconhecido pela sociedade como uma das prioridades socioeconômicas deste país.